Juiz pede proteção contra policia militar do terror na Bahia
Os policiais teriam uma empresa que cobra por segurança de lojas. O juiz que acompanha o caso pediu proteção ao Tribunal de Justiça
Acusados de promover invasões a residências, torturas e mortes, policiais militares lotados na 6ª Companhia Independente de Polícia Militar (6ª CIPM), de Rio Real, município na divisa com Sergipe, também têm contra si denúncias de outras práticas ilegais.
Segundo comerciantes ouvidos pelo CORREIO, pelo menos dois policiais da
6ª CIPM realizam segurança compulsória no comércio local. Segundo as denúncias, os policiais cobram R$ 30 de cada estabelecimento para garantir baixos índices de roubos e furtos, especialmente aos sábados, quando o comércio ferve e a feira de rua está cheia.
Comerciantes de Rio Real pargam R$ 30 por mês para ter segurança aos sábados, dia de maior movimento
“Me chegam muitas acusações de que uma espécie de milícia age no comércio extorquindo os comerciantes”, diz o juiz Josemar Dias.
Desde quinta-feira, uma série do CORREIO mostra que policiais militares da 6ª CIPM, sob comando do major Florisvaldo Ribeiro, são acusados de diversos crimes, entre eles tortura e homicídios, espalhando um clima de medo na cidade. Após a publicação da reportagem, uma sindicância foi instaurada pelo Comando-Geral da Polícia Militar. O major Ribeiro foi ouvido ontem na sede da Corregedoria da PM, em Salvador. O governador Jaques Wagner disse também, ontem, que vai “até o final” nas investigações (veja ao lado).
O juiz Josemar Dias esteve, ontem à tarde, na sede do Tribunal de Justiça (TJ), no CAB, onde foi ouvido numa reunião em que pediu reforço na sua segurança para poder trabalhar. O juiz já tirou de Rio Real a mulher e os filhos.
“O TJ queria saber da situação atual e me deu algumas orientações. Queriam saber se ligaram pra mim, se eu e minha família recebemos cartas de ameaças ou outro tipo de retaliação”, contou o juiz. “O TJ ouviu e decidirá a necessidade de escolta ou não”, complementou, explicando que desde o início de novembro, quando comunicou a situação via ofício, o TJ determinou uma proteção discreta.
Máxxima
A reportagem teve acesso a um questionário distribuído aos donos de comércios de Rio Real, em que eles são indagados sobre a qualidade do serviço de segurança prestado. No local para assinatura subscreve o sargento Roberto Cláudio F. Sampaio.
Questionário sobre avaliação de qualidade tem nome do 1º sargento Sampaio, lotado na 6 CIPM
No carnê de cobrança ao qual a reportagem também teve acesso está estampado o nome da empresa Máxxima Segurança Patrimonial, que teria sede em Alagoinhas. O carnê indica um valor de R$ 30 por mês a ser pago pelo serviço, que, de acordo com comerciantes se dá principalmente na Avenida ACM e na praça da cidade.
Consulta realizada ao Cadastro Nacional de Pessoa Júridica (CNPJ) indica que o número estampado no carnê é, de fato, da empresa com nome fantasia Máxxima Vigilância e Segurança Patrimonial. O nome empresarial é J de S Oliveira Vigilância e Segurança Patrimonial. Ainda de acordo com o cadastro, a empresa foi aberta em 27 de maio de 2011 e teve baixa um ano depois, em 28 de maio de 2012.
Operação
“Não chegam a extorquir usando violência, mas com certeza é uma forma de inibir. Ouvi de muitas pessoas que não queriam pagar, mas pagam com medo”, diz uma mulher que tem quatro parentes comerciantes.
Mas há quem se negue a pagar. “Eu tô fora disso aí. Chegaram aqui dizendo que iam dar segurança, e que a polícia vem mais rápido para quem paga o carnê. Ia ter que dar R$ 90 porque tenho três comércios. Tô fora disso aí”, contou um comerciante.
Há também quem elogie. “A segurança é boa, eles dão atenção. Não sabia que era ilegal”, diz a dona de uma loja.
Segundo informações da 6ª CIPM, que responde pela segurança de sete municípios, o sargento Sampaio é lotado na unidade, mas trabalha em Itapicuru e não foi localizado.
O CORREIO não conseguiu apurar quem seria o outro PM envolvido. Segundo os comerciantes, um homem conhecido como Popó, que não seria policial, ajuda na segurança e recolhe o dinheiro.
Governador diz que vai até o final das investigações
O governador Jaques Wagner afirmou, ontem, durante inauguração da fábrica da cervejaria Itaipava, em Alagoinhas, que não vai “conviver com grupo de extermínio” e que vai até o final nas investigações sobre Rio Real.
“Pode estar seguro que qualquer tangenciamento com processo de extorsão, crime de mando ou grupo de extermínio, nós vamos até o final”, disse. “Não quero nem saber quem é. Já fiz vários contatos com a Casa Militar, com a Secretaria da Segurança Pública e a investigação está sendo feita. Só não posso linchar a pessoa por conta de denúncia”, ponderou.
O corregedor-adjunto da PM, Manoel Amâncio, vai neste sábado (23) a Rio Real para ouvir envolvidos. Segundo o comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, até segunda-feira (25) uma decisão será tomada com relação ao major Florisvaldo Ribeiro.
Informações extraídas do Correio da Bahia