Moradores e amigos se unem pela restauração do Largo 2 de Julho, em Juazeiro
Ação Popular (AP)
Moradores e e pessoas ilustres ligadas a cultura em Juazeiro se reuniram no Largo 2 de Julho, centro de Juazeiro, para pedir providências à Prefeitura Municipal pela revitalização do local que se encontra abandonado há vários anos.
Inaugurada em 20 de agosto de 1972 pelo então prefeito, Américo Tanuri, a praça só passou por reforma uma vez durante a administração do então prefeito Joseph Bandeira. “A Praça se encontra abandonada, cheia de buracos, frequento o local há anos, mas vejo que existe uma necessidade urgente de ser revitalizada”. Ele afirmou que figuras ilustres da música Popular Brasileira (MPB) passaram por ali. “Altemar, Dutra, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, o meu primo João Gilberto com Edésio Santos, e outros”, informou Luiz Bosco Ribeiro Rangel.
Outra pessoa que reside próximo a praça há 50 anos é a senhora Maria Esmeralda Figueiredo Guimarães. “Quando o comerciante Costeleta tinha o seu restaurante aqui no Largo por diversas vezes eu via cantores como Waldick Soriano, Altemar Dutra, Raimundo Nobre (Ratinho) frequentando, já durante durante a noite existia serestas com muitas pessoas bonitas. O local era excelente, mas hoje o que se vê é o desprezo com tudo acabado, está necessitando com urgência de reforma, só não está totalmente abandonada porque as pessoas ainda frequentam, não tenho mais palavra para descrever esta situação”, lamentou.
O morador Israel Brandão é outro preocupado com a situação do local. “O Largo 2 de Julho é como se fosse o meu lar. Aqui eu nasci e me criei. Sou filho de Arthur Luiz Brandão, assim como toda a minha família que morou aqui, que para mim é um orgulho, só que hoje não tenho tanta satisfação por conta do abandono, a importância do monumento que aqui foi dedicado aos heróis da Batalha de 2 de Julho, mas infelizmente, o que é passado é esquecido, porém ainda é tempo de recuperar fazendo a revitalização”, lamentou.
Ele ainda lembra de alguns momentos memoráveis do local. “Aqui existiu vários quiosques, funcionou a feira livre onde muitos comerciantes moravam, sendo que muitos deles nasceram dentro desses locais porque na época não existia assistência médica devida (…) Aqui foi a passagem do rio São Francisco, o porto funcionava na frente do Estádio Adauto Moraes, e as mercadoria era trazidas para cá e foi daí que surgiu a feirinha e logo depois o Largo 2 de Julho. No Mercado Municipal Joca de Souza, era uma lagoa, pesquei muito. Aqui próximo existiu o Mercado Municipal virado para o rio que foi demolido para dar lugar a uma Praça chamada Cordeiro de Miranda”.
Ele ainda lembra que no local foram produzidas cenas de dois filmes.”Lampião, Rei do Cangaço e Seara Vermelha quando aproveitaram imagens da feirinha como se as pessoas estivessem fugindo da saga de Lampião ou da seca, foram várias as cenas filmadas, inclusive de um menino todo cagado dentro de um cassuar amarrado no lombo de um jumento, como se a mãe estivesse escondido para fugir dos jagunços de Lampião no meio da caatinga chegando a praça com as pessoas correndo pra vê”, registrou.
A moradora Rosecler Araújo Bispo dos Santos reclama da falta do serviço de poda e da segurança. “É necessário uma reforma urgente. As copas das árvores ameaçando cair por cima das residências deixando nós moradores amedrontados inclusive em época de chuva quando a ventania é forte. Tem que se fazer um serviço de poda na parte de cima”. Ela ainda ressaltou sobre a falta de segurança.
“A violência está demais, é necessário que se coloque câmeras para identificar e prender as pessoas estão praticando roubos. Já houve casos recentes de arrombamento de padaria, auto-escola, lojas de sapatos, bijouterias, roupas e as residências. Nós moradores não podemos fazer nada porque eles agem armados e quando a policia chega eles desaparecem. Moro aqui há 30 anos, criei meus filhos e hoje ninguém tem mais condições de sentar na porta, aqui já houve até caso de homicídio, tiroteio nas esquinas.”
