— O problema é que a memória do eleitor é muito curta. Ela vai reeditar as mesmas promessas na campanha, vai dizer que foi a crise internacional que atrapalhou, que foram as pessoas que jogaram contra, essa história da carochinha. Nós temos uma equipe trabalhando essa questão das promessas há muito tempo e o que vemos é que esse programa de governo serviu apenas para a campanha e logo foi arquivado — critica o líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO).
O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), diz que mesmo as 22 das 46 promessas cujo ritmo de execução é lento serão entregues. Na opinião dele, se for feita uma avaliação das promessas feitas pelos 27 governadores, a situação seria muito pior que a do governo federal:
— Se são 46 promessas e mais da metade está concluída ou em vias de ser concluída é algo nunca visto nos governos depois da redemocratização. Todas serão cumpridas. A presidente Dilma é a que mais se preocupa em fazer efetivamente acontecer. Nós temos é que comemorar, porque vamos chegar ao fim de 2014 com sentimento de dever cumprido. Se levarem para a campanha, é ótimo, nós temos o que mostrar, temos um legado incomparável — defende.
O cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília, não vê qualquer novidade no não cumprimento de promessas de campanha de governantes. Segundo ele, promessas são feitas desde o Império e, em geral, seu não cumprimento afeta apenas a minoria dos eleitores que acompanham a vida política.
— Prometer é fácil e cumprir nem sempre. A promessa é um instrumento de campanha, porque é através delas que o político consegue apoio ou não. Aquele que não faz promessas dificilmente será eleito. Ela faz parte do ritual da campanha há muito tempo e a maioria dos eleitores se esquece as razões pelas quais votou — afirma.
Autor do projeto que ajudou a tornar obrigatória a apresentação de um programa de governo pelos candidatos ao Executivo, em 2010, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) comemora:
— Quando aprovamos essa regra, tivemos o objetivo de combater a demagogia e o estelionato eleitoral e promover as candidaturas que devem trabalhar o sonho e a esperança dentro do que cabe no Orçamento. A História brasileira é pródiga em discursos que não aconteceram na prática, mas que foram decisivos em eleições.
O petista Alessandro Molon (RJ) defende a presidente e avalia que boa parte do problema está na falta de colaboração de estados e municípios.
— Cito como exemplo R$ 6 milhões que fiz de emendas em 2011 para dez creches. O dinheiro está separado há mais de um ano para a prefeitura do Rio e até hoje elas ainda não estão prontas. Existe dificuldade de execução e lentidão de estados e municípios em fazer sua parte mesmo com a ajuda do governo federal — afirma.
Fonte: O Globo