O choque da ‘ginasta nota zero’

Ana Derek não concluiu a prova do salto e levou a pior nota da vida, enquanto realizava seu grande sonho: disputar uma Olimpíada

O 38º lugar geral no evento-teste realizado na mesma Arena da Barra, em abril, deu à croata Ana Derek a noção exata de que uma medalha na sua primeira participação em Olimpíadas era um sonho impossível. O que ela não imaginava era viver o pesadelo de uma nota zero, que praticamente a eliminou da competição logo de cara. “Primeiro eu fiquei chocada. Nunca tinha passado por isso em todos esses anos de ginástica”, desabafou a ginasta de 17 anos na saída da zona mista.

“Ohhhh”, reagiu o ginásio. A nota assustou também quem acompanhava a prova pela tevê. Ana correu, errou a passada e, em vez de tentar desistir do salto, acabou passando por cima do aparelho e, assim, não teve direito a uma segunda chance. Abaixou a cabeça e correu para os braços do treinador. Cabeça no peito dele, ficou lutando contra o choro que inundava seus olhos e dos que viam a cena em casa. “Fiquei realmente muito nervosa. Entrei aqui na arena, vi esse povo todo e senti a pressão. E logo no meu primeiro aparelho acabei errando”, disse: “No mundial ano passado (Escócia) e aqui mesmo, no evento teste ano passado, não tinha ficado tão nervosa. É inexplicável o que aconteceu hoje”.

Ana começou a fazer ginástica aos 5 anos de idade no GK Marjan, um clube da cidade de Split, na Croácia. Foi ganhando projeção nacional, mas nunca este entre as atletas de ponta no mundo. E daí?! “Acredite na beleza dos sonhos”, escreveu em sua página do Facebook. 

Acreditar é a palavra que define a bela moça de 1m64, olhos claros e sorriso fácil. Sim. Depois do choro do fracasso, Ana Derek respirou fundo. Seguiu completando seus exercícios. Foi mal na trave e bem (não brilhante) no solo, onde se despediu da Olimpíada. O ginásio a aplaudiu, enquanto ela nervosa esperava a nota final, ao menos para causar uma última boa impressão. Mordia os lábios, olhava pro placar, cruzava e descruzava os braços. “Ana é uma garota paciente”, brincou o locutor do ginásio. 

Mais um abraço no técnico e Derek vestiu a roupa. Acabou. Fez selfies com jornalistas de uma emissora croata, deu entrevistas e voltou a falar de cabeça erguida. “Não senti vergonha, porque atletas erram. Estou desapontada. Mas é minha primeira Olimpíada. Diga às meninas que choravam em casa junto comigo que eu estou bem…tentando ficar bem”, disse.

Não há dúvidas. E a mensagem da foto de capa de sua página no facebook, com uma acrobacia em frente ao monumento Rio-2016 na Vila dos Atletas, é emblemática sobre a personalidade da jovem musa croata: ‘Algumas pessoas querem que aconteça; outras desejam; e outras fazem acontecer’. Para a ginasta que se chocou com a nota zero, agora é voltar a treinar intensamente cinco, seis horas por dia: “Primeiro vou descansar, curtir um pouco a vila e as férias”, disse, enfim sorrindo, enquanto se despedia.

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