Opinião
Há dois anos, completados ontem, Deus chamou para sua morada eterna o ex-governador Joaquim Francisco, que teve uma importância destacada na minha carreira. Foi ele quem me arrancou de Brasília, já extremamente adaptado ao cerrado e às peculiaridades da corte e do poder, para voltar a Pernambuco.
O ano era 1990, de campanha eleitoral. Eu já estava em Brasília há cinco anos, com passagens em várias redações, como Correio Braziliense, Jornal de Brasília e Globo. Ele me convenceu a coordenar sua campanha para o Governo do Estado, felizmente vitoriosa, num clássico eleitoral contra Jarbas.
Larguei o que mais gosto – a reportagem política e a cobertura das atividades do Congresso Nacional – para enfrentar uma guerra, guerra em todos os sentidos, não apenas política, mas sobretudo na mídia, amplamente favorável a Jarbas, na época o queridinho das esquerdas.
Foi um grande aprendizado. A campanha me colocou diante de um mundo que só conhecia de ouvir falar – as estratégias para se ganhar uma eleição, nas quais vale tudo, inclusive pisar no esgoto da política, mas sem se contaminar. Foi Joaquim quem me obrigou a ler Maquiavel.
Com as lições de ‘O Príncipe’, passei por cima do esgoto e encontrei a tábua da salvação. Comecei a ver as coisas como de fato são e não com a visão de repórter. E isso me trouxe enorme sabedoria e poder de discernimento. Joaquim venceu porque teve a coragem de encarar a realidade, que se apresentava adversa, sem perder a fé e a esperança de que um Pernambuco melhor seria possível.
Antes de mais nada, Joaquim foi um vencedor: prefeito do Recife, ministro de Estado, governador, deputado federal. Com ele, aprendi também que o príncipe deve adotar as qualidades da raposa e do leão para sobreviver por muito tempo na política, uma eternidade.
O leão, como se sabe, tem a força, mas lhe falta a esperteza. Seu poder assusta a todos, mas ele não consegue defender-se das armadilhas. A raposa, por sua vez, é esperta, mas não tem força. Ela tem facilidade de se livrar das armadilhas, mas não consegue defender-se dos lobos.
Pelo preceito de Joaquim, é preciso ter a natureza da raposa para descobrir e defender-se das armadilhas e a do leão, para amedrontar e defender-se dos lobos.
Por: Magno Martins