Milícia e tráfico cobram taxas de golpistas que fraudam cartões de transporte no Rio

O material apreendido pela polícia na operação
O material apreendido pela polícia na operação Foto: Divulgação
Carolina Heringer

Traficantes e milicianos cobram uma espécie de “pedágio” para que golpistas especializados em fraudes aos cartões Rio Card e Bilhete Único atuem em áreas sob seus domínios. A descoberta foi feita em investigação da 12ª DP (Copacabana) que prendeu 10 pessoas na última segunda-feira. Um novo inquérito foi aberto para apurar quem são os criminosos que fazem a exigência desses valores. Os estelionatários investigados atuam em diversas áreas do Rio, como Centro, Leopoldina, Botafogo, Bangu e Campo Grande.

A estimativa é de que as quadrilhas movimentem cerca de R$ 500 mil por mês apenas na capital. Os integrantes das organizações criminosas agem grande parte do tempo nas ruas — em pontos de ônibus e estações ferroviárias —, vendendo os bilhetes fraudados para passageiros.

De acordo com a delegada-assistente da 12ª DP, Talita Carvalho, a atuação dos grupos nas áreas acaba intimidando pessoas que poderiam denunciar as irregularidades.

– Não temos informações de que esses criminosos (milicianos e traficantes) de fato intimidavam as pessoas, como por exemplo funcionários das empresas de transporte. Mas é fato que eles se sentiam intimidados porque sabiam que se havia exploração daquela atividade ilícita ali, é porque havia autorização e pagamento de taxas. E, por isso, sabiam que poderiam sofrer alguma retaliação — explica.

A delegada ressalta que em alguns locais, os golpistas atuavam mesmo com a venda oficial em bilheterias. Procurada, a Fetranspor informou que “mantém um controle rigoroso do sistema de bilhetagem eletrônica, que identifica movimentações consideradas fora do padrão de uso, levando ao bloqueio imediato dos cartões e a notificação de seus usuários”.

Segundo a polícia, os criminosos atuavam de duas formas: eles “quebravam” a chave de segurança dos cartões por aplicativos de celular e outros softwares, para posteriormente replicarem os créditos em outros cartões e venderem as passagens, de forma avulsa, por valor abaixo da tarifa; e também faziam o chamado “bola-bola”, venda avulsa das passagens da integração dentro do período da gratuidade.

Na primeira investigação, a polícia mirou em três quadrilhas responsáveis por fraudar e revender os cartões. Das 10 pessoas presas, seis eram da mesma família da Baixada Fluminense— um casal, uma filha e três filhos. A polícia possui indícios de que o patriarca, que comandava a uma das organizações criminosas, já cometia esse tipo de golpe há cerca de cinco anos.

Em 2015, ele foi preso com diversos cartões Rio Card e Bilhete Único. A filha dele é apontada pela polícia como seu braço-direito e gerente do grupo. O marido dessa filha, genro do patriarca, também é acusado de fazer parte da quadrilha e foi preso.

De acordo com as investigações, diversas quadrilhas atuam nesse tipo de fraude e cada uma respeita a área de atuação da outra. E apesar de serem grupos distintos, há cooperação entre elas. Há, também, casos de integrantes que “ascendem” no crime. A chefe de outro grupo investigado começou como vendedora dos cartões fraudados em outra quadrilha e acabou criando sua própria rede de contatos.

– Não são simples associações que se reúnem para cometerem um crime. São organizações criminosas mesmo, com tarefas muito bem definidas – pontua a delegada Talita Carvalho.

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