Acusados de crimes se apoiam em caciques no Ceará

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Lideranças políticas estaduais e nacionais dão apoio e legenda para pessoas citadas em casos de crime de mando. Uma análise das mortes de prefeitos e vereadores no período democrático mostra que acusados de assassinar adversários acabam recorrendo a alianças com grandes caciques para tentar contornar a repercussão negativa de um processo criminal e, assim, se manter na vida pública. O vale-tudo eleitoral inclui gravações de propagandas de rádio e TV, confecção de santinhos padronizados e até a presença de presidentes, governadores e senadores nos palanques montados nos grotões.

 

Em setembro do ano passado, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) gastou boa parte do tempo no estúdio para gravar propagandas de candidatos de seu partido. Sem filtro, Temer empostou a voz no socorro a Alexandre Gomes, que disputava a prefeitura de Acaraú, no litoral cearense, e representava um grupo envolvido no assassinato do ex-prefeito da cidade João Jaime Ferreira Gomes, crime que ocorreu em 1998. “Amigos de Acaraú, venho pedir apoio à candidatura de Alexandre Gomes e Edmundo, para prefeito e vice-prefeito. Aqui, em Brasília, trataremos com atenção os pleitos de Acaraú. Vote PMDB, vote 15”, afirmou, na ocasião, o vice-presidente, diante da câmera.

Alexandre é filho do deputado estadual Manoel Duca, o Duquinha, e sobrinho do deputado federal Aníbal Gomes, citados em inquérito policial como coautores do assassinato do primo João Jaime. Outro tio dele, Amadeu é único julgado e condenado pela Justiça pela morte do ex-prefeito. A Polícia Civil destacou que Aníbal queria usar em sua campanha pela reeleição de deputado federal uma verba de R$ 3 milhões enviada pelo Ministério dos Transportes para a dragagem de um porto do município. O prefeito não aceitou desviar a verba e foi morto pelo grupo.

Expulsos. Na época, a vítima e os acusados eram filiados ao PSDB. Expulsos do partido, Aníbal e Duquinha se abrigaram no PMDB. Eles conseguiram protelar o processo na Justiça ao mesmo tempo em que firmaram parceria com o ex-ministro Ciro Gomes e o atual governador do Ceará, Cid Gomes, hoje no PROS. Procurado pelo Estado, o governador não quis se pronunciar sobre o assunto. Atualmente, Amadeu cumpre prisão domiciliar.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) indeferiu a candidatura de Alexandre, por problemas na sua gestão de secretário de Finanças do governo do pai no município, em 2007. Com uma liminar, Alexandre continuou na disputa. Na condição de candidato sub judice, o “Menino Vaqueiro”, como era chamado pela propaganda política, recebeu apoio de Temer, de Ciro e Cid e do senador Eunício Oliveira (PMDB).

Alexandre ganhou a eleição com 16 mil votos, mil a mais que o rival Pedim do Creto (PT). No dia da diplomação, Duquinha tomou o lugar do juiz eleitoral e entregou ele mesmo o diploma de prefeito ao filho.

O senador Eunício Oliveira afirma que, quando entrou no PMDB, no final dos anos 1990, os irmãos Aníbal e Duquinha já estavam no partido. “Eles foram colocados pelo Mauro Benevides”, diz. “Aquilo (morte do prefeito Joãozinho) foi caso de família. Pelo que eu sei, só o Amadeuzinho foi condenado. Os nomes dos demais foram retirados do processo”, justifica o político cearense.

Arquivado. O processo contra Aníbal foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal no ano passado. Sobre a facilidade de famílias envolvidas em crimes conseguirem legenda para se candidatar, Eunício diz: “Sou defensor da Lei da Ficha Limpa. Eles não foram atingidos pela lei. Não vou defendê-los, mas não há nada contra eles. Boato não é fato.”

Em nota, a Vice-Presidência ressaltou que Michel Temer gravou depoimentos pedindo votos para todos os candidatos a prefeito do PMDB que solicitaram apoio em 2012. “Quando foi feita a gravação, o site do TSE não registrava acusação contra o candidato Alexandre Ferreira Gomes da Silveira”, destacou o comunicado. Duquinha foi eleito em 2010 para o sexto mandato na Assembleia Legislativa do Ceará. Aníbal exerce seu quarto mandato na Câmara dos Deputados.

Fonte: Estado de S. Paulo

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