A violência calou a Justiça. O juiz da 1ª Vara Criminal de Bangu, Alexandre Abrahão, prestou depoimento por 2h30 ontem na Divisão de Homicídios (DH) no inquérito que investiga a invasão do fórum daquele bairro por traficantes armados, no dia 31, que resultou nas mortes de um menino de 8 anos e de um policial militar. Na saída, o magistrado se disse impedido de dar declarações sobre o caso: “Desculpe-me, mas não posso falar”.
Com dezenas de ameaças de morte por atuar numa região com forte influência de traficantes e milicianos — e considerada ‘um barril de pólvora’ por um dos quatro homens armados que protegem Abrahão —, o juiz está muito abalado com a morte de Kayo da Silva Costa, de 8 anos, e do sargento PM Alexandre Rodrigues de Oliveira.
Conforme O DIA mostrou no dia 1º, Abrahão era alvo dos criminosos que invadiram o Fórum de Bangu. Além de tentar resgatar comparsas presos, eles teriam a ordem do traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, de assassinar o magistrado.
Policiais da DH que investigam o crime contaram que o juiz considerou a invasão do fórum uma ‘ousadia inadmissível dos criminosos, que precisa ser esclarecida e os responsáveis punidos, sob pena de virar rotina de intimidação ao Judiciário’. “Ele descreve o episódio como um tapa na cara da sociedade”, contou um investigador.
O delegado titular da DH, Rivaldo Barbosa, que ouviu o juiz ontem, não quis antecipar nenhum detalhe do inquérito para não prejudicar as investigações. Imagens de câmeras do fórum que flagraram a ação estão sendo analisadas pelos investigadores e já há suspeitos identificados.
A sede do Bangu, onde Kayo jogava futsal, recebeu ontem amigos e parentes do garoto, que o homenagearam. Várias pessoas usavam camisas com foto e mensagens de apoio à família.
Críticas ao ‘paternalismo’
A invasão do Fórum de Bangu detonou uma crise no Judiciário, conforme O DIA mostrou ontem. A presidenta do Tribunal de Justiça, Leila Mariano, enviou um e-mail para juízes e desembargadores no qual critica um suposto ‘paternalismo’ dos magistrados em permitir que parentes dos detentos tenham contato com eles dentro das dependências do tribunal.
Em outro trecho, Leila afirma que defensores públicos, promotores e advogados precisam deixar de resistir ao controle de acesso às audiências e defendeu o uso mais frequente de videoconferências para ouvir detentos. Algumas observações de Leila foram criticadas.