Fortes militares foram aliados das tropas patriotas

Edificações e quartéis eram a base de apoio e impediram o desembarque de soldados portugueses

Por:  Alan Rodrigues

Forte de São Lourenço, Itaparica, ocupou papel importante na guerra pela Independência do Brasil, na Bahia
Forte de São Lourenço, Itaparica, ocupou papel importante na guerra pela Independência do Brasil, na Bahia – 

A conquista da independência do Brasil na Bahia foi, antes de qualquer coisa, a vitória da estratégia sobre um exército mais numeroso e muito mais experiente em guerras. As mobilizações populares, com milícias formadas de homens (e mulheres) do povo, contou com planejamento e uma grande coordenação de forças no sentido de isolar e enfraquecer as tropas portuguesas.

O isolamento ocorreu por terra, no bloqueio do acesso ao Recôncavo, principal fonte de suprimentos, mas também pelo mar. As ilhas da Baía de Todos os Santos foram pontos de resistência e contribuíram decisivamente para a vitória das tropas patriotas.

Pesquisa

A professora da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) e doutoranda em história social na UFBA, Patrícia Verônica Pereira dos Santos, se dedicou a recuperar essa história. Segundo sua pesquisa, a tropa portuguesa comandada pelo general Madeira de Melo tinha a Baía de Todos os Santos como fonte estratégica de alimento, diante do cerco promovido pelo exército libertador.

Das 56 ilhas que compõem a baía, se destacam no bloqueio de acesso aos mantimentos Itaparica, Bom Jesus, Maré, Frades e vilas ou áreas ligadas ao continente e banhados por mar e rio, como Madre de Deus do Boqueirão. Nessas localidades devido à sua condição privilegiada dentro da Baía, um sistema defensivo foi montado, se utilizando de estratégias militares para conter o avanço das tropas portuguesas que promoviam  assaltos em busca de alimento.

“O acirramento das lutas pela Independência da Bahia tornou a Baía de Todos os Santos um campo de batalha e fez com que se construísse um sistema defensivo entre as ilhas, onde previa a construção de um cordão articulado de fortificações que propiciaria proteção às mesmas, permitindo a organização da resistência em caso de ataques, como também a articulação estendida pelo território, buscando o isolamento de Salvador em uma declarada guerra de cerco para que Madeira de Melo não tivesse acesso tanto as Ilhas quanto ao Recôncavo” diz Patrícia em trecho da sua tese de doutorado, ainda inédita.

Ainda de acordo com a pesquisadora, “as fortificações eram os principais elementos do sistema de defesa da Bahia, composto por trincheiras, baluartes e torres que ocupavam lugares estratégicos e ganharam muralhas e canhões proporcionando proteção e resistência em combate contra um adversário superior em número de homens e armas”.

Entre as ofensivas portuguesas contra os fortes da resistência no século XIX , destaca-se o ataque à Ilha de Itaparica, em 8 de janeiro de 1822. Documentação disponibilizada no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), demonstra que as ilhas possuíam trincheiras e quartéis para defesa. “A exemplo da Fortaleza do Pontal da Ilha de Frades que, em 17 de novembro de 1822, solicitou munição para defesa contra os ataques inimigos; ataque das barcas contrárias à Causa do Brasil na Ilha de Santo Antônio da Freguesia de Madre de Deus do Boqueirão; e solicitação de soldados artilheiros e inferior para proteger os Pontos da Ilha de Nossa Senhora de Guadalupe e do Dourado”, detalha Patrícia.

“A estratégia defensiva implantada foi de entrincheiramento, construção de fortins e quartéis, principalmente nas praias, impedindo, assim, o desembarque das tropas portuguesas”. Ao acompanhar o sistema de defesa projetado e a ampliação do poder bélico das ilhas, analisa a pesquisadora, estas se inseriam no sistema das vilas de Santo Amaro, São Francisco do Conde, Nazaré, Jaguaripe, Cairú e Morro de São Paulo. “Essas construções articuladas deveriam apoiar-se entre si e garantir a eficácia da defesa para impedir a marcha do inimigo”.

Após a vitória da tropa patriota, muitas dessas ilhas se tornaram locais de visitação e veraneio, e a vocação turística relegou as fortificações ao abandono. Com o passar do tempo e a perda da função militar as construções se converteram em ruínas e desapareceram definitivamente. “Do período da guerra no século XIX existem hoje o Forte de São Lourenço de Itaparica e a Fortaleza do Morro de São Paulo”, conclui Patrícia.

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