Poesia e bordado para contar a história de João Cândido, líder da Revolta da Chibata
Baiana, Flávia Bonfim tem sua vida espalhada pelo mundo. Escritora e ilustradora premiada internacionalmente, ela lança neste sábado (26) o livro O Adeus do Marujo, uma coletânea de poemas que narram a vida e obra de João Cândido (1880-1969), líder da Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro, em novembro de 1910. Algumas das ilustrações do livro venceram, em 2021, um prêmio internacional na Coréia do Sul, o Nami Concours, na categoria Green Island.
O lançamento acontece na Biblioteca do Goethe-Institut, na Vitória, a partir das 15h. O evento conta com leitura do livro, contação de histórias e uma oficina.
“Meu primeiro contato com João Cândido foi na escola, quando a gente estuda algumas revoltas como a dos Malês, Sabinada, da Chibata. Me lembro bem de João Cândido, inclusive porque quando eu fiz vestibular, e isso vim me lembrar depois, a pergunta aberta de história foi sobre essas revoltas. E eu fiquei super feliz porque tinha elas na ponta da língua e na ponta da caneta. Isso marcou um momento, mas foi uma coincidência que anos depois viria realizar esse livro”, recorda a autora.
Com 48 páginas, o trabalho resgata a figura do marinheiro negro e pobre, que viajou o mundo antes de comprar briga por mais respeito e melhores condições de trabalho para a categoria. Vale lembrar que eram os primórdios do fim da escravidão, em 1888, e também os anos iniciais da República, proclamada em 1889.
“Há uns cinco ou seis anos, estava na Bahia com Mariana (Warth, editora da Pallas) e ela me desafiou a pensar um livro sobre esse herói. Topei, claro. E fui me aproximando dele de forma visceral. Apesar de ser um personagem de muito destaque na história do nosso país, é recente a importância que estamos dando a ele, em especial”, afirma.
A história de João Cândido é contada por Flávia através de bordados sobrepostos em fotos dos jornais. O próprio nome do livro faz referência a um bordado feito por João Cândido enquanto estava preso na masmorra de Ilha das Cobras. Bordando, ele passava o tempo na cela e ocupava a mente entre os duros dias que viveu ali junto a seus 17 colegas que atuaram na Revolta, que prometeu uma verdadeira revolução no Rio de Janeiro.
“A importância de falar de João Cândido é reconhecer e sublinhar momentos marcantes e recondutores da nossa história. Conhecer e reconhecer também os personagens, as vidas que marcaram essas passagens e entender que tudo o que aconteceu antes é parte do que vivemos hoje”, pontua a autora.
Ela frisa que todas as conquistas vieram de lutas importantes dos nossos antepassados e nossas ancestrais. João Cândido, a Revolta da Chibata e todos os outros marinheiros que estiveram juntos com ele formam um capítulo importante nessa corrente de resistência e nessa linha da história, que encontra em autoras como Flávia Bonfim, tramas sensíveis para serem contadas e eternizadas.