Coaf levanta suspeitas de “burla fiscal e lavagem de dinheiro” em doações via Pix a Bolsonaro

CPMI do 8 de janeiro investiga se CPFs falsos foram utilizados para simular doações e se os supostos doadores eram utilizados para disfarçar a possível origem criminosa do dinheiro

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado | Marcello Casal Jr/Agência Brasil | José Cruz/Agência Brasil)

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentos duvidosos relacionados a pequenas contribuições em transações via Pix destinadas a Jair Bolsonaro (PL). Essas transações ocorreram na mesma conta bancária que recebeu mais de R$ 17 milhões, conforme documentos submetidos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de janeiro no Congresso Nacional.

Além das quantias recebidas e dos pagamentos efetuados para familiares, incluindo Michelle Bolsonaro, o relatório do Coaf enfatizou um grupo de 16 indivíduos que realizaram transferências via Pix para Bolsonaro com quantias insignificantes, variando de R$ 0,01 a R$ 2. Essas transferências, consideradas atípicas, serão agora objeto de investigação por parte dos membros da CPMI. A movimentação de fundos na conta pessoal de Bolsonaro, mesmo envolvendo valores mínimos, gerou suspeitas de “burla fiscal e lavagem de dinheiro”, de acordo com o Coaf, a entidade responsável por alertar as autoridades sobre indícios de lavagem de dinheiro.

Os integrantes da CPMI estão buscando averiguar se as doações em centavos foram utilizadas para obscurecer a possível origem ilícita dos recursos obtidos por Bolsonaro somente neste ano. Isso se deve ao fato de que as transferências para Bolsonaro exibem várias características de alerta conforme descritas nos manuais do Coaf para possíveis indícios de lavagem de dinheiro, como pequenas quantias transferidas por pessoas “sem relação aparente com o titular” e movimentações inconsistentes com a renda mensal.

A CPMI está direcionando seus esforços para investigar se CPFs falsos foram empregados para simular doações e se os supostos doadores eram meros “laranjas” utilizados para disfarçar a possível origem criminosa dos recursos. A defesa de Bolsonaro respondeu em comunicado que as doações via Pix são provenientes de milhares de seus apoiadores e têm origem absolutamente legal. A defesa também declarou que tomará medidas legais para investigar a divulgação das informações.

Dentre os doadores de pequenas quantias mencionados no relatório, o Estado de S. Paulo entrevistou indivíduos que afirmam não se recordar das transferências de valores supostamente efetuadas para Bolsonaro, de acordo com os dados fornecidos pelos bancos ao Coaf. Outros alegaram ter transferido valores diferentes dos registrados pelo Coaf. Por exemplo, o eletricista Alirio Tavares Cavalcante, residente em Maracanaú, no Ceará, aparece no relatório como o autor de uma transferência de R$ 0,01 para a conta de Bolsonaro. Ele alegou ter realizado a transferência com a esperança de ser contatado por Bolsonaro. Cavalcante forneceu um comprovante de transferência de R$ 0,07 para Bolsonaro em março deste ano.

Os analistas especializados em lavagem de dinheiro destacaram que as várias transferências via Pix, em situações atípicas e incompatíveis, chamaram a atenção e provavelmente estão relacionadas à campanha de arrecadação promovida por aliados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *