‘Guerra civil’ na Bahia com 9 mortes em menos de 24h

Durante todo o fim de semana, foram registrados 13 homicídios em Salvador e Região Metropolitana

Da Redação, com Thais Borges

Chega a nove o número de mortos na região de Cajazeiras entre a noite de sexta-feira (7) e a noite de sábado (8). Um ficou ferido em um dos atentados. Ainda na noite de sexta (7), dois policiais foram baleados em Cajazeiras 11 durante uma troca de tiros com traficantes. Os dois últimos crimes na região aconteceram na noite deste sábado.

Segundo informou a Polícia Militar, por volta das 23h44, policiais da 3ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Cajazeiras) foram chamados para atender uma ocorrência de homicídio na Rua Padre Luís Vitnei, em Cajazeiras V, onde encontraram o corpo de um homem que foi atingido por disparos de arma de fogo. O local foi isolado, e o Serviço de Investigação em Local de Crime (SILC) foi deslocado para a remoção do corpo e realização da perícia técnica. A vítima não foi identificada.

 

Na mesma hora, no Conjunto Habitacional Cajazerias 2, Jessivaldo Carlos Anunciação de Oliveira, 28 anos, foi morto dentro de um bar por quatro homens encapuzados que atiraram contra ele. De acordo com informações da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Cajazeiras), o crime aconteceu por volta das 23h, dentro de um estabelecimento localizado no  Conjunto Cajazeiras II, próximo ao Hospital Eládio Lasserre.

A polícia foi chamada para atender a ocorrência, mas ao chegar ao local a vítima já estava morta. A motivação e autoria do crime ainda estão sendo investigadas. Ninguém foi preso até o momento.

Durante todo o fim de semana, foram registrados 13 homicídios em Salvador e Região Metropolitana. Devido às muitas ocorrências de violência na região de Cajazeiras, o policiamento foi reforçado no local. De acordo com a Polícia Militar, tem sido feito radiopatrulhamento através de viaturas (carros e motos), além de rondas a pé, com abordagens a pessoas e veículos. A polícia apura a ligação entre os casos.

Cajazeiras liderou o ranking dos bairros com os primeiros mil homicídios do ano, de acordo com o especial Mil Vidas, publicado na semana passada pelo CORREIO desde 2011 sempre que o número de vítimas de mortes violentas em Salvador e Região Metropolitana chega a mil – em 2017 foi em 13 de junho.

Foram 30 assassinatos entre 1º de janeiro e 13 de junho contra 15 no especial Mil Vidas de 2016. Os dados são do boletim diário de homicídios da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), que considera Águas Claras um bairro distinto de Cajazeiras, embora estejam na mesma região.

Crimes

A primeira vítima, um homem que não foi identificado, foi morto às 23h35 de sexta, em Águas Claras. Segundo a Central de Polícia, ele foi encontrado na Avenida 2 de Julho, que liga Águas Claras a Cajazeiras. O homem foi baleado na cabeça e não foram encontradas testemunhas.

Pouco depois, já na madrugada de sábado, por volta da 0h50, Dorival Santos Cabé, 39 anos, foi assassinado por suspeitos que estavam a bordo de um Voyage prata. Ele foi morto em frente ao Condomínio Vivenda de Ipitanga, na Boca da Mata.

Já à 1h, a vítima foi o garçom Alan Carvalho Ferreira, 24. Ele estava trabalhando em um bar, em uma localidade conhecida como Rua Direta de Jaguaripe, quando quatro carros chegaram ao estabelecimento. Homens encapuzados desceram dos veículos. “Eram pelo menos quatro suspeitos em cada carro. Eles estavam armados com pistolas e já chegaram atirando”, contou o dono do bar, que preferiu não se identificar.

O proprietário do bar disse que o local estava cheio. Cerca de 30 pessoas ainda estavam por lá quando os encapuzados chegaram. “Eles mandaram todo mundo deitar no chão e virar a cabeça para baixo. Alan tinha abraçado um ‘coroa’, eles mandaram soltar, pegaram Alan e disseram que iam matar”. O garçom foi atingido ali mesmo, com tiros na cabeça e no peito.

O homem abraçado por Alan é conhecido como Zé Zito e, segundo parentes do garçom, ele era aposentado e dono de um bar que ficava próximo ao estabelecimento onde tudo aconteceu. Zé Zito, que é ex-companheiro da mãe de Alan, foi baleado pelos suspeitos na perna e no braço. “Depois, eles disseram para ele ir embora”, disse o dono do bar. O ferido foi levado ao Hospital Eládio Lassérre, em Cajazeiras, mas não foram divulgadas informações sobre o estado de saúde dele.

Irmãos

Já às 2h, quatro homens não identificados invadiram uma casa no Caminho 9, no setor B do Loteamento Jaguaripe, após o Mercado 20 de Março. De acordo com testemunhas, os suspeitos mataram dois irmãos – um deles identificado apenas como Ivan.

Às 6h40, o corpo de outro homem foi encontrado junto a uma lixeira, na Rua Ulisses Guimarães, em Águas Claras. Segundo a Central de Polícia, ele tinha marcas de arma de fogo no corpo.

Sem envolvimento

Segundo a família, o garçom Alan não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. “Ele não se envolvia com nada, nem mesmo usava nada”, disse o patrão do jovem e dono do bar. Alan trabalhava no estabelecimento há três anos. Antes disso, tinha trabalhado como pedreiro.

Após Alan ter sido morto, testemunhas contaram que os suspeitos saíram, já de seus carros, atirando de forma aleatória. “Quando eu recebi a notícia, saí correndo. Ainda consegui ouvir que eles estavam dando tiros pela rua”, disse a mulher de Alan, emocionada. Ela preferiu não dar o nome. Os dois estavam juntos há 11 anos. “Foi muito tiro que deram. Desde que chegaram, ouvi mais de cem disparos”, disse ela.

Um vizinho de Alan que estava sábado no Instituto Médico Legal disse que, após a morte do garçom, o grupo teria ido até a casa dos dois irmãos que também foram assassinados. “Eles acham que só porque mora em Jaguaripe é vagabundo. Ainda teve uns que disseram que era de facção, mas a gente sabe que não era facção”, desabafou.

Não foram divulgadas informações sobre o velório de Alan. A Polícia Civil apura a autoria e a motivação dos crimes. Até sábado, nenhuma prisão havia sido divulgada pela polícia.

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