As irmãs Mirabal: As mulheres que enfrentaram a ditadura dominicana e foram mortas pelo regime 

O crime brutal marcou a queda de Rafael Leónidas Trujillo e teve repercussão internacional

Victória Geanrini
Registro das irmãs Mirabal
Registro das irmãs Mirabal – Barnaby David via Wikimedia Commons

No dia 25 de novembro de 1960 a República Dominicana, até então sob regime autoritário de Rafael Leónidas Trujillo, recebeu a trágica notícia que as ativistas e irmãs Mirabal haviam sido encontradas sem vida.

Conhecidas como Las Mariposas (tradução literal: as borboletas), são consideradas um dos maiores símbolos mundiais de luta contra a violência a mulher.

Nascidas em uma família de classe alta, na província de Salcedo — atualmente chamada de Hermanas Mirabal — as irmãs Mirabal eram engajadas no ativismo político. Casadas e com filhos, nunca deixaram o ativismo de lado, mesmo com todos os riscos eminentes.

Ao todo, eram em quatro irmãs, sendo duas delas, Minerva e Maria ex-presas políticas. Já Bélgica Adela, mais conhecida popularmente como Dedé, tinha participação menor no movimento, sendo a única sobrevivente.

Rafael Leónidas Trujillo (1930-1961) / Crédito: Getty Images

O crime

“Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”, frase dita por Minerva Mirabal pouco antes de ser morta pelo regime trujillista. Em novembro de 1960, seu corpo e de suas irmãs, Patria e Maria Teresa foram encontrados no fundo de um barranco, dentro de um jipe. Os corpos apresentavam sinais de torturas.

Segundo as investigações, autoridades do serviço secreto interceptaram o veículo em que transportava as três irmãs. A intenção dos assassinos era forjar um acidente de carro, assim, as enforcaram e as espancaram até a morte.

“Foi um dia terrível, porque apesar de sabermos dos perigos, não pensávamos que o crime iria se concretizar. Eu agarrava os policiais e dizia: não foi um acidente, as assassinaram”, declarou Dedé Mirabal no documentário Las Mariposas: Las Hermanas Mirabal.

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Monumento dedicado às irmãs, em Salcedo / Crédito: Ronny Medina via Wikimedia Commons

As irmãs eram conhecidas no país, devido seus ativismos políticos, por isso seus assassinatos marcaram história da República Dominicana. Este crime, somado ao aumento de prisões, denúncias de torturas e desaparecimentos de opositores, contribuiu para a queda do regime trujillista.

“O crime foi tão horroroso que as pessoas começaram a sentir-se totalmente inseguras, até mesmo aqueles que eram mais próximos do regime. Porque sequestrar três mulheres, matá-las e atirá-las em um barranco para fazer parecer um acidente é horroroso”, disse De Peña Díaz em entrevista à BBC.

A obra El tiempo de las mariposas, de Julia Álvarez, apresenta a trajetória das irmãs e denúncias às atrocidades cometidas durante este regime autoritário. Para a escritora, este crime foi o estopim para os dominicanos — até mesmo aqueles que apoiavam o regime — que passaram a se sentir inseguros e perseguidos pelo governo.

A escritora ainda ressalta ser importante comparar e analisar o contexto histórico e atual da violência contra a mulher, visto que estes atos são comuns atualmente. No entanto, as irmãs Mirabal se tornaram símbolo mundial pela luta contra a violência a mulher.

Desde 1999, a ONU transformou o dia 25 de novembro em uma data comemorativa internacional, que celebra o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher. “As irmãs Mirabal levantaram os braços de seus túmulos de um jeito muito forte”, concluiu Peña Díaz à BBC.

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