Nem Bahia, nem Vitória: relembre último Baianão sem a dupla como campeão ou vice
Não é novidade para ninguém que Bahia e Vitória dominam o futebol baiano há décadas. Ver um da dupla fora da final é sempre uma surpresa, mesmo com tricolores e rubro-negros disputando o torneio com jogadores reserva ou time B, como tem ocorrido nos últimos anos. Em 2021, a primeira fase se aproxima do fim e os quatro classificados ainda não estão definidos. Tanto Bahia quanto Vitória correm risco de ficar de fora das semifinais. E caso não alcancem a final, o Campeonato Baiano não terá a dupla da capital entre os dois primeiros depois de 53 anos.
Com somente mais uma rodada para disputar, o Bahia é o quarto colocado, com 12 pontos, enquanto o Vitória é o nono, com sete pontos – e dois jogos a menos. Se ganhar essas duas partidas, o Leão ainda não garantirá classificação, mas ultrapassará o Bahia, tirando o rival da zona de classificação. De qualquer forma, a decisão ficará de fato para a última rodada, e 2021 pode repetir 1968.
O Campeonato Baiano de 1968
Naquele ano, não deu nem para Bahia nem Vitória. O Galícia foi o campeão e o Fluminense de Feira foi o vice. O formato do estadual era bem diferente do atual, e sequer foi definido em uma final.
Catorze equipes disputaram a 64ª edição do Campeonato Baiano, que já tinha o Bahia como maior campeão (21 vezes), seguido do Ypiranga (dez). Até aquele momento, o Vitória havia conquistado sete títulos estaduais.
Os 14 times foram divididos em dois grupos de sete. Bahia, Vitória de Ilhéus, Conquista (que não é o atual Vitória da Conquista), Fluminense de Feira, Leônico, Botafogo e Colo-Colo formavam o grupo A, enquanto Vitória, Galícia, Itabuna, Bahia de Feira, Flamengo de Ilhéus, Ypiranga e São Cristóvão eram o grupo B. Houve jogos de ida e volta na primeira fase, e os quatro melhores de cada chave se classificavam para um octogonal final.
Na fase decisiva, o mesmo molde da primeira: todos enfrentavam todos, em jogos de ida e volta, o que dessa vez dava um total de 14 rodadas. Classificaram no grupo A Bahia, Vitória de Ilhéus, Conquista e Fluminense de Feira; Vitória, Galícia, Itabuna e Bahia de Feira passaram no grupo B.
Quis o destino que a rodada final tivesse cara de decisão. O último jogo realizado no campeonato foi justamente o confronto entre Galícia e Fluminense de Feira, realizado no dia 15 de setembro de 1968, na Fonte Nova. O empate sem gols foi suficiente para o Azulino poder colocar a faixa de campeão baiano no peito pela quinta – e por enquanto – última vez.
Aquele jogo tinha em campo um jovem zagueiro de 20 anos que não saiu campeão naquele ano, mas seria oito vezes no futuro próximo: Élcio Nogueira da Silva, o Sapatão, era titular do Flu. Seria campeão estadual com o time da Princesa do Sertão no ano seguinte e depois capitão e um dos pilares do Bahia heptacampeão baiano entre 1973 e 1979.
Outra atração daquele campeonato vinha do Vitória. O rubro-negro contratou o atacante Coutinho, terceiro maior artilheiro da história do Santos (até os dias atuais) e o parceiro de fazer tabelinha com Pelé no time fulminante que dominou o futebol brasileiro na década de 1960. Apesar da grande expectativa em cima do campeão mundial de 1962, ele não jogou muito pelo Leão e teria feito apenas um gol nas 12 partidas disputadas. Coutinho chegou a jogar os dois Ba-Vis daquela edição do estadual, no octogonal final. No primeiro, placar zerado, e no segundo deu Leão: 1×0, gol de Kleber Carioca.
Do lado do Bahia, o time de 1968 tinha o zagueiro Nildon “Birro Doido”, que teve notoriedade por, no ano seguinte, evitar o milésimo gol de Pelé no jogo contra o Santos na Fonte Nova. Após driblar o goleiro, o Rei do Futebol tocou para o gol e Nildon apareceu e tirou a bola quase em cima da linha. O gol 1.000 sairia três dias depois, em 19 de novembro de 1969, contra o Vasco, no Maracanã. Além de Nildon, o Esquadrão contava com o atacante Biriba, remanescente do título brasileiro de 1959. Já experiente, realizava sua última temporada com a camisa azul, vermelha e branca.
Dominância da dupla Ba-Vi após 1968
Aquele não foi o último título de um time “intruso”, mas a dominância de Bahia e Vitória ficou evidente. Dos 52 estaduais disputados depois, só três não foram vencidos por um dos rivais de Salvador: 1969 (Fluminense de Feira), 2006 (Colo-Colo) e 2011 (Bahia de Feira). Em 28 edições, a dupla Ba-Vi ainda ficou como os dois melhores, sendo 15 títulos rubro-negros e 12 tricolores, além do Campeonato Baiano de 1999, que foi dividido.
Ficha Técnica – Galícia 0x0 Fluminense
Data: 15 de setembro de 1968
Estádio: Fonte Nova, Salvador
Juiz: Enivaldo Magalhães
Renda (NCr$): 75.978,00
Público: 19.930 pagantes
Galícia: Dudinha; Roberto Oliveira, Nelinho, Haroldo (Hélio Nailon) e Touro; Josias e Chiquinho; Nelson Leal (Telê), Ouri, Carlinhos Gonçalves e Ricardo. Técnico: Enaldo Rodrigues.
Fluminense: Mundinho; Ubaldo, Sapatão, Mario Braga e Nico; Chinesinho e Merrinho; Messias (Veraldo), Pinheirinho, Delorme e Noel. Técnico: Não encontrado.
*Sob orientação do editor Herbem Gramacho