Saques acima de R$ 50 mil e o ministro falastrão
Uirá Machado – Folha de S.Paulo
As duas notícias eram espantosas. Primeiro, publicou-se que uma nova regra para saques acima de R$ 50 mil passaria a valer nesta quarta-feira (27).
Mais tarde, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) ganhou a mancheteao afirmar que não é chantagem liberar recursos de bancos públicos em troca de votos favoráveis à reforma da Previdência.
Piscar os olhos de nada adiantava. O que se lia na primeira vez era mesmo o que estava escrito. Saques acima de R$ 50 mil? Trocar verba por voto não é chantagem? Exatamente.
No caso de Marun, o espanto está na sua desfaçatez, e não na conduta que procura defender. A compra de votos e o toma lá dá cá integram longa e infeliz tradição da política brasileira. A admissão da prática, por sua vez, é fato menos corriqueiro; só governos que não têm mais o que perder podem se permitir esse luxo.
Em relação às novas regras para retirada de dinheiro vivo, a surpresa é dupla. De um lado, fica-se sabendo que, até esta terça (26), apenas saques iguais ou superiores a R$ 100 mil passavam por maiores controles nas agências bancárias. De outro, e mais assombroso, descobre-se que existem pessoas capazes de sair do banco com tais quantias.
Num país em que, na média, a renda domiciliar per capita mensal fica pouco acima de R$ 1.000, regular saques superiores a R$ 50 mil parece coisa de outro mundo.
“Essas medidas contribuem para aprimorar as políticas oficiais de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro”, afirmou Adriano Volpini, da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em comunicado à imprensa. “Nos dias de hoje, com toda tecnologia existente, não justifica sair de uma agência bancária portando valores elevados.”
Faltou avisar a turma do bunker do Geddel. Quanto aos políticos procurados pelo Planalto para aprovar a reforma da Previdência, eles que não se preocupem: a ação do governo ocorrerá dentro dos canais oficiais.