Literatura fantástica nacional está em alta, mas é desprezada por críticos, diz historiador

A literatura fantástica é um gênero que está em alta no Brasil.  A avaliação foi feita hoje  (6) à Agência Brasil pelo historiador, escritor e professor colaborador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ( PUC-Rio), João Alegria, curador do espaço Acampamento, na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

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Embora seja uma expressão “válida, criativa e profissional”, o historiador não entende por que os títulos de literatura fantástica, “principalmente os brasileiros”,  não costumam ser incluídos nas listas dos cadernos literários, das análises literárias e das leituras dos críticos nacionais. “Na realidade, são obras muito interessantes, que mereceriam uma resenha crítica”.

Alegria esclareceu que os autores brasileiros de obras fantásticas não são cópia de autores estrangeiros conhecidos no país.  A ambientação dos livros de André Vianco  tem por base o contexto social em que ele mora, que é a cidade de Osasco, na Grande São Paulo. Vianco  criou um grupo de vampiros que chegou ao Brasil na época da colonização. “Sua coleção de livros, iniciada com a obra  Os Sete,  já resultou em uma série de produtos, como histórias em quadrinhos”, disse João Alegria.

Outro autor, Leonel Caldela, do Rio Grande do Sul, escreve  livros de role-playing game (RPG – livros de jogos que descrevem um determinado universo de ficção, com características e regras próprias) e de literatura fantástica. A história de sua última obra,  O Código Élfico, se passa no Brasil e traz temas do mundo contemporâneo, como sectarismo religioso, grandes conglomerados globais de empresas e pesquisa genética. “É um livro que envolve muitas variantes da cultura contemporânea, tratados de maneira bastante segura e competente”.

Eduardo Spohr e Raphael Draccon  são outros nomes de destaque na literatura fantástica brasileira. “São autores interessantes cuja forma de escrever pode dialogar com outras tradições internacionais,  mas que falam muito do Brasil,  para lá ou para cá”, destacou o historiador e professor da PUC.

João Alegria observou que embora essa literatura fantástica seja bem-sucedida do ponto de vista do mercado, todos esses autores “tiveram que construir a sua obra suando a ferro e fogo. Não foi uma coisa de graça para nenhum deles”.  Alguns tiveram que bancar do próprio bolso a primeira edição dos livros.  “Não há certeza, entretanto, que essa é a melhor estratégia para se lançar na carreira de escritor”, advertiu.  “Geralmente, quem fez a edição paga entende que, naquele momento da história pessoal dele, essa era a única alternativa possível’.

Segundo informou João Alegria, hoje há menos dificuldade de as editoras quererem publicar literatura fantástica, devido ao sucesso comercial que o gênero mostra. “Antigamente, isso não era considerado literatura”. Quando procuradas por algum autor de obras fantásticas, as editoras em geral costumavam indicar que ele procurasse empresas especializadas na publicação de literatura religiosa ou de autoajuda.  “É falta de sensibilidade de não perceber um movimento literário”, avaliou.

Em relação aos leitores, Alegria disse que fazem distinção entre autores brasileiros e estrangeiros. O componente econômico, ou seja, o mercado,  é a explicação para isso e tem a ver com a capacidade de distribuição da produção e de fazer marketing (propaganda)  dos lançamentos.  Alguns escritores de livros fantásticos já estão em editoras de grande porte, mas outros são editados ainda por empresas pequenas, o que dificulta que suas obras entrem nas grandes redes de livrarias do país.

A vantagem em relação aos autores estrangeiros é que eles não estão todo dia trabalhando para si mesmos no Brasil. Já os escritores nacionais, segundo João Alegria, são “guerreiros” e organizam eventos, estabelecem relações com os leitores. “Esse é um diferencial grande para quem está no Brasil”. A tradução de livros de Raphael Draccon para o espanhol, com lançamento no México previsto para ocorrer após a Bienal do Rio, abre novas oportunidades para os demais escritores de livros fantásticos brasileiros, acredita Alegria.

Não dá, porém, para dizer que o autor de livros fantásticos pode viver de literatura no Brasil.  Para isso, ele deverá apresentar uma venda de 50 mil exemplares por ano, o que implica estar na lista dos dez livros mais vendido no país. “É raro um escritor que vende 50 mil exemplares no Brasil, o que obriga o autor a ter outras fontes de renda”, diz. (Agência Brasil)

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