Refinaria privatizada e estaleiro falido

Por Tonico Magalhães*

Tivemos mais. Hoje muito menos. Em 16 anos de governos do PT – Michel Temer foi vice de Dilma Rousseff – foi se esvaindo a pujança artificial montada no Complexo Industrial Portuário de Suape da refinaria de petróleo Abreu e Lima que deu suporte à corrupção na Petrobrás e do Estaleiro Atlântico Sul, vítima da grande e fraudulenta contratadora de construção de navios, a estatal Sete Brasil.

A refinaria de Suape já se despede do setor público, entrando na lista de privatizações da Petrobrás que decidiu pelo fim do monopólio do refino e para se livrar dos encargos financeiros causados pela drenagem ilegal dos investimentos de uma planta que sequer foi concluída. Calculada para sua construção em 2,4 bilhões de dólares, custou até agora 20 bilhões de dólares e foi sede de um dos núcleos da corrupção sistêmica do PT.

A instalação de uma refinaria de petróleo no Estado mobilizou pernambucanos desde os anos 60, quando surgiu o primeiro estudo do economista Paulo Silveira durante o governo Paulo Guerra. Em 1970, a ideia foi levada ao então presidente da Petrobrás, Ernesto Geisel, que rechaçou a iniciativa grosseiramente: “Pernambuco é um estado sem futuro por não ter um porto industrial”.

Nesta mesma década o então governador Eraldo Gueiros lançou a pedra fundamental de Suape. Todos os governadores seguintes deram sua contribuição para concretização deste importante equipamento de desenvolvimento do Estado. No segundo governo Arraes, em 1987, os entendimentos para uma refinaria foram barradas pelo presidente Sarney. Em 1994, o então governador Joaquim Francisco procurou o presidente Fernando Henrique para a construção da planta industrial e viu seu pedido ser engavetado.

No ano seguinte, no terceiro governo Arraes, os pernambucanos foram à luta, criando uma comissão estadual pluripartidária, coordenada por Roberto Magalhães e Eduardo Campos, para mobilizar a opinião pública em favor da refinaria. Uma tocha acesa, a exemplo da olímpica, percorreu todo o Estado para sensibilizar os homens de Brasília. Novamente FHC engavetou o projeto.

Só no ano 2000, por interferência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a refinaria de Suape delineou-se no horizonte. Uma missão de gestores públicos e empresários pernambucanos foi a Caracas e voltou com a promessa da PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, de tocar a instalação da planta. Chávez queria fazer tudo e permitir apenas uma participação minoritária da Petrobrás.

Mas só no governo de Lula da Silva a refinaria saiu do papel e Chávez, nessa altura mais falido, farrapou com os compromissos de participação, deixando a Petrobrás só no projeto. O mundo perfeito para florescimento da corrupção sistêmica do PT, investigada em profundidade pela operação Lava Jato.

Vendida à iniciativa privada completamente, a refinaria Abreu e Lima – uma homenagem ao general pernambucano que combateu ao lado de Bolívar, por proposição de Hugo Chávez – não vai sair de Pernambuco. Os futuros investidores privados devem completar a instalação e usar toda sua capacidade operacional, garantindo renda, empregos e impostos. É o que se espera. Mas ficou entre os pernambucanos a frustração de terem se mobilizado para instalar um bem público e vê-lo entregue à iniciativa privada.

Outro empreendimento “campeão” do governo petista em Pernambuco foi o Estaleiro Atlântico Sul. Montado em Suape para atender a encomenda de navios e sondas de petróleo para o Pré-Sal, o EAS entregou seu último navio em junho passado. Daí em diante começou a naufragar com uma dívida de R$ 1,3 bilhão e em novembro de 2019 pediu recuperação judicial. Não tem como pagar aos credores. No pico da operação, o estaleiro chegou em 2011 a empregar 7.629 trabalhadores. Hoje só 30 deles penam por suas instalações para a manutenção básica.

O EAS foi golfado no tsunâmi da corrupção da empresa Sete Brasil, contratadora de navios-sondas da Petrobras. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, todos negócios tinham “acerto” de 1% de propinas para políticos do PT e agentes públicos. Em comunicado do início de 2018, a estatal afirmou que cancelou 24 contratos e ficou apenas com os que estavam em estágio mais avançado. O estaleiro de Suape tinha acertado a construção de seis navios-sondas

Além de Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, três ex-executivos da Petrobrás que comandaram a Sete Brasil, João Carlos de Medeiros Ferraz, Pedro Barusco e Eduardo Musa, confessaram o esquema em delações fechadas em 2014 e 2015. Hoje, em recuperação judicial, a Sete Brasil pede a restituição de 180 milhões de dólares dos acusados.

Para os desavisados estão aí fatos que abalaram a economia pernambucana, frustrando sonhos, empregos, receitas e impostos. E vocês sabem quem são os responsáveis. É isso.

*Integrante da Cooperativa de Jornalistas de Pernambuco

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