Desabafo da filha de Dr Celso

Prefeito Zé Filho e Dr Celso
07 de dezembro de 2017. Meu aniversário e também de longe o PIOR dia da minha vida. Hoje fui visitar meu pai no Presídio de Segurança Máxima de Serrinha…mas antes que vocês pensem que meu pai matou alguém, organizou uma rebelião, ou continuou comandando o tráfico de drogas de onde ele estava cumprindo pena…eu te digo: Ele é um homem que acorda antes das seis da manhã, trabalha até onze horas da noite, continua disponível final de semana, feriados…basta você chegar doente, pedir uma ajuda a ele ou até mesmo dizer “Dr. Celso, me ajude nessa cirurgia, eu não tenho dinheiro”. Sem problemas. Ele não se apega a isso.
Sou filha e tenho MUITO orgulho de dizer, sou filha de um homem SIMPLES, trabalhador, apaixonado pela profissão, que nunca negou um favor a ninguém por falta de dinheiro, sou filha de um médico com 30 anos de serviços prestados, agenda de cirurgia cheia e muitas vidas salvas, diariamente. Só que nesse dia, 07.12.2017, não foi esse homem que eu vi.
Visitando meu pai no presídio de segurança máxima de Serrinha, vi um homem fragilizado, que estava a 18 dias sem ver a luz do sol e nem tomar um ar fresco, trancado numa cela, sem sabonete pra tomar banho, bebendo água da torneira, magro, abatido, algemado, cabeça raspada e muuuito desesperado. Aquela cena eu jamais esquecerei. Ela atormenta minha memória e eu junto com meus irmãos e minha mãe ficamos passando ela o tempo todo na cabeça, os gestos abusivos, aquele homem tão alegre, agora cabisbaixo, choroso, doente, febril, com dores no corpo todo. Aquele homem tão ativo, “CONDENADO” a reclusão, sem ninguém pra conversar, sem poder receber um livro para ler, nem um remédio, nem um banho de sol.
Se você já teve a oportunidade de conhecer esse homem de perto, certamente já estará chocado com o que estou descrevendo. Existe justiça nesse País? Então me explica. Como um homem que tem residência fixa, arrimo de familia, sem antecedentes criminais, que trabalha a 500 km do local de onde supostamente ele praticava os crimes, sem risco de continuidade delitiva (já que por LIVRE e espontânea vontade, ou talvez sim..por um pouco de pressão da família, decidiu sair da política e se dedicar novamente ao que mais ama fazer: ser medico)…resumindo, com TODO direito de responder qualquer acusação em liberdade…é CONDENADO a reclusão num presídio de segurança máxima, conhecido como “presidio-castigo”, sem nem mesmo ter a oportunidade de uma audiência de custódia para se defender.
Ué…mas eu que sou advogada estudei que até que se prove o contrário,  todo mundo é presumivelmente  INOCENTE. Sim, na teoria, pois na prática aquele homem já foi condenado. Então alguém me explica cadê a Justiça nesse país? Ou será que devo acreditar quando me falam em Ditadura do Judiciário, Juízo de Exceção e etc.
Quem vai pagar a conta do impacto psicologico que ELE e toda a nossa família estamos passando? Quem vai pagar pela dor que estamos sentindo? Pela impotência diante da abusividade, do absurdo do que tá acontecendo? Quem vai pagar a conta das vidas não salvas por esse homem enquanto destroem a sua vida naquele lugar?
Mais uma noite eu e minha família dormiremos dopados para encarar mais um dia de luta, de papéis, expressões escritas como “líder de organização criminosa”, desembargadoras sem rosto, letras copiadas e coladas e burocracias para conseguir dar direito a ele para que tenha acesso um livro ou a um remédio. A injustiça é mais dura do que qualquer outra dor. Ela cicatriza e não tem volta.
“Não tem dó no peito
não tem jeito
não tem coração que esqueça
não tem ninguém que mereça
não tem pé não tem cabeça
não dá pé não é direito
não foi nada, eu não fiz nada disso
e você fez um bicho de sete cabeças“.
Por sua filha, Dandara Miranda Silva Sousa
(Extraído do Blog A Notícia do Vale)

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