Mães de Thalles, do Vasco, e de Leandrinho, do Botafogo, se encontram antes de final

Dona Elizete e dona Guiomar posam com a taça de campeão estadual
Dona Elizete e dona Guiomar posam com a taça de campeão estadual 
Bruno Marinho

Ser mãe é sorrir na vitória e chorar na derrota dos filhos como se fosse a própria. Guiomar e Elizete sabem bem o que é isso: não calçam chuteiras e, mesmo assim, é como se fossem entrar em campo no Maracanã. Neste domingo, a mãe de Thalles, do Vasco, e de Leandrinho, do Botafogo, têm somente o desejo de serem, através dos filhos, campeãs do Estadual.

Até porque toda história do garoto que sonha brilhar no futebol não é apenas dele. As esperanças e as frustrações vividas no caminho até o time profissional são confessadas no colo materno. Quando a decisão é a primeira na equipe principal, o coração bate mais forte ainda.

– Estamos muito nervosos com a primeira final do Leandro – confessa Maria Elizete Alves de Carvalho: – Mãe de jogador tem uma vida de lutas e expectativas.

Com o tempo, ela ficará calejada de emoções como a de hoje à tarde. Guiomar vive essa montanha-russa desde 2013, quando Thalles fez sua estreia entre os profissionais do Vasco. O que ainda é complicado é saber lidar com as críticas direcionadas ao filho, no calor das partidas.

– Uma vez, um homem xingou tanto o Thalles que me levantei e perguntei se havia festejado o gol que meu filho marcou no outro jogo – conta Guiomar Barbosa de Lima: – Fico nervosa, não tem jeito.

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………….. Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

O que as duas já sabem é que o Dia das Mães deste ano será diferente. Não terá almoço de domingo com o filho – e, talvez, nem jantar. A comemoração depende do resultado do clássico. Outra certeza é ainda mais cruel: somente uma sairá do Maracanã com a alma de campeã.

– Estamos juntas, como mães – afirma Elizete: – Não importa quem ganhe o Estadual, o mais importante é que nossos filhos sigam lutando na vida.

Triunfo para guinada de vascaíno

Não foi apenas Jorginho que conseguiu recuperar o futebol de Thalles este ano. Guiomar teve sua parcela de contribuição para a retomada do promissor atacante, depois da temporada de 2015 acima do peso e abaixo das expectativas.

É ela quem faz marcação individual no jogador de 20 anos para mantê-lo na dieta. Há outras tentações que também preocupam a mãe. O assédio feminino é grande sobre o centroavante, já pai de duas crianças. Depois de uma vitória ou de um gol, a recepção no condomínio onde mora em Niterói é digna de um astro, com muitos pedidos de fotos e autógrafos.

Isso acontece nos dias bons. Quando a volta para casa tem tom de melancolia, é a mãe quem tem de lidar muitas vezes com a frustração da promessa vascaína.

– Ele geralmente é um garoto tranquilo perto das partidas, mas se perde ou não entra em campo, fica bem revoltado – revela a mãe de Thalles: – Aí já viu, sai de baixo com ele.

No clássico de hoje, o garoto começará no banco de reservas. Ainda assim, não tem muito do que reclamar. De bem com a torcida e com a confiança da comissão técnica, atuou 14 vezes em 2016 e já marcou seis gols. O mais importante da vida pode sair hoje, no Maracanã.

– O título será o melhor presente do mundo para uma mãe – diz Guiomar.

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jx0605 – Thalles, do Vasco, posa com a mãe, Guiomar Foto: Divulgação

Convite do Botafogo salvou a carreira

Abrir mão de boa parte da infância e da adolescência em troca da carreira de jogador não foi fácil para Leandrinho. Nascido em uma família de classe média de Vila Isabel, o garoto titubeou. Por um tempo, deixou o sonho. Ainda bem, foi resgatado pela família e pelo Botafogo.

O começo no esporte foi precoce, com apenas 5 anos. Iniciou na escolinha do Vasco, passou pelo Fluminense e chegou ao Flamengo com 8. A cada categoria que avançava, era tido como uma promessa. Mas, prestes a completar 16 anos, quando poderia assinar seu primeiro contrato como profissional, Leandrinho cansou.

– A rotina de treinos e jogos acaba com as amizades, o jogador não pode ir às festinhas porque precisa acordar cedo no dia seguinte – ressalta Elizete.

Desmotivado, o garoto esmoreceu e acabou dispensado pelo clube rubro-negro. O pior, nem reclamou. Meses depois, recebeu o convite para treinar no Botafogo. Foi a guinada que precisava.

– Tudo isso que aconteceu foi bom para ele – frisa a mãe do alvinegro: – Costumamos dizer que a ida dele para o Botafogo foi a melhor coisa, foi onde ele se achou.

Elizete Carvalho com o filho Leandrinho, meia do Botafogo.

 

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