A balança é um grande adversário do convívio no Brasil, pois prevalece uma falsa proposição de as pessoas serem obrigadas a buscar o peso socialmente aceitável, criando-se, com esta perspectiva canhestra, o preconceito de quilo.

A chamada “gordofobia” é a rejeição ao segmento mais afeiçoado ao paladar ou impactado por alguma enfermidade incurável a ponto de adquirir gordura excessiva. Quando a educação para a ética não dá conta de combinar boas soluções para estas diferenças entre grupos sociais, é a vez de os juristas pensarem em uma legislação visando vigiar e punir os gordofóbicos.

O pressuposto é o da igualdade francesa de 1789, pois todas e todos são “citroyens”, cidadãos, portanto, têm direitos e deveres sem distinção, incluindo a categoria peso-pesado. Criminalizar a discriminação é uma saída emergencial possível, como já perceberam os deputados, embora tenha sido interrompida a tramitação dos projetos de lei.

O mercado tem sido excelente aliado, pois este público consumidor, até então ignorado, vem ganhando espaço na moda e nos anúncios publicitários visando vender produtos e serviços específicos.

Já o discurso médico, conjugando saber e poder, não tem como principal qualidade a empatia, ao favorecer uma falsa ideia de padronização, como vestígio da eugenia, impondo o encaixe de cada faixa etária em um número perfeito.

A perturbação priva do bem da tranquilidade as vítimas de pirraças e chistes pouco espirituosos, como ocorreu em recente audiência de Comissão Parlamentar de Inquérito, quando um parlamentar ironizou uma colega.

O tema, tão contemporâneo quanto relevante, impõe à cidadania uma escolha: ou entendemos ser o país e o mundo habitável por todos quantos sejam seres vivos dotados de vontade, ou estabelecemos dois níveis de humanidade, rebaixando os obesos. Demonizados por falsa percepção de menor capacidade, estes brasileiros merecem tratamento respeitoso, pois não há razões para sofrerem por seu aspecto físico.

Por: A Tarde