Eleição já provoca baixas e obriga Temer a antecipar troca de ministros

Cristiane Brasil, filha de Roberto Jeferson, do PTB, assume o Ministério do Trabalho.

Reacomodação ocorre antes de tentativa de Governo votar reforma da Previdência

Temer no dia 21 de dezembro, no Itamaraty.
Temer no dia 21 de dezembro, no Itamaraty. ADRIANO MACHADO REUTERS

À revelia de Michel Temer, mais um ministro deixou seu cargo na Esplanada dos Ministérios. Marcos Pereira (PRB), que respondia pela pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, entregou sua carta de demissão nesta quarta-feira. É a quarta baixa em dois meses. Todas por conta das eleições de 2018. A saída força com que o presidente antecipe uma reforma ministerial, ainda que a conta gotas. As trocas estavam previstas para ocorrerem apenas em abril, mês limite para os candidatos a cargos eletivos se demitirem de suas funções comissionadas.

A saída de Marcos Pereira, do petebista Ronaldo Nogueira (Trabalho) e dos tucanos Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Bruno Araújo (Cidades) trazem uma hercúlea tarefa a Temer: reformar seu Governo a um mês e meio de se talvez sua última votar a sua reforma da Previdência. Ou seja, tem de articular para que as trocas ajudem a garantir os 308 votos necessários para a aprovação das mudanças nas aposentadorias. Tudo isso em um momento em que a saúde do presidente voltou a apresentar debilidades. Ele foi orientado pelos médicos a reduzir sua carga de trabalho e a passar a virada do ano em casa porque apresentou um quadro de infecção urinária.

Os ex-ministros do PSDB deixaram os cargos porque a legenda não definiu oficialmente se continua ou não no Governo Temer. Além disso, o partido tenta angariar apoio entre siglas do centrão, que hoje são a principal coluna de sustentação do Planalto, para a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência da República. Já os ex-deputados do PRB e do PTB deixam os cargos simplesmente porque querem se dedicar às suas campanhas eleitorais neste ano. Ambos concorrerão a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Um agrado para Roberto Jeferson

Dos quatro demissionários, três foram substituídos. Todos os substitutos são deputados federais que abriram mão de mão de disputarem a reeleição. Alexandre Baldy (PP-GO) assumiu o Ministério das Cidades e Carlos Marun (MDB-MS), a Secretaria de Governo. Nesta quarta-feira, quatro horas depois de receber a carta de demissão de Pereira, o presidente se reuniu com Roberto Jefferson, que cumpriu pena de prisão pelo mensalão que hoje preside o PTB. Do encontro, saiu a indicação da nova ministra do Trabalho, a deputada petebista Cristiane Brasil, filha de Jefferson. Sua posse deve ocorrer na próxima semana.

Desses três, apenas Baldy não enfrentou resistências desde que assumiu o cargo. Marun já se envolveu em um embate com governadores quando, em uma entrevista coletiva, condicionou a liberação de recursos ao apoio dos chefes de Executivos Estaduais à reforma da Previdência. Na terça-feira, foi denunciado à Comissão de Ética da Presidência da República onde poderá responder a um processo.

Cristiane Brasil, com o pai Roberto Jeferson ao fundo, na votação do impeachment na Câmara, em 2015.
Cristiane Brasil, com o pai Roberto Jeferson ao fundo, na votação do impeachment na Câmara, em 2015.ANTONIO AUGUSTO/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Já Cristiane Brasil não é unanimidade de seu partido. Três de quatro deputados do PTB ouvidos pela reportagem disseram que a indicação dela não teve o aval da bancada. “Nem sequer fomos consultados”, afirmou um parlamentar. Roberto Jefferson respondeu que seu partido é unido e, às lágrimas, explicou a um grupo de repórteres que o nome de sua filha não foi uma indicação sua: “Eu não indiquei. O nome dela surgiu!”. Antes de ela ser indicada, o deputado Pedro Fernandes (PTB-MA) tinha sido o escolhido pela sigla. Sua nomeação foi vetada por José Sarney (MDB), o ex-presidente da República que é um dos consultores de Temer e de um grupo político distinto de Fernandes no Maranhão.

Até abril, Temer ainda deverá trocar a metade da Esplanada dos Ministérios, afinal, 14 de seus 28 ministros tentarão a sorte nas urnas. Entre eles, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que se apresenta como potencial candidato à presidência da República e o da Educação, Mendonça Filho (DEM), que está sendo cotado concorrer como vice de Geraldo Alckmin. Os outros ministros que deverão disputar a reeleição ou uma vaga no Legislativo são: Helder Barbalho (Integração), Gilberto Kassab (Comunicações), os senadores Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Blairo Maggi (Agricultura), além dos deputados federais Raul Jungmann (Defesa), Maurício Quintella (Transportes), Osmar Terra (Desenvolvimento Social), Ricardo Barros (Saúde), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Sarney Filho (Meio Ambiente), Leonardo Picciani (Esportes) e Marx Beltrão (Turismo).

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