A princesa africana que se tornou presente da Rainha Vitória

A nigeriana ficou órfã e quase foi vítima de sacrifício humano aos cinco anos de idade, sendo levada à Inglaterra pouco tempo depois por um capitão britânico

Isabela Barreiros
Sara Forbes Bonetta, princesa da tribo Egbado em montagem ao lado da Rainha Vitória, do Reino Unido
Sara Forbes Bonetta, princesa da tribo Egbado em montagem ao lado da Rainha Vitória, do Reino Unido – Creative Commons

1. O começo de tudo

Aina, que ficou conhecida como Sara Forbes Bonetta, nasceu em 1843 em Oke-Odan, na Nigéria. Ela era membro da família real da tribo Egbado, mas sua vida foi muito mais difícil que se possa imaginar. Tudo começou no ano de 1848, quando ela tinha apenas cinco anos.

Sara Forbes Bonetta / Crédito: Wikimedia Commons

 

Naquele ano, a pequena Aina presenciou sua aldeia ser invadida pelo exército do reino africano de Daomé, que causou a morte de seus pais. Já órfã, a menina foi levada como escrava para a corte do rei Ghezo. Na época, muitos diziam que ela teria sido capturada para servir como sacrifício humano.


2. Presente

Mas as coisas mudaram quando o capitão britânico Frederick E. Forbes decidiu intervir na decisão do rei. Ele havia recém chegado à corte africana, em 1850, e convenceu o monarca a enviar a garota como um presente para a rainha Vitória. A sugestão insólita estava em confronto com o fato de que a escravidão já tinha sido abolida na Inglaterra em 1834.

Para Forbes, “ela seria um presente do Rei dos negros à Rainha dos brancos”. O sobrenome não era coincidência: ele renomeou a criança com seu próprio nome, fazendo-a Sara Forbes Bonetta. O último sobrenome era, ainda, uma homenagem a seu navio, o HMS Bonetta.


3. Vida na corte

Quando chegou à Inglaterra, foi recebida com surpresa pela rainha Vitória e pelo príncipe Albert. Era um “presente” inusitado, e Sara foi, prontamente acolhida no Palácio de Windsor pelos membros da família real. Eles, então, passaram a financiar os estudos da garota, que foi enviada para uma escola na região de Freetown, em Serra Leoa, aos oito anos.

Mesmo que estivesse recebendo uma educação de qualidade, a menina se sentia muito infeliz onde estava e voltou para a Inglaterra em 1855, já com 12 anos. Ela se adaptou rapidamente ao ambiente em que passou a viver, tornando-se fluente em inglês em pouco tempo. Também demonstrou um grande talento para a música, o que impressionou a monarca que a nomeou como sua afilhada.


4. Casamento

Sara e seu marido, James Pinson Labulo Davies / Crédito: Domínio Público

Quando completou 19 anos, no ano de 1862, Sara foi prometida ao capitão africano James Pinson Labulo Davies, que era 15 anos mais velho que a jovem. A rainha Vitória havia arranjado o casamento, auxiliando sua afilhada durante grande parte de sua vida.

James era marinheiro, comerciante, empresário, estadista, filantropo e chegou a dar aulas para a jovem durante sua estadia em Freetown. Os dois se casaram em agosto do mesmo ano e se mudaram para a Nigéria. Os frutos da união foram três filhos: Victoria Davies, em 1863, Stella, em 1873, e Arthur Davies, em 1871.


5. Fim da vida

A distância fez com que Sara e a rainha Vitória se afastassem, mas não por completo. Elas continuaram mantendo contato, tanto que a nigeriana voltou para a Inglaterra para visitar a monarca em 1867. Ela apresentou à soberana sua filha mais velha, que, assim como ela mesma, também se tornou afilhada de Vitória.

Por mais que estivesse vivendo uma vida tranquila, Forbes morreu muito jovem, aos apenas 37 anos. Seu óbito em 4 de agosto de 1880 aconteceu após ela contrair tuberculose. Seu então viúvo James decidiu homenageá-la, erguendo um obelisco de dois metros e meio para preservar sua memória.

 

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