Inspiração e o antissemitismo de berço: O que as cartas escritas pelo pai de Hitler revelaram sobre o ditador 

Material foi compilado pelo historiador austríaco Roman Sandgruber no livro recém-lançado “O pai de Hitler: como o filho se tornou um ditador”

Fábio Previdelli
Alois Hitler, pai de Adolf
Alois Hitler, pai de Adolf – Wikimedia Commons

No final do mês passado, em 22 de fevereiro, o historiador austríaco Roman Sandgruber publicou o livro “O pai de Hitler: como o filho se tornou um ditador” (em tradução livre do alemão). Na obra, Sandgruber revela cartas, até então desconhecidas, escritas por Alois Hitler, pai do ditador alemão. As informações são do DW Internacional.

Com a análise das missivas, o historiador argumenta como Alois teve papel importante na formação psicológica de seu filho — que viria a se tornar um dos maiores genocidas de toda a história.

As cartas

As cartas em questão, mais de 30, foram escritas por Alois e destinadas ao construtor Josef Radlegger, depois que ele comprou sua fazenda em Hafeld, na Alta Áustria.

Alois Hitler, pai de Adolf / Crédito: Wikimedia Commons

 

Apesar de não possuir nenhuma experiência na área de agricultura, o pai de Adolf “sempre quis ser um fazendeiro melhor que os outros”, explica o escritor em entrevista ao DW.

Além disso, o austríaco o descreve como uma mistura de autodidata, presunçoso e alguém que se superestimava grosseiramente. Características que também podem ser atribuídas a seu filho maquiavélico.

Segundo conta Roman, os documentos chegaram a seu conhecimento depois que a bisneta de Radlegger lhe entregou as missivas, há cinco anos.

Antissemitismo vem de berço

Em sua vida, antes de se tornar líder da Alemanha, Adolf já tinha uma extensa relação com os judeus. Em sua infância, por exemplo, ele morou em uma propriedade, em Urfahr, perto do rio Danúbio, que era pertencente a judeus, conforme explica a obra.  

Além disso, em 1907, sua mãe, Klara Pölzl, quando já estava perto de seu leito de morte, foi tratada por um médico judeu — que durante o Holocausto, buscou refúgio na América.

Adolf Hitler / Crédito: Wikimedia Commons

 

Porém, conforme concluiu Sandgruber, o menino já era um antissemita desde sua juventude. O que contesta que o ódio que tinha contra judeus foi forjado depois que ele se mudou para Viena, capital do país.

Quando jovem, em 1908, Hitler havia se mudado para lá, onde tentou ser artista, porém, acabou tendo uma bolsa de estudos negada.

Tal pai, tal filho, mas nem tanto assim

O historiador revela que Adolf tinha um sentimento específico que o fez se revoltar contra o pai: a profissão. Roman diz que Alois desejava que o filho seguisse uma carreira no serviço público. “Ele (Adolf) queria ser um artista livre e não seguir os passos de seu pai”, diz o pesquisador.

Apesar disso, tinham muitos pontos em comum, como o “desprezo” pela autoridade, além de serem anticlericais, embora Hitler não tenha deixado de lado a Igreja Católica Romana, conforme explica Sandgruber.

Contemporaneidade

Passados quase 76 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a publicação do livro chega num momento em que a Alemanha ainda precisa se livrar de cerca de 29 textos legais ou regulatórios que ainda vigoram no país e que fazem alusão ao período em que Hitler estava no poder, conforme explica Felix Klein, comissário de antissemistismo do governo alemão, em entrevista à AFP.

Adolf Hitler durante um discurso / Crédito: Getty Images

 

Entre os pedidos, por exemplo, está a remoção do termo “raça” no Artigo 3 da Constituição do país, algo que pode ajudar a fomentar o pensamento da existência de uma raça superior. No ano passado, Angela Merkel, chanceler do país, se mostrou favorável a tal exclusão.

Além desse debate que o livro ajuda a gerar, ele também preenche uma lacuna muito importante na história. Afinal, como diz Alexandra, hoje há “grande número de livros e filmes sobre o motorista, médico pessoal, chefe de imprensa, fotógrafo e secretário de [AdolfHitler“, mas, em compensação, existe poucas coisas em relação ao seu pai.

O material do livro de Sandgruber poderia ser suficiente, conforme ela argumenta, para um novo filme em potencial sobre as origens familiares de Hitler.

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