Com delegação ofensiva, seleção vira assunto mundialmente

Após convocação, assunto dominou o noticiário esportivo internacional

Por: Daniel Farias

Neymar e Richarlison são fortes promessas de gols na Copa do Mundo
Neymar e Richarlison são fortes promessas de gols na Copa do Mundo – 

Nunca a frase “Pra frente, Brasil!” faria tanto sentido no contexto do futebol. Muito mais, ao menos, do que na época em que foi lançada como uma apropriação publicitária da participação do Brasil na Copa do Mundo de 1970 pela ditadura militar, para construir uma falsa ideia de ‘milagre econômico’ e progresso. Defensores de um regime antidemocrático indefensável continuam tentando cooptar símbolos nacionais relacionados à Seleção Brasileira, mas o slogan agora também ganha um outro sentido, mais genuíno.

Após a convocação da Seleção Brasileira pelo técnico Tite, na segunda-feira, 7, na sede da CBF, Rio de Janeiro, a força ofensiva da seleção foi um dos assuntos que dominaram o noticiário esportivo internacional. São nove atacantes presentes na lista do comandante canarinho, que irão ao Qatar na próxima semana: Neymar (PSG), Richarlison (Tottenham), Vinicius Júnior (Real Madrid), Rodrygo (Real Madrid), Raphinha (Barcelona), Antony (Manchester United), Gabriel Jesus (Arsenal), Gabriel Martinelli (Arsenal) e Pedro (Flamengo).

A título de comparação da quantidade de atacantes que estarão na Copa do Mundo do Qatar, cujo início   é no dia 20 de novembro, vale a pena uma digressão às copas de 2002 e 2006 para tratar   de dois exemplos em que o poder ofensivo era um grande diferencial da equipe.

No  penta, em 2002,  Luiz Felipe Scolari convocou somente quatro atacantes, Ronaldo, Rivaldo, Edilson e Luizão. Podemos até considerar Denilson, integrante do grupo, um meia que, em muitas ocasiões, fazia as vezes de um ponta-esquerda. Ainda assim, seriam cinco atacantes. A Copa do Mundo de 2002, no Japão,  foi a de melhor aproveitamento ofensivo brasileiro dos anos 1990 para ca: em sete jogos, marcou 18 gols, com saldo de 14. Somente Ronaldo fez oito gols e foi o artilheiro naquele ano.

Em 2006, o número se repetiu. A equipe de Carlos Alberto Parreira tinha Ronaldo, Adriano, Fred e Robinho. É verdade que também tinha meias ofensivos, a exemplo de Ronaldinho Gaúcho e Juninho Pernambucano, porém, também nada próximo  à ofensividade da delegação de jogadores que vai ao Qatar.

Nos dois anos em que o Brasil mais fez gols em uma Copa   e que em uma delas   conquistou  o título,  1950 e 1970, os técnicos Flávio Costa e Zagallo levaram, respectivamente, oito e seis atacantes, mais do que a média dos últimos anos. Em 1950, o Brasil fez 22 gols, enquanto em 1970 balançou a rede 19 vezes, levantando a taça. Considerando que a delegação era menor, com 22 jogadores, a proporção de atacantes é parecida com a da equipe de Tite em 2022.

Um fato mudou das últimas Copas para cá. Em vez de 23 convocados, como vinha sendo há décadas, atualmente são 26. Mas o que surpreende é que Tite, historicamente, nos clubes em que passou e na própria Seleção Brasileira, não tinha  uma característica agressiva no ataque. Ele, em geral, prezava mais por um time equilibrado nos três setores. Em 2018, já no comando verde e amarelo, Tite levou cinco atacantes: Douglas Costa, Gabriel Jesus, Neymar, Firmino e Taison. Quase dobrou a aposta em 2022.

Debate internacional

Veículos de diferentes países ressaltaram a ousadia de Tite na seleção dos jogadores. Apesar da polêmica sobre a convocação de Daniel Alves, que ganhou destaque nacional, gerando críticas e  memes, a escolha  de um elenco ofensivo foi o principal enfoque internacional logo depois da coletiva do técnico. O jornalista Eduardo  Rodriguez, do AS, da Espanha, sublinhou a convocação dos atacantes e dos representantes de La Liga.

Ainda na Espanha, o jornal El País ressaltou que Neymar “vai liderar um ataque dos sonhos”. Já o Al Jazeera, do Qatar, foi enfático ao afirmar que o Brasil deverá  ter “brilho” e “pressão” no ataque na Copa.

“Qualquer um que esperava uma Seleção Brasileira sem brilho ficará muito desapontado. O técnico Tite convocou nada menos do que nove atacantes, destacando não apenas sua amplitude de opções na frente, mas também dando uma indicação sobre o tipo de estratégia ofensiva e de alta pressão que podemos esperar da equipe de maior sucesso da Copa do Mundo”, diz matéria da publicação.

Entre as demais seleções que já divulgaram as suas listas, o Japão vai levar apenas três atacantes e a Dinamarca, sete. O Brasil vai com força máxima na frente e com diversas opções de formação. A provável  é Neymar mais centralizado, caindo pela esquerda, Vinicius Júnior  na ponta-esquerda, Richarlison como centroavante e Raphinha como ponta-direita, o que já ocorreu em diversos jogos durante a preparação para o mundial.

Uma coisa tem parecido cada vez mais  certa: o Brasil  vai jogar para frente, fazendo valer a sua força e criatividade, inclusive para retomar símbolos e  ressignificar o  slogan associado a um momento sombrio da nossa história.

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