PSB e associações militares: relação já foi amistosa no passado

ACS-PE e o governo Eduardo Campos tinham relação diferente da que é vista hoje entre entidade e governo Paulo Câmara

Paulo Câmara tem endurecido às negociações com associações de militares e diz que entidades desrespeitam hierarquia militar / Wagner Ramos/SEI

Paulo Câmara tem endurecido às negociações com associações de militares e diz que entidades desrespeitam hierarquia militar

Franco Benites

O governo Paulo Câmara (PSB) e as associações de militares, especialmente a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco (ACS-PE), estão em pé de guerra, mas a relação entre a entidade e o partido do governador nem sempre foi beligerante. Houve um tempo em que os socialistas e a ACS-PE se entendiam bem a ponto de um diretor da associação – Moisés Florêncio de Oliveira Júnior, mais conhecido como Soldado Moisés – se filiar ao PSB, inclusive tendo a ficha de filiação abonada pelo ex-governador Eduardo Campos.

Moisés é um dos fundadores da ACS-PE e esteve envolvido na greve da Polícia Militar de 1997, quando Pernambuco era governado por Miguel Arraes, então principal liderança do PSB. Lotado como soldado no 11º Batalhão da Polícia Militar, ele deu dor de cabeça a Arraes durante o movimento de paralisação dos policiais militares e repetiu a dose na greve da PM no ano 2000, quando o governador era Jarbas Vasconcelos (PMDB).

A atuação de Moisés pela ACS-PE durante a administração jarbista aproximou o soldado do PSB e de outros partidos de esquerda que faziam oposição a Jarbas Vasconcelos e lhe deu a visibilidade necessária para tentar um mandato eletivo.

Em 2002, filiado ao PL, uma das siglas da Frente Estadual de Esquerda, Moisés foi o segundo deputado estadual mais votado de Pernambuco com 58.297 votos, ficando atrás apenas do hoje vice-governador Raul Henry (PMDB), que obteve 117.471 votos.

Na Assembleia Legislativa, Moisés manteve a postura dos tempos da ACS-PE, com críticas ao governo Jarbas, sobretudo na área de Segurança Pública, e não demorou para estreitar a relação com o PSB. Em setembro 2005, o Jornal do Commercio registrou que ele assinou a ficha de filiação socialista na sede do partido com a presença de Eduardo Campos, que seria eleito governador no ano seguinte, e com direito a elogios a Miguel Arraes, a quem já tinha feito oposição.

No momento de filiação ao PSB, Moisés era um dos principais interlocutores da ACS-PE com os partidos de esquerda e de oposição a Jarbas Vasconcelos. Durante o ato, conforme registrou a reportagem JC em 2005, ele declarou, publicamente, que trabalharia para viabilizar a candidatura de Eduardo Campos ao governo estadual.

Ao oficializar o ingresso na legenda socialista, Moisés também comparou as greves da PM em 1997, com Arraes, e em 2000, com Jarbas. “Fomos anistiados (por Arraes) e não houve perseguição contra ninguém, o que é muito diferente do que aconteceu no atual governo (Jarbas), no qual até hoje os policiais são perseguidos”, declarou, à época.

Já no PSB, Moisés recebeu 27.365 votos em 2006 e não conseguiu se reeleger, mas voltou à Assembleia Legislativa como suplente de Sebastião Oliveira (PR), que foi chamado para ser secretário estadual de Transportes no governo Eduardo Campos.

A atuação parlamentar na base governista gerou problemas de relacionamento de Moisés com a ACS-PE ainda que ele continuasse como vice-coordenador da associação. O parlamentar chegou a ser chamado de “traidor” por parte da tropa.

Em 2010, ano em que Eduardo foi reeleito, o capital eleitoral de Moisés foi reduzido e ele não chegou nem perto de se reeleger com os 7.230 votos que recebeu. Em 2014, quando Paulo Câmara foi eleito, o ex-diretor da ACS-PE disputou novamente o posto de deputado estadual pelo PSB e recebeu apenas 564 votos.

JOGO FICARÁ MAIS DURO

De um lado, a Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco (ACS-PE) diz que briga com o governo estadual por melhorias salariais e de condições de trabalho para os praças. Do outro, a gestão Paulo Câmara (PSB) acusa a entidade de desrespeitar a hierarquia militar e colocar, em conluio com a oposição, os policiais contra o governo e a população.

O cabo de guerra entre os dois lados parece não ter fim e, para vencer o embate, os governistas resolveram jogar duro. No fim de janeiro, a gestão estadual apresentou ao Ministério Público de Pernambuco uma representação legal para pedir a dissolução da ACS-PE sob o argumento de que a entidade tem postura sindical e estimula a greve entre os policiais, o que é vedado pela Constituição Federal.

Essa atitude, no entanto, é só mais um capítulo da briga. No site da ACS-PE, os diretores pedem aos policiais militares que ajudem financeiramente a associação via depósito, transferência ou pagamento direto. Eles acusam o governo estadual de impedir o desconto da mensalidade diretamente em folha para gerar prejuízo financeiro à entidade e assim enfraquecê-la.

A tensão envolvendo o governo e a associação se acirrou após a ACS-PE estimular a operação padrão dos militares no final do ano passado. Como resposta, os governistas pediram a prisão do presidente da entidade, Alberisson Carlos, e de seu vice, Nadelson Leite.

Recentemente, em entrevista à TV JC, Paulo Câmara condenou a ACS-PE e também outras associações que reunem os militares. “Elas têm que trabalhar como associações. O que temos visto nos últimos momentos em que houve tentativa de greve foi o total desrepeito ao estado democrático de direito. Precisava mostrar claramente que quem comanda a polícia são os comandantes. Se houve falhas, se o Estado avançou mais do que deveria na questão da disciplina e hierarquia, a gente não pode repetir erros”, disse, numa prova de que será “tolerância zero” com as associações.

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