Como a maioria das adolescentes, fiquei um pouco nervosa na hora de usar um absorvente interno pela primeira vez.
Eu tinha acabado de menstruar, pouco antes das férias de verão, e queria muito tomar um banho de piscina.
Sabia que era possível sentir um leve desconforto e talvez alguma dor para colocar o absorvente pela primeira vez. Foram algumas tentativas até eu conseguir, mas para meu alívio, não tive muitos problemas.
De acordo com as buscas que eu tinha feito na internet, conseguir inserir o absorvente era a parte mais difícil – então, no auge dos meus 16 anos, imaginei que retirar seria moleza.
Eu não podia estar mais errada. Pouco tempo depois, tive meu primeiro ataque de pânico após passar duas horas puxando desesperadamente a corda do absorvente em uma tentativa cada vez mais frenética de removê-lo.
Não fazia a menor ideia do que tinha dado errado e, ainda mais assustador, a internet também não.
“Puxe com mais força, não seja tímida”, alguém escreveu em um fórum de saúde online.
“Entra na banheira: o absorvente não está saturado o suficientemente, então o atrito é muito grande”, sugeria outra pessoa.
Mas, quanto mais eu puxava, mais dor eu sentia. A solução da banheira? Também não funcionou.
Só quando tive coragem de dar uma olhada no espelho que percebi porque o absorvente não estava se movendo. Meu coração parou quando vi um filete espesso e fibroso de tecido estendido na parte inferior do absorvente agora expandido.
Por que meu próprio corpo estava conspirando contra mim? Era só o que eu conseguia pensar quando minha mãe ,igualmente confusa, me levou ao hospital em pânico naquela noite. Poucas horas depois, na emergência, uma médica acabou conseguindo retirar o tampão, enquanto eu gritava de dor.
Descobrindo o problema
Ela me disse que aquele pedaço de tecido era simplesmente uma parte do meu hímen, que se desgastaria pouco a pouco quando eu começasse a fazer sexo. Mas a simples ideia de sentir aquele tipo de dor novamente – especialmente em uma situação que deveria ser prazerosa – me dava arrepios.
Insatisfeita com o diagnóstico, voltei à internet e descobri que poderia ter algo chamado hímen septado.
Eu saí de férias, mas evitei a piscina – não queria chegar perto de outro absorvente interno. Pelo menos eu tentei colocar o absorvente antes da viagem, porque se isso tivesse acontecido durante as férias, teria sido um pesadelo muito maior.
Duas semanas depois, fui ao consultório da minha médica e contei o que tinha descoberto online. Durante o exame, senti tanta dor que ela foi incapaz de confirmar se minhas suspeitas estavam corretas ou não. Mas, depois que expliquei o que havia acontecido com o absorvente, ela decidiu me encaminhar para um ginecologista.
Quando fui à consulta, cerca de um mês depois, estava apavorada com a possibilidade de que houvesse algo mais sério comigo. Mas, depois de um breve exame, o ginecologista confirmou imediatamente as minhas suspeitas. Nesse sentido, foi um alívio enorme.
Mas eu teria de ser submetida a uma cirurgia simples, chamada himenotomia, para remover a pele extra e impedir que a abertura vaginal fosse obstruída.
Preocupação com a vida sexual
Embora eu soubesse que a penetração não seria mais um problema físico, após a realização da cirurgia, ainda estava preocupada em como essa experiência poderia me afetar psicologicamente no longo prazo.
Como eu havia tido meu primeiro (e único) ataque de pânico em decorrência desta condição, estava com medo de associar sempre a penetração ao trauma daquela noite.
Naquele momento, eu já tinha contado para meu grupo de amigos na escola o que estava acontecendo, e eles realmente me apoiaram – especialmente quando precisei me ausentar alguns dias das aulas para fazer a operação.
Felizmente, a cirurgia foi um sucesso, e a recuperação física foi bem rápida. Mas leva mais tempo para a gente se recuperar emocionalmente. Até hoje, quase quatro anos depois, ainda não tive coragem de usar um absorvente interno de novo, mesmo sabendo que não vai ser um problema.
Atualmente, meu objetivo é compartilhar minha história para ajudar as mulheres a entenderem mais sobre os diferentes tipos de hímen.
O hímen, membrana que geralmente cobre parcialmente a abertura da vagina, costuma ter a forma de meia-lua, mas, como descobri da maneira mais difícil, nem sempre é o caso.
Minha membrana himenal tinha um filete extra de pele esticado no meio, criando duas pequenas aberturas, em vez de uma. É uma malformação congênita, o que significa que eu nasci com ela.
O hímen septado, como é o caso do meu, não é o único tipo de anormalidade que as mulheres podem apresentar. Os hímens também podem ser imperfurados, microperfurados ou cribriformes.
Ter o hímen imperfurado significa que a vagina está totalmente, em vez de parcialmente, coberta por um hímen intacto, diz a ginecologista Caroline Overton. Já o hímen microperfurado tem apenas uma pequena abertura, e o hímen cribriforme apresenta múltiplos orifícios pequenos.
Ter um hímen imperfurado “impossibilita a inserção do absorvente e a relação sexual”, acrescenta Overton, uma vez que a abertura da vagina está completamente bloqueada.
