Bolsonaro e Crivella inauguraram colégio militar, mas equipamentos foram retirados logo depois

Mesas cadeiras, microscópios, tubos de ensaio e outros equipamentos de laboratório, tudo foi retirado logo após os políticos irem embora

Do Globo — Em agosto do ano passado, a inauguração da Escola General Abreu, no Rocha, a primeira do modelo cívico-militar na rede municipal, contou com a presença do então prefeito Marcelo Crivella e do presidente Jair Bolsonaro em plena pandemia. Ambos destacaram que a unidade era um “marco” para a cidade, e logo a procura por uma das 560 vagas se transformou numa fila com mais de quatro mil interessados.

Após o evento, porém, cadeiras e equipamentos começaram a ser retirados das salas. Hoje, além da falta de materiais, o colégio enfrenta problemas de infraestrutura, como falta de água — é necessário o uso de carro-pipa —, internet e telefone.

A perspectiva de início de aulas presenciais no dia 8 de fevereiro preocupa a direção da escola, que admite que os professores precisarão ter “jogo de cintura”. No dia da inauguração, 14 de agosto, a sala de ciências era capaz de encantar qualquer aluno: havia microscópios, tubos de ensaio, modelos de partes do corpo humano e outros equipamentos de laboratório.

Sala de ciências sem os microscópios, os esqueletos e os tubos de ensaio: cenário que os alunos poderão encontrar na volta às aulas | Foto: Hermes de Paula

Todos foram retirados alguns dias depois. Do auditório, foram levadas as cadeiras, repostas com o mobiliário que estava no refeitório. Já a sala de robótica e a de recursos (para alunos com deficiência) sequer receberam o material adequado. No laboratório de informática, existem cinco computadores, mas apenas um funciona.

Segundo a direção, ainda faltam profissionais administrativos, como porteiros e secretários, e os vestiários prometidos ao lado da quadra poliesportiva não foram construídos. Outra obra que ficou pelo caminho foi a do castelo d’água: todo o abastecimento depende de carros-pipa.

Na inauguração, Crivella afirmou que os futuros alunos, trajando uniforme especial de caráter militar, carregariam “nos olhos o brilho e o orgulho de serem brasileiros”. Bolsonaro também apostava no projeto:

— O que estão plantando hoje, colheremos lá na frente.

O ministro da educação, Milton Ribeiro, também esteve presente no evento.

Bruna Mattos, mãe de uma aluna do 6º ano — a escola terá 16 turmas do 6º ao 9º anos —, disse que, ao fazer a matrícula, semana passada, ouviu dos professores os relatos de problemas:

— Uma professora me disse que a sala de leitura, por exemplo, estava vazia, sem livros, e quase sem computador. Não sei se vão receber tudo até o dia 8, se a prefeitura vai resolver. A situação preocupa. Os profissionais foram sinceros sobre a estrutura, e o que me confortou foi a disposição deles de ajudar. Agora, os pais formaram um grupo e estão cobrando providências.

Muitos pais questionaram a direção sobre a dificuldade de tirar dúvidas por telefone, e a explicação foi preocupante: a escola ainda não tem uma linha fixa e depende de um celular, que não está em boas condições. Por isso, a orientação foi para que usassem o e-mail.

A escola foi construída na gestão de Crivella, mas a estrutura foi feita ainda na administração anterior, de Eduardo Paes. O local, na Rua Ana Neri, teria três unidades, dentro do programa Fábrica de Escolas do Amanhã. Hoje, porém, há a Escola General Abreu e, atrás dela, dois esqueletos abandonados, que inclusive foram alvos de furtos recentes, relatou um segurança no local. Ao governo federal, coube a alocação de militares no apoio da direção. Já o corpo docente e o investimento de R$ 22 milhões nas obras foram responsabilidade do município.

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