Recuperar a capacidade de investimento e indução de crescimento econômico. Esse é um dos pilares da nova política da Petrobrás e, por consequência, da Transpetro, responsável por toda a logística da petroleira. Sérgio Bacci acaba de completar 100 dias à frente da subsidiária e projeta a retomada do setor.
Vice-presidente do sindicato de armadores, segmento responsável pela construção de embarcações, Bacci sentiu na pele a retração da indústria naval, reflexo do desinvestimento promovido nos últimos anos pelos dirigentes da Petrobrás. Uma gestão que deixou marcas.
“O que a gente encontrou na Transpetro foi uma empresa paralisada, em vias de ser privatizada”, revela o presidente. Segundo ele, não havia projetos e vários serviços tinham sido descontinuados. “Se tivesse prosseguimento do governo anterior, esse seria o ano derradeiro da Transpetro”, enfatiza Bacci.
Com o retorno de Lula (PT) à Presidência, novas diretrizes foram colocadas e a posse do presidente Jean Paul Prates na Petrobrás gerou a expectativa de retomada do ciclo de expansão da estatal, como verificado no início do século. Mas, Bacci adverte, para voltar ao patamar anterior, será preciso um esforço conjunto.
“A Transpetro sozinha não vai atingir os números de antigamente”, avisa o executivo. Ele revela a orientação de Prates para buscar novos negócios. “O presidente Jean Paul (Prates) diz que onde houver negócio tem que ir buscar, seja no Brasil ou fora do Brasil”, diz Bacci.
Apesar do diagnóstico inicial feito pela atual gestão, a Transpetro é superavitária e 80% da sua receita vem da Petrobrás. O desafio é ampliar os contratos com outros clientes. Hoje já são mais de 100. E os planos de expansão da frota visam não só atender a demanda da Petrobrás como aumentar a oferta para novos parceiros.
Dos 57 navios que operavam o transporte de petróleo e derivados em 1997, quando a Transpetro foi criada, hoje há apenas 26. “Perdemos 31 embarcações”, lamenta Sérgio Bacci, ao passo que anuncia planos para a contratação de novos navios a partir do ano que vem.
“Até novembro espero contar com o orçamento para definir os investimentos”, projeta Bacci, que também anuncia concurso, já em setembro, para preenchimento de 400 vagas. A novidade é que os editais serão regionais, a fim de evitar que os aprovados tenham que deixar o local onde vivem.
“Ship to ship”
A empresa também tem buscado inovar na sua operação, com o uso de técnicas avançadas de transporte pelo mar. Com o “ship to ship” (de navio para navio), a Transpetro consegue tranferir cargas sem necessidade de atracação, otimizando a operação nos portos.
A mesma ‘expertise’ é aplicada no “ship to barge” (do navio para a balsa), que tem melhorado a logística de transporte de óleo na região amazônica. Com quase a totalidade dos oleodutos sob sua gestão, a Transpetro consegue cobrir praticamente todo o território nacional, “do Rio Grande (do Sul) ao Coari (AM)”.
“Nós vamos onde o Brasil precisa”, orgulha-se Bacci, que ressalta a importância dos dutos para “retirar” milhares de caminhões das rodovias. A recuperação de toda essa estrutura, além de fornecer as condições para uma operação competitiva e eficiente, tem também outro objetivo. “Vamos deixar uma Transpetro mais sólida e mais robusta para que outros não venham tentar novamente privatizá-la”, diz Bacci.
Função social
Todo o investimento tem o objetivo de reduzir o custo de frete para a Petrobrás e melhorar a rentabilidade da empresa, mas sem abrir mão do papel social da estatal. Na Bahia, em São Francisco do Conde, o projeto “Abraça Caípe” investe no bem-estar da comunidade que vive no entorno do terminal.
Um campo de futebol e uma praça estão em construção, atendendo a pedidos da própria vizinhança. A meta é entregar até 12 de outubro, dia da criança. Além disso, Sérgio Bacci já tem conversas em andamento com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) para participar do investimento no esgotamento sanitário local.