A escavação: Conheça Basil Brown, arqueólogo autodidata que descobriu o ‘Tutancâmon Britânico’ 

A produção da Netflix conta a história de uma das maiores descobertas arqueológicas do Reino Unido, realizada em 1938

Larissa lopes
Basil Brown foi interpretado por Ralph Fiennes em filme da Netflix
Basil Brown foi interpretado por Ralph Fiennes em filme da Netflix – Divulgação/Netflix/Youtube

O longa-metragem “A Escavação” – original da Netflix – estreou, no Brasil, no dia 29 de janeiro. Além de ter ocupado o Top 10 de mais assistidos do país na plataforma, a produção trouxe à tona a história do arqueólogo Basil Brown.

Vivido pelo ator Ralph Fiennes – o Lord Voldemort de Harry Potter -, o Sr. Brown foi responsável pela descoberta arqueológica que dá base ao filme, e é uma das mais importantes de todos os tempos.

Origem

Basil John Wait Brown, ou Sr. Brown, nasceu em 1888, no condado de Suffolk, Inglaterra. Ele era filho de Charlotte Wait e George Brown, fazendeiro que depois se tornou arrendatário.

Assim, seu pai cuidava de terrenos através de um contrato de cessão, isto é, o proprietário entregava a ele a propriedade para ser explorada, a partir de uma remuneração. Por crescer nesse meio, Brown começou a se interessar por arqueologia.

Cena do filme ‘A Escavação’ (2021). Crédito: Divulgação/Netflix

Aos cinco anos de idade, o menino já estudava textos astronômicos herdados de seu avô. E, aos doze anos, abandonou a escola Rickinghall para trabalhar na fazenda com o pai.

Autodidata

Seu primeiro fascínio se deu com desenho, em 1902, por meio de aulas noturnas que frequentava. Todos os outros conhecimentos foram atingidos graças a habilidade autodidata.

Por volta de 1907, o britânico adquiriu conhecimento nas áreas de Astronomia, Geografia e Geologia.

Mesmo não tendo formação formal, foi através de livros e programas de rádio que Brown se tornou fluente em alguns idiomas. Além dos estudos, tentou se alistar para o exército britânico e ingressar a Primeira Guerra Mundial, mas foi declarado clinicamente impróprio para o serviço da linha de frente.

Ainda assim, ele se ofereceu para atuar no Royal Army Medical Corps, corpo médico do exército que atendia tropas e suas famílias.

Contudo, foi em 1918 que Brown se aventurou mais precisamente em astronomia. Ele foi convidado a se juntar à British Astronomical Association, a convite de dois astrônomos britânicos.

Já em 1923, Brown se casou com Dorothy May Oldfield. Juntos, assumiram a fazenda que era de seus pais, já que não tinham filhos. No entanto, para o o Suffolk Archives, ele estava “mais interessado em estudar o céu noturno ou escavar o solo sob seus pés”.

Nas horas vagas, Brown começou a investigar a zona rural do norte de Suffolk, em busca de vestígios romanos. Segundo o Oxford Dictionary of National Biography, ele usou uma bússola e outras medidas para localizar oito edifícios medievais e assentamentos romanos.

Posteriormente, se envolveu na escavação do assentamento romano em Stanton Chair, leste da Inglaterra, e na descoberta dos fornos de cerâmica romana na área de Wattisfield.

Ascensão

Com tantos estudos e experiências, o trabalho do autodidata chamou a atenção do Ipswich Museum, museu da cidade de Suffolk.

E então, quando a proprietária de terras Edith Pretty decidiu explorar o que havia em seus terrenos em Sutton Hoo, Suffolk, Inglaterra, o museu britânico recomendou que a mulher consultasse o Sr. Brown.

Propriedade de Edith Pretty em cena do filme. Crédito: Divulgação/Netflix

Assim, em 1938, o arqueólogo Basil Brown aceitou o desafio de escavar a propriedade de Edith. Para ajudá-lo na investigação, ele consultou livros que tratam da Idade do Bronze ao período anglo-saxão e alguns relatórios de escavações.

Conforme repercutido pela BBC, o Sr. Brown pedalava 56 km de sua casa até a propriedade, e vice-versa, todas as semanas.

Com a ajuda dos funcionários da Sra. Pretty, o especialista escavou três montes no solo, abrindo uma trincheira entre eles e observando possíveis diferenças na cor da terra, o que indicaria uma câmara ou túmulo cheio.

Assim, foi constatado que eram cemitérios arqueológicos, os quais mostravam sinais de roubo no passado.

Tesouros arqueológicos

Na segunda temporada de escavações, em 1939 – pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial -, o Sr. Brown, ao lado dos colegas William Spooner e John Jacobs, encontrou rebites de ferro no casco de um navio, que tinha mais de 25 metros de comprimento.

Cena do filme ‘A Escavação’ (2021). Crédito: Divulgação/Netflix

Tratava-se de um dos três únicos enterros de navios anglo-saxões na Inglaterra. Em uma das cartas que o arqueólogo escreveu a sua esposa, direto da escavação, descreveu a descoberta da embarcação funerária como “um achado para uma vida”.

Contudo, as escavações intensas em Sutton Hoo foram interrompidas diante da Segunda Guerra. Os impressionantes 263 artefatos guardados pelo navio – armas, fivelas, distintivos e um capacete – permaneceram escondidos durante a guerra, em um túnel subterrâneo de Londres.

A escavação em andamento (à esq.) e o principal tesouro encontrado (à dir.) / Crédito: Divulgação/British Museum

Durante a guerra, Brown fez alguns serviços arqueológicos para o Museu de Ipswich. Com o fim do conflito, os itens de Sutton Hoo foram estudados e parcialmente identificados, como diversos objetos do Império Bizantino e do Oriente Médio.

Posteriormente, o autodidata foi autorizado pelo Ipswich Museum a concluir a escavação de Sutton Hoo. Mesmo se aposentando aos 73 anos, ele continuou as escavações arqueológicas até que sofreu um ataque cardíaco, em 1965.

Falta de reconhecimento

Sua morte aconteceu doze anos mais tarde, aos 89 anos, quando sofria de broncopneumonia.

O “arqueólogo amador”, como é chamado, teve seu trabalho pouco reconhecido, diante da valiosíssima descoberta que impressionou o Reino Unido.

Ao final do filme produzido pela Netflix, o texto na tela revela que o nome de Basil Brown não foi mencionado ao público na revelação dos tesouros. “Foi apenas nos últimos anos que a contribuição única de Basílio para a arqueologia foi reconhecida”.

No final da década de 1950, os tesouros foram exibidos no Museu Britânico, e o nome de Brown não foi colocado nos painéis de informações. A curadora-chefe da coleção “Sutton Hoo” do museu, Sue Brunning, disse: “Não acredito que tenha havido qualquer grande conspiração para omitir o nome de Basil”.

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