Rose aproveitou do momento para pedir providência sobre a rede de esgoto que estope constantemente. “O SAAE aparece, faz o serviço de maneira não adequada e quando é de dois a três dias depois tudo está entupido novamente espalhando dejetos pelas portas com mau cheio. Tem que fazer o serviço correto de limpeza da galeria, já passamos quase dois meses para que o SAAE viesse resolver o problema”.
Para a historiadora Maria Isabel Pontes, a popular Bebela, o Largo 2 de Julho tem um significado rico na história cultural do município. “Vejo hoje o Largo muito feio, todo descaracterizado com as árvores precisando de tratamento, este piso cheio de buracos. Aqui é um dos retratos do nosso antigo Juazeiro quando se realizavam festas, e tinha um outro aspecto, hoje acho muito feio. Temos a figura do índio que foi um trabalho do artista plástico Jota Mildes, que além de artista era compositor que fez a música ‘Lavadeiras do Angary’ junto com Edésio Santos. O trabalho que ele fez foi belíssimo, mas o pedestal está horrível, não é condizente com a beleza da escultura. Tem que se fazer uma requalificação desta praça com urgência porque isto é um patrimônio de Juazeiro, e já perdemos muito a exemplo do cais”, lamentou.
“Aqui existia a corrida de Argolinha e outras brincadeiras, São João, Quadrilhas, aqui se fez muitas histórias o que se vê hoje é que Juazeiro está perdendo sua identidade cultural. Eu confio na administração do novo prefeito Paulo Bomfim, eu sei que ele vai nos ouvir, e na Secretaria de Cultura tem uma pessoa que é minha amiga que é o Mauriçola. Espero que retorne as tradições populares como o Natal na praça, Ternos de Reis, Bumba meu boi, o carnaval que está descaracterizado, que o carnaval vá para a rua, não este carnaval em dó”. Ela exaltou ex-prefeitos que marcaram história na cidade. “Da minha infância foi Aprígio Duarte que fez Juazeiro, os outros desmancharam a beleza que ele construiu. A cidade era a coisa mais linda com praças organizadas, as platibandas, a falta de continuidade administrativa mata a cidade”.
A senhora Lucivalda Soares Lopes espera que providências urgentes sejam tomadas. “Nasci e vivi aqui na praça. Antes as coisas era organizadas, bonitas, hoje está acabada, esquecida.”
Por sua vez o coronel da Polícia Militar e diretor do CPM, Pedro Luiz Brandão Júnior lamenta o abandono. “Eu nasci aqui e venho acompanhando os acontecimento não só de Juazeiro como também da própria praça. As modificações foram poucas ao longo desse tempo, as árvores que aqui se encontram ajudamos a plantar, pois os serviços realizados aqui foram o minimo possível. O olhar dos gestores que passaram até então deixaram a desejar, inclusive pela importância que o Largo 2 de Julho tem para Juazeiro, a Bahia e o Brasil. Espero que as autoridades vejam com outros olhos e atendam os clamores não só de nós moradores como dos usuários”.
Outra pessoas que presenciou o desenvolvimento histórico da praça foi o senhor José Antistens Alves Mesquita. “Por volta de 1930 a 1940, foi aqui que meu pai Manoel Ramiro Mesquita começou a sua vida de comerciante com uma bodega. Quase todas as casas de comércio e residências era de taipa, e com isso os salitreiros vinham para a praça comercializar suas mercadorias em lombo de animais. O Vale do Salitre foi um dos principais centro de abastecimento de Juazeiro e região durante anos, tinha de tudo que a pessoa procurasse. Eu peço ao nosso gestor Paulo Bomfim revitalize a nossa praça, não deixe nestas condições”, clamou.
A organizadora do encontro com os moradores e folcloristas, professora Maria das Grotas Araujo Benvindo, a popular Grotinha, relata a importância da empreitada. “Restaurar a praça e trazer de volta parte da história de nosso município. O Largo 2 de Julho tem um grande significado cultural para o nosso município e precisa com urgência de atenção por parte do poder público municipal. Espero que o prefeito Paulo Bomfim atenda os clamores de todos nós para que possamos transformar este glorioso local em área de segurança e lazer”, concluiu.