“Sem participar da vida política, repetiremos o erro procurando um Messias”, diz autor de Três mil anos de Política
Em entrevista exclusiva ao site, José Luiz Alquéres discorre sobre como nossas escolhas no passado nos trouxeram para o atual momento em que vivemos — e como não repeti-las
“O homem é por natureza um animal político, tem primeiro na família a sua socialização e garantia da manutenção da vida em seus aspectos financeiros e educativos, mas é na Polis que se realiza plenamente, encontrando no fiel cumprimento das leis a justiça, dado que só podemos ser felizes no exercício da justa medida, ou seja, sendo prudentes e encontrando o meio termo em nossas ações”.
Segundo o pensamento de Aristóteles, o homem é um sujeito social que, por sua natureza, precisa pertencer a uma coletividade, afinal, só assim, ele é capaz de alcançar sua completude.
Além do mais, como temos o dom da linguagem, também somos políticos, capazes de pensarmos e realizarmos o bem comum.
Na filosofia aristotélica, a Política é a ciência tem como objetivo a felicidade humana. Dividida em âmbitos: a ética (que se preocupa mais com o a felicidade individual) e a política propriamente dita (que visa mais a felicidade coletiva), o pensamento de Aristóteles investiga as formas de governo e as instituições capazes de assegurar uma vida para o cidadão.
Mas será que em todos esses anos de evolução social, nós realmente aprendemos como viver em sociedade? Afinal, os erros do passado serviram para tornar nosso questionamento político mais forte no futuro, ou apenas vivemos um ciclo vicioso?
Em entrevista exclusiva ao site Aventuras na História, o empresário, editor e escritor José Luiz Alquéres, que recentemente lançou o grande livro “Três Mil Anos de Política” (Edições de Janeiro), discorre sobre o atual momento da política mundial, a ascensão de modelos totalitários de governo e de como nossas escolhas no passado nos trouxeram para o atual momento em que vivemos.
Para José Luiz, aos 76 anos, ele percebeu que de tempos em tempos nossa história política repete a mesma sequência de comportamentos: o primeiro deles é a “valorização da liberdade e da democracia”; sendo seguido “de um certo relaxamento e comportamento anárquico, e problemas econômicos”.
O terceiro passo é “uma reação autoritária buscando a ordem, mas que resulta em formas mais brandas ou mais duras de ditadura e centralismo”. O seguinte é onde presenciamos uma “crescente corrupção”; terminando esse ciclo na “reação liberal”.
Depois disso, tudo começa de novo. “É como se a vida não ensinasse as pessoas”, diz. “Na realidade o que ocorre é que os ciclos políticos são longos e se não os vermos em perspectiva histórica viveremos repetindo-os”.
Para o escritor, estamos vivendo um desses momentos de transição, onde, cansados com a corrupção e desmoralização das instituições, o povo brasileiro resolveu eleger alguém que defendesse valores básicos, como a ordem, a autoridade e a família. Mas, para Alquéres, é uma pessoa que “não tem as condições mínimas intelectuais para estar à altura do desafio de governar uma nação”.
“É a beleza e a tragédia da democracia”, fala. “Ela nos permitiu mudar, mas agora nos fará esperar outra eleição até que possamos entrar no caminho certo. Mas, sem vermos o que está ocorrendo à luz de perspectivas históricas, sem estudarmos um pouco e sem participarmos mais intensamente da vida política, repetiremos o erro procurando um novo messias”.
Segundo acredita, o ser humano mudou pouco, afinal, todas suas paixões, ambições, vícios e virtudes estão bem descritos nas tragédias gregas de 2.500 anos atrás. “A ciência e a história não foram capazes de mudar a cabeça dos homens. Por isso o estudo da história é importante. Nela lemos o que funciona e o que não funciona”. Sobre isso, José Luiz é enfático: “A história é a mestra da vida”.
A Globalização
Desde os primórdios do pensamento político, na Grécia-Antiga, as distâncias diminuíram. Umas coisas tiveram sua importância concentrada, já outras se empalharam muito além do que se imaginava.
A própria Grécia, por exemplo, já teve mais de 1.000 cidades-estados, mas hoje, toda sua herança cultural milenar cabe em um pequeno território.
“No mundo inteiro o século 20 e 21 fez com que ciência encurtasse as distâncias, favorecesse as comunicações. Algumas poucas línguas estão matando outras, como a ‘língua de negócios’. Estamos passando de uma época de dispersão para uma de concentração. Pela primeira vez, metade do planeta vive em cidades e a urbanização é inevitável e crescente”, explica Alquéres.
Para o empresário, a globalização ganha, portanto, dimensões muito além de trocas comerciais e cadeias de suprimento. “A cultura está se globalizando. A marcha do mundo o transformou no que os sociólogos chamam de aldeia global. A luta é para manter as culturas individuais, ricas, diversificadas num planeta onde a dimensão de interação entre pessoas e países só vai crescer, apesar das primeiras reações nacionalistas como o Brexit e outras”.
Porém, apesar desse fenômeno, José Luiz cita três “razões para a esperança”. A primeira delas, conforme aponta, é que a globalização pode ajudar em dois pontos muito importantes: a equiparação dos sexos e difusão da educação da mulher; e, ao mesmo tempo, conscientizar sobre a importância da sustentabilidade.
“O segundo é a tolerância, o respeito à diversidade. É como se nos trouxessem pessoas de áreas rurais e as colocássemos para viver num condomínio de edifícios com muitos pavimentos e dezenas de apartamentos por andar. Viver mais próximos uns dos outros, respeitar as diferenças é um aprendizado. Temos progredido nisso”.
E a última é um ponto essencial para o bem-estar da ‘Polis’: a moderação política. Para o escritor, o importante é termos paciência: “Não partirmos para confrontos ou posições extremadas. Melhor progredir lentamente do que experimentar retrocessos, ditaduras, regimes fascistas e etc”.
Para José Luiz, o nacionalismo, a ascensão de modelos totalitários e o surgimento do neoliberalismo só ocorreram pela busca de soluções, que ignoraram as lições dadas ao decorrer da história: “O que dá certo em termos de desenvolvimento econômico e social é a democracia, o respeito aos direitos humanos, o estado de direito e a livre iniciativa”.