Marina quer provar que não perdeu nem sua hora, nem sua vez
Ex-ministra se lança na corrida ao Planalto pela terceira vez com uma estrutura bem mais enxuta do que a de 2014
Marina Silva (Rio Branco, 1958) é a pessoa que mais perto chegou de encarnar de fato a terceira via na política brasileira, ao terminar em terceiro lugar nas duas últimas eleições presidenciais e quase romper a histórica polarização entre petistas e tucanos que domina o país há mais de duas décadas. Se ela conta para este pleito com o trunfo de preservar um consistente recall das outras vezes que concorreu ao Palácio do Planalto, a reduzida estrutura que a ex-ministra do Meio Ambiente terá à sua disposição neste ano será o principal desafio a superar. Com uma aliança que inclui apenas o Partido Verde, Marina terá, segundo o coordenador de infraestrutura da campanha Bazileu Margarido, apenas 30 segundos no horário gratuito de televisão e cerca de 5 milhões de reais do fundo eleitoral para gastar. Comparados aos recursos dos grandes partidos no Brasil, como MDB, PT e PSDB, são números quase franciscanos.
“A estratégia [para ganhar a eleição] é continuar sendo coerente. Vamos mobilizar os recursos que dispomos, mesmo sendo parcos”, afirmou Marina, pouco depois de ser oficializada candidata pela Rede, em Brasília. “Os grandes partidos decidiram que eles são os donos do fundo eleitoral e do tempo de tevê. A Rede e o PV vão se mobilizar e participar dos debates. A população é que vai suprir aquilo que está faltando”, concluiu.
A convenção nacional que chancelou a candidatura de Marina e de seu vice, Eduardo Jorge (PV), foi a primeira realizada pelo partido criado pela ex-ministra em 2015. O acordo eleitoral com o PV — sigla pela qual Marina concorreu ao Planalto pela primeira vez em 2010 — obrigou a agora candidata a se reaproximar de um antigo desafeto: o presidente da sigla, José Luiz Penna, que acompanhou o ato. Ela nega, no entanto, que a aliança tenha sido celebrada apenas para garantir mais de tempo de tevê. “Nossa aliança é programática, não é pragmática”, declarou a ex-ministra.
“Mas por que nós somos inviáveis? Por que nós não substituímos a população pelo Centrão? Por que não trocamos o futuros dos brasileiros por tempo de TV? Não quero mais que nosso país tenha líderes para liderar o atraso. Temos que disputar os avanços”, disse Marina, num discurso que, em tese, deveria ter eco num eleitorado descrente da política e bombardeado pelos escândalos de corrupção.
Líder ambientalista de reconhecimento internacional, Marina viveu seu momento político de maior projeção nas eleições de 2014 quando, depois da morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos num acidente aéreo, ela assumiu a cabeça de chapa da candidatura do PSB. Personagem conhecida na política brasileira, longe de escândalos de corrupção e com uma biografia repleta de momentos de superação, Marina passou a ter também os recursos de um partido de porte médio, que lhe garantiu exposição no horário eleitoral e estrutura para realizar a campanha. O resultado se refletiu nas pesquisas de opinião: ela disparou e, em determinado momento, esteve empatada tecnicamente com a então presidenta Dilma Rousseff, que liderou o primeiro turno e acabou vencendo as eleições.
O bom desempenho nas sondagens eleitorais naquele ano, no entanto, fez com que Marina se tornasse alvo tanto de Dilma quanto do senador Aécio Neves (PSDB), que passaram a criticá-la duramente. A ofensiva foi eficaz e o tucano acabou passando para o segundo turno, mas o capital político acumulado pela ex-ministra naquele pleito não foi nada desprezível: mais de 22 milhões de votos.
Quatro anos depois, Marina tem a meta de provar que não desperdiçou sua chance de virar presidente em 2014. Seu partido hoje só tem apenas dois deputados e um senador e teve desempenho fraco nas municipais de 2016. Agora, também conta com menos entusiasmo de um certo setor empresarial do que na última vez que concorreu. Apesar dos “recursos parcos”, como ela mesmo define, a ex-ministra do Meio Ambiente aparece em segundo lugar no último levantamento do Ibope, com 13% das intenções de voto (no cenário em que não é considerado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que ela herda parte de seus possíveis eleitores). Para Andrei Roman, da consultoria Atlas Político, um das vantagens de Marina é justamente a resiliência de parte de seu eleitorado, além da rejeição menor e o apelo que tem com vários segmentos da população – em especial das mulheres, o maior contingente de indecisos que pode ser decisivo nas urnas.
Partilha
O tema da reduzida estrutura partidária é ainda mais delicado para a Rede porque a sobrevivência do partido depende de uma votação que supere a cláusula de desempenho criada pelo Congresso Nacional. Se a sigla não fizer ao menos 1,5% dos votos da eleição para Câmara ou não eleger no mínimo nove deputados, ficará de fora da partilha de recursos do fundo de financiamento das eleições e da partilha do tempo de tevê, além de não receber uma estrutura mínima para o exercício de mandato. O sufocamento das pequenas siglas deve obrigar — segundo analistas — os parlamentares dos partidos que ficarem abaixo dessa linha a trocar de legenda.
O resultado disso é que metade do dinheiro do fundo eleitoral que a Rede tem direito para estas eleições será investido nas candidaturas locais para a Câmara Federal. A aposta do movimento liderado por Marina Silva é em nomes que possam ajudar a ultrapassar a cláusula de desempenho, como a ex-candidata a presidente Heloísa Helena e o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. Ambos estiveram presentes na convenção.