Mas com os outros três tipos de anormalidade do hímen, incluindo o tipo que eu tinha, o sexo pode ser possível, mas é provável que seja “muito doloroso”.
Esse tipo de problema “só pode ser detectado quando as mulheres decidem começar a usar absorventes internos”, explica Overton.
Como a dor durante a relação sexual pode ser um sintoma de várias outras condições, desde candidíase até falta de libido, muitas mulheres podem nem perceber que têm uma anormalidade no hímen.
Desconhecimento
Se você nunca ouviu falar dessas condições antes, saiba que não está sozinho.
Embora todos os quatro tipos sejam relativamente raros, o hímen imperfurado, que Overton acredita ser o mais comum deles, afeta entre uma em cada mil e uma em cada 10 mil mulheres. Isso significa que entre 3,2 mil e 32 mil mulheres no Reino Unido podem ter hímen imperfurado.
Há pouca informação disponível na internet sobre anormalidades do hímen, e elas certamente não foram incluídas nas minhas aulas de educação sexual na escola.
Desde que fiz a cirurgia, não tive mais problemas, mas falei com outras mulheres pela internet que não tiveram tanta sorte.
Gemma (nome fictício), que tem 30 e poucos anos, descobriu que tinha hímen microperfurado, em que há apenas um pequeno orifício, durante um exame ginecológico em 2003, quando o médico não conseguiu inserir sequer um cotonete.
“Foi embaraçoso”, diz Gemma.
“Fui criada para ‘me guardar’ para o casamento, e descobri que a espera havia adiado uma descoberta desagradável – eu precisava de uma cirurgia corretiva. Não contei a ninguém, apenas a uma amiga, por medo de ser ridicularizada. Não queria ninguém falando sobre algo tão profundamente íntimo e pessoal.”
Infelizmente para Gemma, a cirurgia não acabou com seus problemas, como aconteceu comigo. Em vez disso, ela desenvolveu vaginismo, condição em que a vagina sofre espasmos e se contrai diante da tentativa de penetração vaginal, tornando difícil ou impossível o uso de absorventes internos e o sexo com penetração.
Gemma acredita que um exame pós-operatório “excessivamente invasivo”, que a deixou “chorando e sangrando”, fez com que ela desenvolvesse a condição.
“O cérebro está subconscientemente protegendo o corpo da invasão”, de acordo com a terapeuta psicossexual e de relacionamentos Sarah Berry, do grupo The Vaginismus Network.
“O vaginismo pode acontecer quando o corpo passa por um trauma físico, mudança ou dor. Também pode ocorrer se a percepção de alguém sobre o próprio corpo, sexualidade ou qualquer outra coisa que possa afetar a vagina, mudar. Então, se alguém descobre que tem um hímen anormal ou perfurado, isso pode desencadear o vaginismo”.
Apesar de fazer tratamento, Gemma ainda luta com a condição.
“Para o bem ou para o mal, isso se tornou uma parte da minha vida. É um fato inevitável, convivo com vários graus de dor toda vez que pratico algum ato de intimidade física. Eu sei que não existe sexo ‘normal’ – mas minha dor parece me isolar porque decorre de uma anormalidade genital.”
Sangramento e complicações
Mas o vaginismo não é uma consequência inevitável para quem apresenta anomalias no hímen e, mesmo se alguém desenvolver a condição, o terapeuta sexual e de relacionamento Viv Howells observa que “responde muito bem à terapia”.
Além de ter ramificações psicológicas, a malformação do hímen pode levar a problemas físicos.
O hímen imperfurado, em que a abertura vaginal está completamente coberta, é mais perigoso, uma vez que não há saída para o sangue menstrual.
“O sangue se acumula na vagina, fazendo com que a vagina e o útero se dilatem à medida que se enchem de sangue”, diz Overton.
“Isso é chamado de hematocolpos. Não há sangramento visível, mas a mulher terá sintomas de dor no período menstrual. A vagina e o útero aumentados podem causar pressão na bexiga, causando frequência urinária e desconforto pélvico.”
E tentar corrigir a anormalidade por conta própria pode levar a “inflamação, cicatrizes, infecção, sangramento e cicatrizar (a pele) junto de novo”, adverte a ginecologista Naomi Crouch, que aconselha sempre consultar um médico.
Aprender mais sobre a vagina e suas variações me fez refletir sobre o pouco que sabemos a respeito de nossos próprios corpos.
Desde pequena, ouvia as pessoas dizerem que a virgindade era como uma flor, mas essa imagem é totalmente enganosa.
A virgindade nem sempre é tão simples, independentemente do sexo, e o hímen não é uma flor que se “abre” diante da penetração do pênis.
Em muitos casos, o hímen se estende para acomodar o pênis, em vez de se romper, e, de acordo com o NHS, sistema público de saúde do Reino Unido, algumas mulheres apresentam sangramento após fazer sexo com penetração pela primeira vez, enquanto outras não.
Crouch também derruba o mito de que o hímen só pode ser rompido durante a relação sexual – isso pode acontecer na prática de esportes, por exemplo – e que a ausência de hímen significa que houve sexo com penetração (isso tampouco é verdade).
Uma boa maneira de lidar com a ignorância da anatomia sexual feminina?
“Conheça sua própria vagina”, diz Viv Howells.
Se eu tivesse olhado mais de perto, talvez não tivesse ido parar na emergência naquela noite.