Alan Turing: Péssimas notas do boletim indicam que professores não suspeitavam que ele era um gênio
Literatura Inglesa: regular. Francês: prosa muito regular, com erros elementares. Ensaios: muito grandiloquente para suas habilidades. Matemática: melhor, mas sua capacidade é marcada pela desordem com que molda suas ideias no papel.
Este poderia muito bem ser o boletim de qualquer adolescente no mundo que pouco gosta de ir à escola e cujo talento – se é que o tem – reside em uma área muito distante da ciência e da cultura.
Mas pertence a uma das mentes mais brilhantes do século 20: Alan Turing, o cientista britânico considerado pai da ciência da computação e visionário da inteligência artificial, que conseguiu decifrar a linguagem secreta usada pelos nazistas, contribuindo assim para encurtar a Segunda Guerra Mundial.
Nesta segunda-feira (15/7), foi anunciado que Turing estará representado na nota de 50 libras esterlinas a partir de 2021.
‘Desleixado’
O boletim da escola de Sherborne, que o jovem Turing frequentou a partir dos 13 anos de idade, é um dos vários objetos pessoais que foram exibidos ao público pela primeira vez em 2018, em uma exposição no Fitzwilliam Museum, em Cambridge, no Reino Unido. Uma parte dos pertences de Turing pode ser vista neste site.
Seus professores diziam que, se o jovem planejava continuar seus estudos em um lugar prestigiado como a Universidade de Cambridge, ele deveria se esforçar mais e melhor em suas “ideias vagas”.
“Ele fez alguns bons trabalhos, mas geralmente os registra mal por escrito”, reclama seu professor de física.
Outros professores também falam da falta de estilo na apresentação de seus trabalhos e o professor de matemática deixa claro que acha que falta a Turing capacidade de escrever “uma solução clara e limpa”, “inteligível e legível”.
Isso é fundamental para “um matemático de primeira classe”, diz o texto.
O documento, datado de 1929, não dá indicação da lucidez, capacidade e visão que Turing apresentaria no futuro.
Anos mais tarde, Turing se formaria com honras nesta disciplina em Cambridge, onde estudou entre 1931 e 1934.
Códigos
Entre os outros objetos do arquivo pessoal do matemático há um livro de ciências – que tem um capítulo dedicado à decifração de códigos – que ele escolheu como prêmio escolar, em homenagem a seu amigo Christopher Morcom, estudante brilhante que morreu de tuberculose aos 18 anos de idade.
Acredita-se que Morcom foi seu primeiro amor.
Em 1952, o cientista britânico foi condenado a 61 anos de prisão por práticas homossexuais, considerado um crime no Reino Unido até 1967, e concordou em receber injeções de estrogênio para cancelar sua libido para evitar ser preso.
Turing morreu de envenenamento por cianeto aos 41 anos.
Embora os médicos forenses tenham determinado que foi um suicídio, sua família afirma que foi um acidente.
De acordo com sua mãe, ele acidentalmente se envenenou quando tentava banhar colheres de ouro.