Pizzolato se vale de norma que protegeu chefão da Máfia
ANÁLISE: Marcelo Godoy
Em vez de Cesare Battisti, o ex-militante da extrema esquerda italiana refugiado no Brasil, é o caso do chefão mafioso Antonino Salamone que representa um paralelo perfeito à situação do foragido Henrique Pizzolato. Conhecido como “Il Furbo (O Esperto)”, Salamone liderava a família de San Giuseppe Jato e pertencia à Comissão da Máfia – a cúpula da Cosa Nostra -, na qual era um dos responsáveis pelos contatos com o mundo político italiano.
Preso em 1993 em São Paulo pela Polícia Federal, ele foi solto pelo Supremo Tribunal Federal em razão de ter obtido nos anos 1970 a cidadania brasileira. Isso o salvou da extradição para Itália, onde o esperava o regime de cárcere duro.
Em 1996, o procurador italiano Gian Carlo Caselli veio a São Paulo interrogar Salamone. Ele apurava a ligação do senador Giulio Andreotti com a Máfia. Sete vezes primeiro-ministro e líder do maior partido da Itália no pós-guerra, a Democracia Cristã, Andreotti acabaria condenado – a pena prescreveu.
Caselli queria saber se Salamone confirmava as acusações dos mafiosos arrependidos Tommaso Buscetta e Francesco Marino Mannoia. Salamone disse não. Morreu em 1998 sem quebrar a lei do silêncio. Viveu aqui como construtor civil. Na Itália aguardavam-no mais de uma centena de acusações de assassinatos e de outros delitos mafiosos.
Já Battisti não é cidadão brasileiro. Condenado na Itália por dois homicídios, recebeu asilo no Brasil. Pizzolato não escolheu esse caminho. Ao fugir para a Itália, ele se valeu da dupla cidadania, a mesma norma que protegeu por anos o banqueiro Salvatore Cacciola e manteve impune o chefão Salamone.