O jogo virou: Zico ajuda homem que o fez crescer e virar o rei do Flamengo
O norte-americano naturalizado brasileiro George Helal, que completou 85 anos no último dia 10, é uma das lendas vivas rubro-negras. Integrante da Frente Ampla pelo Flamengo (FAF), grupo político que levou Márcio Braga à presidência em 1976, ingressou nos bastidores da Gávea nos anos 60. Nesse período, garantiu ao clube o maior reforço de sua história. Em 1967, um jovem franzino e baixinho chegava de Quintino trazido pelo radialista Celso Garcia para fazer teste. Sua frágil constituição física causava desconfiança, e o paraguaio Modesto Bría queria dispensá-lo. Helal o bancou. Bancou não só isso, mas uma série de realizações ao Rubro-Negro que tanto ama. Tirou de si para dar ao Flamengo, e sua situação financeira hoje não mais é a mesma.
Seu Antunes, pai do garoto, disse ao dirigente que queria o filho na escola. Helal comprou a ideia e foi o responsável pela viabilização do Projeto Soma, programa idealizado pelo médico Serafim Borges, funcionário do clube até hoje. Tal trabalho de reforço muscular fez o menino ganhar 17 centímetros e muita massa. Trata-se de Zico, maior nome de todos os tempos do Flamengo. Para se dedicar a isso, o adolescente se desdobrava entre Quintino, Gávea, escola e academia. Helal custeava todo o transporte e alimentação do Galinho. Diante da dificuldade do amigo nos dias de hoje, o ídolo entrou em cena. Emprestou um apartamento que tem no Recreio a Helal, um dos seus quatro padrinhos de casamento e a quem trata como pai.
– Estou muito ao grato ao Zico, conheço o carinho que ele sempre teve por mim, pela Irene, minha primeira esposa e por todos nós. Éramos como uma família, e ele sempre foi muito ligado a nós, assim como o pai dele, a Dona Matilde, que tinha um coração muito grande. Muito obrigado, Zico, por me ajudar nessa minha necessidade. Não tenho segredo, não. Fico muito feliz pela espontaneidade dele. Me levou até lá na Estrada do Pontal, num lugar muito bonito. Moro lá muito feliz, com uma cuidadora me acompanhando, mas às vezes fico sozinho. Eu tenho idade, mas não fiquei velho (risos). Saio, vou para longe. Gosto de atividades, estou com uma saúde boa, tomo meu chopinho, no máximo dois (risos) – afirmou George Helal.
Presidente do clube entre 1983 e 1986, George Helal tornou-se comerciante de respeito no Saara, Centro do Rio, onde ficavam as casas Helal. Ganhou muito dinheiro e o injetou sem qualquer pudor no Flamengo, não somente no “Projeto Zico”, mas também em melhorias estruturais na Gávea e principalmente na compra do Ninho do Urubu, em 1984. O CT leva seu nome. Tanta dedicação financeira ao clube do coração o fez não estar no mesmo patamar financeiro de outras épocas. No Ninho, porém, ele afirma ter investido recursos do clube.
– O terreno foi comprado com dinheiro do clube. Eu que não me conformava com o Flamengo não ter um espaço para a base. Sempre fui um apaixonado pela base, onde todos que trabalham nela são abnegados, não aparecem na imprensa. O Ninho do Urubu era para ser exclusivo da base, eu não queria que tivesse um módulo para os profissionais, mas o trabalho está sendo muito bem feito. Estive lá há duas semanas, e o CT é uma coisa de chorar, estou muito feliz. Em 15 de novembro, o Eduardo Bandeira de Mello vai conclui-lo, e eu estarei lá. Temos 60 garotos morando lá, era para ser maior, porque no projeto original eu queria que a área atendesse a 200 garotos de 11 a 18 anos, mas está muito bonito. É um sonho que se realiza. Vamos ter seis campos, temos cobertura para o estacionamento, campo adequado para os goleiros – enumera, com a voz embargada.
