Imagine ser o único sobrevivente de um dramático acidente aéreo. Foi o que aconteceu, 44 anos atrás, com Vesna Vulovic, uma aeromoça que escapou viva da explosão e da queda de um avião a 10 mil metros de altura.
Um acidente que até hoje é um mistério – e que acabou por transformá-la em uma militante política.
Vesna voltou ao noticiário após ser encontrada morta em sua casa em Belgrado, onde morava sozinha com três gatos, no último dia 23. Ela tinha 66 anos.
A causa da morte não foi divulgada.
Explosão no ar
No dia 26 de janeiro de 1972, Vulovic estava trabalhando a bordo de um DC-9 da companhia Yugoslav Airlines quando o avião explodiu sobre uma cadeia de montanhas da antiga Tchecoslováquia.
A aeromoça foi a única sobrevivente entre os 28 passageiros e tripulantes.
De acordo com as investigações, Vesna ficou presa por um carrinho de comida na parte de trás do avião, que se partiu no ar.
A cauda do DC-9 caiu em uma montanha coberta de árvores e neve que, segundo os peritos, amorteceram o impacto da queda.
Ela foi salva por Bruno Honke, um lenhador da aldeia de Srbská Kamenice, que ouviu seus gritos no escuro, em meio aos destroços do avião.
A primeira explicação para o acidente foi de que uma bomba teria sido colocada a bordo por nacionalistas da Croácia durante a escala em Copenhague, na Dinamarca.
No entanto, as caixas-pretas nunca apareceram – nada ficou provado e ninguém foi preso.
Versão fantasiosa?
Em 2009, os repórteres investigativos Peter Hornung e Pavel Theiner, de Praga, informaram que o avião teria sido confundido com uma aeronave inimiga e derrubado por um caça da Força Aérea tcheca.
Baseados em documentos secretos da autoridade de aviação civil da antiga Iugoslávia, os jornalistas acreditam que a polícia secreta tcheca criou a versão contada por Vesna para encobrir o erro dos militares.
A polícia secreta iugoslava também colaborou, segundo a tese dos jornalistas.
A história da aeromoça era tão boa, disseram Hornung e Theiner, que ninguém fez perguntas ou duvidou dela.
Depois de chegar no hospital, Vesna passou 10 dias em coma. Ela fraturou o crânio, duas vértebras, a pélvis, várias costelas e as duas pernas.
“Eu estava toda quebrada e os médicos juntaram meus pedaços de novo”, contou em entrevista de 2008 ao jornal americano The New York Times.
“Ninguém nunca imaginou que eu ia viver tanto”.
Recordista
A queda deu a Vesna Vulovic um lugar no Guinness World Records, o “Livro dos Recordes”, em 1985, como a sobrevivente da maior queda livre sem paraquedas.
A aeromoça ficou temporariamente paraplégica, mas depois que se recuperou plenamente voltou a trabalhar no balcão da Yugoslav Airlines.
Ela dizia que não se lembrava do acidente nem do resgate e continuou voando como passageira.
“As pessoas sempre queriam sentar perto de mim nos voos”, contou.
A incrível história transformou Vesna em celebridade na Sérvia, e ela aproveitou a fama para se tornar uma ativista política.
Em 1990, foi demitida pela empresa aérea por participar de protestos contra o então presidente Slobodan Milosevic, mas não chegou a ser presa. Nas duas décadas seguintes, continuou lutando contra o nacionalismo.
“Sou como um gato, tenho sete vidas,” afirmou ao New York Times. “Mas se as forças nacionalistas triunfarem neste país, vou ficar com o coração partido”.