Animais que enxergam no escuro intrigam cientistas

Mariposas têm capacidade de fazer o que nem humanos conseguem

Não é fácil imaginar como o mundo é visto pelos olhos de outra criatura. Com base em pesquisas, por muitos anos os cientistas acreditavam que os olhos da maioria dos animais só tinham capacidade para enxergar tons de cinza no escuro, como fazem os humanos.

Mas novos dados indicam que alguns animais podem ter a capacidade de enxergar cores mesmo na escuridão quase total.

A teoria faz sentido. A visão colorida é útil para achar comida, acasalar ou se proteger à noite. O problema é que as leis da natureza parecem ir de encontra a essa tese. No mundo animal, os olhos evoluíram para detectar fótons, pequenas partículas que compõem os raios de luz.

À noite, quando o sol se põe, há menos fótons e os olhos ficam sem o que ver. Enxergar cores é ainda mais difícil. Os olhos humanos possuem três receptores chamados cones, que combinam tons de vermelho, azul e verde para nos permitir ver todas as cores do arco-íris. Mas é preciso luz para que eles funcionem.

Falta de bastonetes fez lagarto criar cones sofisticados que vêem cores no escuro

Na ausência de luz, esses cones param de funcionar e entram em operação os bastonetes – que enxergam com menos luz mas não distinguem as cores.

Então como alguns animais conseguem ver cores no escuro? Em alguns casos, eles possuem pequenas modificações no seu aparelho visual que estendem suas possibilidades.

Adaptações

A primeira experiência do tipo foi feita com a mariposa-elefante, na Suécia, pela cientista Almut Kelber. As mariposas possuem “lentes” maiores em seus olhos, o que faz com que a luz viaje uma distância menor até seus receptores.

Assim, com pouca luz, elas conseguem detectar cores ultravioletas, o amarelo e o azul, mesmo na ausência quase completa de luz. Na experiência, as mariposas conseguiam achar flores de determinadas cores no escuro.

Dois anos depois, a mesmo pesquisadora identificou essa capacidade entre animais mais evoluídos – os lagartos Tarentola chazaliae. A experiência revelou que esses animais possuem uma capacidade mais apurada que os humanos de enxergar cores no escuro.

Como as mariposas, eles também possuem “lentes” maiores nos olhos, o que reduz a distância percorrida pela luz dentro do olho. Outra característica é que esses lagartos não possuem bastonetes, e com o tempo os seus cones evoluíram para conseguir enxergar no escuro. Como os cones são capazes de detectar cores, os lagartos conseguem isso mesmo com pouca luz.

Descoberta

Por esse mesmo motivo, cientistas sempre presumiram que todos os mamíferos não veem cores no escuro, já que todos possuem bastonetes. Mas a descoberta de lêmures noturnos desafiou essa teoria.

Em 2011, cientistas descobriram que o aie-aie, que vive no Madagascar, é capaz de ver azul quase ultravioleta mesmo na quase ausência de luzes. Em 2014, foram identificadas várias outras espécies de lêmures com capacidade de ver cores à noite.

Aie-aie, do Madagascar, é estudado até hoje devido à sua visão apurada

A pesquisadora Emma Teeling, da universidade irlandesa de Dublin, acredita que é preciso estudar todos os mamíferos noturnos, pois todos teriam capacidade de, potencialmente, enxergar cores no escuro.

O curioso para os cientistas é que – com exceção das mariposas – não existe uma resposta convincente para explicar a finalidade dessa capacidade de enxergar cores no escuro.

Uma pesquisa com lêmures sugere que a principal função da habilidade seria encontrar comida. Mas Huabin Zhao, da universidade chinesa de Wuhan, descarta essa hipótese.

“Enxergar cores não tem relação com a dieta de mamíferos. Alguns morcegos são daltônicos e outros veem cores.”

Os cientistas seguem pesquisando o tema. Em Durham, na Carolina do Norte, uma equipe se dedica exclusivamente aos aie-aie. Kelber está tentando entender como funciona a visão noturna de sapos, mas em um ano de pesquisas ela ainda não conseguiu evoluir nos estudos.

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