Ghandi inicia greve de fome contra sistema eleitoral indiano
Em 16 de setembro de 1932, em uma cela da prisão de Yerovda, nos arredores de Mumbai, na Índia, Mohandas Karamchand Gandhi deu início a uma greve de fome para protestar contra a decisão do governo britânico de dividir o sistema eleitoral indiano em castas.
Líder na campanha indiana por um governo independente, Gandhi lutou a vida toda para difundir por todo o país e pelo mundo uma característica inconfundível de resistência passiva. Por volta de 1920, o conceito de Satyagraha (ou “insistência na verdade”) tornou Gandhi uma figura de enorme influência para milhões de seguidores.
Encarcerado pelo governo britânico de 1922 a 1924, ao sair da prisão retirou-se por um tempo da atividade política. Contudo, em 1930, retornou desencadeando uma nova campanha de desobediência civil. Isto o levou novamente à prisão, mas por pouco tempo. Diante de suas exigências, os britânicos acabaram por fazer algumas concessões, convidando-o inclusive a representar o Partido do Congresso Nacional numa mesa-redonda que aconteceria em Londres.
Após o regresso, em janeiro de 1932, Gandhi não perdeu tempo para dar início a outra campanha de desobediência civil, em virtude da qual foi novamente preso. Oito meses mais tarde, Gandhi anunciou que estava começando um “jejum até a morte”, a fim de protestar contra o apoio que os britânicos estavam dando a uma nova constituição indiana, que concedia às classes mais baixas – conhecidas como ‘intocáveis’ – uma representação política separada por um período de 70 anos. Gandhi acreditava que isso iria dividir a Índia em classes sociais demarcadas de maneira permanente e injusta. Membro da poderosa Vaisya, ou casta mercantil, Gandhi, ele mesmo, defendeu a emancipação dos “intocáveis”, a quem chamava de Harijans ou “Filhos de Deus”.
“Esta é uma oportunidade concedida por Deus que a mim chegou,” disse Gandhi da cela na prisão de Yerovda, “para oferecer minha própria vida como sacrifício final em favor dos oprimidos”. Apesar de outras personalidades públicas indianas – inclusive o dr. Bhimrao Ramji Ambdekar, representante político oficial dos “intocáveis” – terem questionado o verdadeiro compromisso de Gandhi com as classes mais baixas, os seis dias de jejum terminaram depois que o governo britânico aceitou os principais termos do acordo entre as castas indianas mais altas e os “intocáveis”, o que reverteu a decisão anterior de separação.
À medida que a Índia caminhava paulatinamente para a independência, o prestígio de Gandhi só crescia. Continuou valendo-se da greve de fome como método de resistência, tendo consciência de que o governo britânico não seria capaz de resistir às pressões populares de um povo que o chamava de Mahatma ou “Grande Alma”.
Em 12 de janeiro de 1948, Gandhi fez a última greve de fome bem-sucedida em Nova Deli, a fim de persuadir hindus e muçulmanos daquela cidade a lutarem pela paz entre eles.
Em 30 de janeiro daquele mesmo ano, menos de duas semanas depois de ter interrompido a greve de fome, foi assassinado por um hindu extremista quando ia para uma cerimônia religiosa.
Fonte: Ópera Mundi