Série O Legado de Júpiter não deu cert
Não é fácil seguir os passos da Marvel Studios e o cancelamento de O Legado de Júpiter mostra que não é qualquer um que sabe trabalhar bem com super-heróis dos quadrinhos.
A Netflix anunciou o cancelamento de seu seriado superheroístico após apenas ter colocado no ar apenas oito episódios. O Legado de Júpiter é uma série que adapta para a TV as HQs de mesmo nome criadas por Mark Millar, e que já foram publicadas no Brasil. Millar é um quadrinista famoso que já fez muitos quadrinhos de sucesso para Marvel e DC e, há alguns anos, começou a desenvolver seu próprio universo de super-heróis. A boa aceitação de seus personagens fez com que a Netflix decidisse investir no gênero — que tanto faz sucesso nos cinemas, especialmente na Marvel — e comprasse os direitos das criações de Millar. O Legado foi justamente a primeira dessas propriedades a chegar ao público.
Só para situar: Mark Millar é um roteirista que gosta muito de brincar com toda a mitologia dos super-heróis, procura quase sempre colocá-los numa perspectiva mais realista, como se esses personagens estivessem vivendo no nosso mundo. Ele tem uma inspiração direta de Alan Moore, por exemplo, criador de Watchmen.
O Legado de Júpiter, nos quadrinhos, é uma boa história embora não tenha nada muito original. E sua arte, feita por Frank Quitely certamente valoriza muito o material. Mas os elementos das HQs absolutamente não funcionaram na TV.
Já de cara, o visual dos personagens na Netflix já perde muito e não consegue reproduzir toda a beleza dos quadrinhos. Os uniformes da família de super-heróis ficaram exagerados, um tanto quanto ridículos na frente das câmeras, o que não contribuiu para fazer as pessoas mergulharem na história.
Personagens de O Legado são sombrios, apesar de seus uniformes supercoloridos e exagerados
DIVULGAÇÃO
Mais do que isso, o tom sombrio adotado na TV, muito mais forte do que nos quadrinhos, criou uma barreira entre público e personagens. Esse lado muito obscuro tirou qualquer carisma e um eventual bom humor da família de heróis. Isso deixou tudo muito carrancudo, chato, sem bilho, sem graça, um clima pesadíssimo e tudo acaba por gerar situações muito forçadas e exageradas. Lembra muito filmes da DC Comics, como Liga da Justiça (qualquer uma das versões) e Batman v Superman.
Aí, você junta a todos esses problemas de concepção um orçamento baixo que não permite bons efeitos especiais, e a decepção está completa.
O Legado de Júpiter foi uma tentativa clara da Netflix de lucrar com o bilionário mercado dos super-heróis liderado pela Marvel. Mas é aquela coisa, né? Marvel, pelo jeito, só tem uma mesmo. A DC Comics, assim como o serviço de streaming, também não consegue se dar tão bem nas telas como o estúdio da Disney. O que é ruim, veja bem. É óbvio que todo mundo ganharia com outras boas adaptações das HQs para as telas. Não é uma boa só a Marvel se sair bem nisso. Diversidade, assim como na vida, também é importante no mundo dos super-heróis e todo mundo quer ver um bom filme ou série do Batman, do Superman, do Legado de Júpiter, do Spawn, entre outros que possam aparecer.
Mas é mais do que certo que a Marvel Studios é quem detém a fórmula para o sucesso dos super-heróis na TV ou no cinema. E também é certo que os concorrentes têm muito o que aprender com Capitão América, Hulk, Thor, Vingadores e toda essa turma.