Outras figuras da Gávea, como vice-presidente do clube, Maurício Gomes de Mattos; Márcio Braga, Walter Oaquim, Cláudio Pracownik, Jorge Rodrigues, Onurb Couto e Humberto Mota têm dado apoio a Helal.
Muitos dos que estão ajudando George Helal foram procurados pela reportagem, incluindo Zico, mas todos preferiram não se pronunciar a respeito. Evitaram sair como heróis pela força dada ao amigo, sobretudo o Galinho.
É importante frisar que os filhos George, Ronaldo, Glorinha, Cristiane e Michel buscaram uma solução e ofereceram uma casa para Helal, porém o “jovem” de 85 anos alegou precisar de privacidade.
No último dia 10, quando completou 85 anos, Helal foi muito festejado na Boca Maldita, área tradicional da Gávea que recebe sócios da Velha Guarda rubro-negra.
Confira abaixo um papo “cheio de saúde” com George Helal. Ele revela desejo de virar embaixador do Ninho, lembra de amigos e conta história de Zé Ricardo:
O que significa o CT para o senhor?
Sempre foi minha prioridade, é grande a minha paixão pela base, todos sabem. Estou como dirigente desde 1967. Sou o mais antigo grande benemérito ao lado do André Richer. O Jorge Rodrigues (que já ocupou diversos cargos no clube e foi candidato à presidência na eleição de 2012) fez uma estátua para mim. Eu falei: “Jorge, não faz, não. Estátua é para quem morre (risos)”. Houve uma reunião, houve a concordância do Bandeira, e eles puseram lá a estátua. O Márcio Braga deu meu nome ao CT em 1988 pela minha dedicação, eu não pedi nada, mas fiquei muito feliz.
O senhor disse que quer ser um embaixador do CT…
Eu gostaria de ter uma função para ficar no CT, receber as pessoas, mas eles ficam preocupados comigo. Eu estou com a saúde boa, muito feliz, faço a minhas coisas. Seria uma ocupação muito boa, moro perto e, de carro, chego no máximo em 30 minutos. Moro no final do Recreio. Gostaria de ser o embaixador do CT. Lá, eu sou muito querido. Quando chego, todo mundo pula em cima de mim. A Marluce, a Silvinha, de quem eu assinei a carteira e que é a melhor nutricionista. O Denir, o melhor massagista do Flamengo, é da minha época e está lá até hoje. Foi aniversário dele (na terça-feira). Tenho que ligar para ele!
Como é receber essa ajuda do Zico e de tantos amigos num momento difícil?
Estou muito feliz mesmo, o Flamengo está me agradando, as coisas estão indo no caminho certo. Me considero o dirigente mais querido pelos jogadores das antigas. Pergunte a Júnior Capacete, Leandro Peixe Frito, Julio Cesar Uri Geller, Adílio… O Andrade me ama. Consulte a todos eles.
Na gestão do Edmundo, eu tomei para mim a base, ao lado do Anderson Barros, que está no Vitória, e fizemos muitas coisas. Mudei o estilo de avaliação, eu vejo os sonhos na base, gosto muito. O Zé Ricardo era do futsal, aí o Anderson chegou em mim e disse: “Helal, tem um cara com quem eu gostaria que você conversasse”. Ele já tinha curso, era muito inteligente e muito educado.
Interrompe para falar da expulsão de Zé na derrota para o Corinthians, no primeiro turno
Naquela expulsão daquele careca – Heber Roberto Lopes -… (adjetiva o árbitro com um palavrão), contra o Corinthians, o Zé Ricardo não fala um palavrão. Foi uma estupidez, ele é muito educado.
E volta a falar da trajetória de Zé na Gávea
Perguntei a ele: “Quer vir pro campo?” Ele respondeu: “Eu adoraria”. Veio para o infantil, depois foi para a Itália, fez curso na Faetec. É muito bem preparado, temos que botar gente nova. Ser humano erra em escalação, eu pessoalmente dou pitaco, mas você sabe que tem que se respeitar um indivíduo como ele, que trabalha a todo instante. Você vê que até o Sheik não entrava e nem chiou. Acabou que fez o gol ontem – na quarta-feira – (risos).