Rorion Gracie, o criador do UFC, diz que sentirá emoção especial nos 20 anos do evento, sábado que vem

No sábado, dia 16, Rorion Gracie será convidado de honra dos 20 anos do UFC, na edição 167, que terá como luta principal a disputa do cinturão dos meio-médios entre o campeão Georges St.Pierre e o desafiante Johny Hendricks. O criador do evento foi chamado pelo presidente da organização, Dana White, para ter lugar especial na festa, no MGM Grand, em Las Vegas. Em conversa com O GLOBO, Rorion admite que vai sentir uma emoção especial, mesmo que não acompanhe muitas lutas atualmente e esteja distante do UFC há anos.

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– Sinto orgulho. O fato de eu hoje não estar ligado ao evento não quer dizer que não fique satisfeito de tê-lo criado. São milhares de empregos gerados pelo evento. Vou ficar muito contente de ver o tamanho da festa, de ver a quantidade de gente que hoje em dia está empolgada com o UFC.

Rorion elogia a capacidade de marketing e o tino para os negócios que Dana demonstra. Ele relembra a comparação que fez recentemente numa conversa com o dirigente:

– Outro dia, almoçando com o Dana, comentei com ele: “A impressão que tenho é de que sou pai de uma criança, e você adotou o moleque, mandou o menino para Harvard, e hoje em dia ele manda em Wall Street”. A gente deu uma gargalhada, e ele falou: “É verdade, Rorion, eu não poderia ter feito sem você” – relata o criador, feliz com os rumos que a criatura tomou.

Feliz, sim, mas com as mesmas convicções de antes. Rorion criou o UFC como evento de competição entre as artes marciais. A finalidade, que ele assegura ter alcançado, era comprovar a superioridade do jiu-jítsu brasileiro sobre as demais lutas. Ele saiu logo do negócio, insatisfeito com mudanças nas regras que adequaram o evento às necessidades de transmissão na TV. As lutas, que não tinham tempo estipulado, passaram a ser divididas em rounds de cinco minutos. E o foco mudou da arte marcial para o atleta.

– Não vejo o Ultimate (Fighting Championship, UFC) regularmente mais. Porque se eu assistir a uma luta e o cara pegar outro num estrangulamento, aí bater o gongo e ele tiver que soltar, eu vou falar: “Espera aí, meu irmão, não me irrita”! Deixou de ser uma briga, como era antigamente, e passou a ser um espetáculo de entretenimento – critica. – Mas a ideia de mudar as regras era por uma questão que compreendo – reconhece.

Rorion explica:

– Para mim, o importante era a integridade da luta em si. Na minha concepção, entram duas pessoas no ringue, tranca-se o ringue e ninguém sai. Um ganha, outro perde, sem round e sem categoria de peso. Para os meus sócios, era um show de TV sobre luta. Eles tinham que planejar o evento para que coubesse num show de TV. Embora, com round de cinco minutos, mude todo o conceito da luta.

O UFC nasceu em novembro de 1993, e dois anos depois Rorion vendeu sua parte no negócio. Hoje o valor de mercado da marca é superior a R$ 4,5 bilhões. Ele não se arrepende de nada. Nem de ter vendido nem do momento que escolheu para isso.

– Na medida em que o Royce (Gracie, irmão de Rorion e campeão do UFC 1,2 e 4) foi ganhando, o jiu-jítsu foi se mostrando, comprovadamente, indiscutivelmente, a mais eficente arte marcial, e todo mundo começou a aprender, meu recado foi dado. Continuar no evento por uma questão exclusivamente financeira seria contra a minha fé, contra os meus princípios. Dinheiro sempre foi uma consequência do meu trabalho, não a razão do meu trabalho. Por isso, foi fácil eu me desligar. Porque eu não fiz a conta financeira do negócio – argumenta.

Fonte: O Globo

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