Em 1964 é publicada pela primeira vez tira de Mafalda, do argentino Quino
Mafalda foi uma tira escrita e desenhada pelo cartunista argentino Quino. As histórias, apresentando uma menina (Mafalda) preocupada com a humanidade e a paz mundial que se rebela com o estado atual do mundo, apareceram de 1964 a 1973 (a primeira em 28 de agosto), gozando de alta popularidade na América Latina e Europa. Mafalda foi muitas vezes comparada ao personagem Charlie Brown de Charles Schulz, principalmente pelo escritor italiano Umberto Eco. Segundo ele, as inquietudes manifestadas por Mafalda e seus amigos são de índole universal. Foi traduzida em mais de trinta idiomas.
Mafalda somente se tornou ‘cartoon’ de verdade por sugestão de Juián Delgado, à época editor-chefe do hebdomadário Primera Plana. Publicado em 29 de setembro de 1964 apresentava apenas Mafalda e seus pais.
Em 1962, Quino já trabalhava há uma década com humor gráfico, quando seu amigo Miguel Brascó, humorista e escritor, foi contatado pela “Agens Publicidad” para criar uma tira com historietas a fim de promover a marca de eletrodomésticos “Mansfield”. A tira funcionaria como publicidade encoberta em meios impressos. Brascó recordou que Quino lhe havia comentado “que tinha vontade de desenhar uma tira com crianças” e lhe sugeriu compor uma historieta que combinasse “Peanuts” com “Blodie”. A empresa pôs condição que na história aparecessem eletrodomésticos e os personagens começassem com “M”.
Quino esboçou tiras protagonizadas por uma família típica constituída por um casal de classe média com dois filhos: um menino e uma menina. O nome Mafalda da menina foi tomado do filme Dar la Cara (1962), baseado no romance homónimo de David Viñas, em que há um bebê que tem esse nome, e pareceu muito sugestivo a Quino.
A historieta foi oferecida pela Agens ao jornal Clarín, porém o estratagema publicitário foi descoberto e a companha, deixada de lado. No entanto, Brascó publicou no suplemento humorístico “Gregório” três das tiras desenhadas para a campanha falida.
Em 1964, Delgado, diretor da revista Primera Plana, pede a Quino publicar nesse meio a Mafalda, já desvinculada propósitos publicitários. Quino desenha tiras em que só participam Mafalda e seus país. Com o tempo, foi agregando personagens, amigos de Mafalda – Felipe, Manolito, Susanita, Miguelito e Libertad – e seu irmãozinho Guille.
Mafalda representa a aspiração idealista e utópica de fazer um mundo melhor, malgrado o pessimismo e a preocupação pelas circunstâncias sócio-políticas que afetam permanentemente nosso planeta. Os comentários de Mafalda são espelho das inquietações do mundo dos anos 1960. Ela denuncia a maldade e a incompetência dos homens e a ingenuidade das soluções propostas para os problemas mundiais, como a fome e a guerra.
Entusiasta dos Beatles, do Pássaro Louco e das panquecas, detesta a sopa. Incomoda os adultos com seus questionamentos sobre o socialmente estabelecido e suas perguntas à condução política do mundo. Está convencida do progresso social da mulher. Imagina-se estudando idiomas e trabalhando como intérprete nas Nações Unidas para contribuir com a paz no mundo.
Ao começar a tira, Mafalda tinha quatro anos e no mês de março ingressa no jardim de infância. Nos dez anos do desenrolar da história chega ao terceiro ou quarto ano da escola primária.
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Praça Mafalda, em Buenos Aires, com os personagens da tirinha
Quanto aos demais personagens temos:
O pai de Mafalda e Guille: a tira não revela seu nome e sobrenome. Empregado típico de escritório, homem probo que trabalha como corretor de seguros. Preocupado em economizar, não compreende os avanços e desafios das novas gerações.
Raquel, a mãe de Mafalda e Guille é uma típica dona de casa de classe média dos anos 1960, ocupada unicamente com o seu lar. Não necessita muito para ser feliz e dá lições de humildade e sacrifício aos seus filhos, inquieta com as adversidades do mundo.
Felipe, amigo de Mafalda: está um ano à sua frente, mas sua personalidade é mais simples e ingênua. Sonhador, tímido, vive agoniado com suas tarefas escolares.
Manolito amigo de Mafalda: filho de um comerciante do bairro, representa as ideias capitalistas e conservadoras, além de construir uma caricatura de imigrante galego espanhol. É tosco, ambicioso e materialista.
Susanita, amiga de Mafalda: Até a chegada de Libertad, são as únicas mulheres do grupo. Linguaruda, briguenta e fofoqueira, nada que se passa na vizinhança que não esteja a par. Além do mais é racista, despreza os pobres, admira a oligarquia e é preocupada com a moda e a imagem.
Miguelito, amigo de Mafalda: mais sonhador que Felipe, costuma fazer perguntas complexas e absurdas sobre a realidade. É o mais inocente da turma e passa de etéreas reflexões – “como o tempo fará para dobrar as esquinas em relógios quadrados?” – a típicas queixas de crianças. Algo egoísta, é um fervoroso defensor de Benito Mussolini, inculcado por seu avô.
Guille é o irmão menor de Mafalda e o único personagem que cresce fisicamente ao longo das tiras. Apesar de sua inocência, aprecia Brigitte Bardot, é algo irreverente e gosta de sopa. Costuma provocar a ira e o nojo de sua irmã.
Libertad, amiga de Mafalda e último personagem a se juntar à turma. Baixinha, é motivo de gozação dos demais da turma. Tem personalidade, conversa com Mafalda sobre temas sociais e políticos. Concordam ideologicamente, todavia Mafalda é mais realista.
Fonte: Ópera Mundi