A história do álbum nazista feito com pele humana
Além de exalar um odor, o livro tinha linhas semelhantes a cabelos e marcas que pareciam tatuagens
Pawel Krzaczkowski é um grande colecionador de arte polonês. Durante uma de suas visitas a uma feirinha de antiguidades, Krzaczkowski comprou um álbum de fotografias que foram captadas durante a Segunda Guerra Mundial.
Até aí, as coisas pareciam normais. Porém, depois de um tempo, ele começou a notar certas peculiaridades na obra: além de exalar um odor, o livro apresentava linhas semelhantes a cabelos e algumas irregularidades em sua pintura, isso sem contar marcas que mais pareciam tatuagens.
Com todas essas particularidades, ele resolveu enviar o livro para que o Museu de Auschwitz o avaliasse. Foi a partir disso que veio a grande surpresa. Especialistas do Museu concluíram que a capa foi feita de pele humana.
Os traços que pareciam cabelo eram pelos humanos, e os desenhos realmente eram tatuagens. O tecido usado no encadernamento do livro, de acordo com o Museu, veio, provavelmente, de um prisioneiro assassinado no campo de concentração de Buchenwald, no leste da Alemanha.
A autenticidade da capa foi constatada quando os especialistas compararam o livro com um bloco de notas que o Museu guardava que também havia sido feito a partir da pele de vítimas do Holocausto.
Além das semelhanças nas aparências, as capas tinham níveis similares de poliamida 6 e poliamida 6.6 — polímero usado na produção de fibra sintética que surgiu, por volta, de 1935. A encadernação foi feita com a pele junto ao nylon e eram usadas apenas internamente nos campos de concentração.
“As informações nos permitem determinar quando a capa foi criada. Durante a Segunda Guerra Mundial, visto que os poliamidas eram uma novidade técnica e o acesso a elas era limitado”, explicou a chefe das coleções do Museu de Auschwitz, Elżbieta Cajzer, em comunicado.
O álbum guardava mais de 100 fotografias, em sua maioria de paisagens, e diversos cartões postais. A coleção pertencia a uma família bávara que tinha uma pensão numa cidade voltada para atender pacientes durante a Segunda Guerra.
Pesquisadores especulam que o álbum chegou até eles como um presente dado por um guarda do campo de Buchenwald. Além da identificação do livro, o Museu classificou o achado como “sem dúvidas, uma prova de um crime contra a humanidade”.
Sobre a prática de usar pele humana para encapar livros, Cajzer explica que “o uso de pele humana como material de produção está diretamente associado à figura de Ilse Koch, que, junto de seu marido, escreveu seu nome na história como a assassina do campo de Buchenwald”.
Após todas essas confirmações, Krzaczkowski doou o livro para o Museu de Auschwitz.
Mortes em Buchenwald
De acordo com a Enciclopédia do Holocausto, do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, Buchenwald foi um dos maiores campos de concentração criado pelos nazistas. Sua abertura ocorreu em 1937, quando passou a acomodar somente homens. Até o final de 1943 ou início de 1944, as mulheres detidas não ficavam lá.
O campo principal, Buchenwald, era cercado com arame farpado eletrificado, torres de vigilância e uma rede de sentinelas armadas com metralhadoras automáticas.
Já área de detenção, também conhecida como Bunker, ficava na entrada do campo principal. Por lá, os agentes das SS frequentemente fuzilavam prisioneiros nos estábulos ou os enforcavam na área do crematório.
A maioria dos detentos era formada por prisioneiros políticos. Porém, após a Noite dos Cristais, os agentes da SS enviaram cerca de 10 mil judeus para o local. Além desses dois grupos — judeus e prisioneiros políticos —, o campo também ‘abrigou’ criminosos reincidentes, Testemunhas de Jeová, ciganos e desertores alemães.
Em seus últimos dias, o campo também teve prisioneiros de guerra de diversas nacionalidades, combatentes da resistência, ex-dirigentes importantes dos países ocupados pelos alemães e operários estrangeiros, que realizavam trabalhos forçados.
Experimentos médicos
A partir de 1941, o local também passou por um programa diversificado de experiências médicas com os prisioneiros, que tinham como objetivo testar a eficácia de vacinas e tratamentos de doenças contagiosas, como o tifo, a febre tifóide, a cólera e a difteria. As experiências resultaram em centenas de mortes.
Três anos depois, em 44, médico dinamarquês Dr. Carl Vaernet iniciou uma série de experiências de transplantes hormonais que, segundo ele, trariam a “cura” para detentos homossexuais.
Ainda naquele ano, Buchenwald recebeu um complexo “especial” para receber prisioneiros políticos alemães famosos, como é o caso de Ernst Thaelmann, presidente do conselho do Partido Comunista Alemão antes de Hitler ascender ao poder em 1933. Thaelmann foi assassinado por lá em gosto de 1944.
Libertação
No início de abril de 1945, com a aproximação das tropas americanas, os alemães nazistas começaram a evacuar cerca de 28.000 prisioneiros do campo principal e milhares de outros dos sub-campos de Buchenwald. Cerca de um terço destes prisioneiros morreu de exaustão durante as trilhas da morte, ou foram mortos por agentes da SS.
Já no dia 11 daquele mês, prisioneiros exaustos e famintos atacaram os vigias do local, assumindo o controle do campo. Naquela mesma tarde, as tropas americanas ocuparam Buchenwald.
Os soldados da Terceira Divisão do Exército Americano encontraram mais de 21 mil presos por lá. Entretanto, eles foram apenas uma pequena parcela entre todos o que estiveram em Buchenwald. Estima-se que, entre julho de 1937 e abril de 1945, 250 mil pessoas passaram pelos campos.
Porém, como esses números não são exatos, os dados sobre mortes não podem ser dados com precisão, mas sabe-se que, pelo menos, 56 mil homens foram assassinados no sistema de concentração de Buchenwald, dos quais 11.000 eram judeus.