Cansado da exposição por ter um paciente que é investigado por, pelo menos, cinco estupros em Pernambuco e outros estados, e alertado por médicos de que o religioso já estava recuperado e apenas ganhando tempo para evitar retornar à prisão, o provedor chamou o médico Marcos Magalhães para sua sala e deu o ultimato: “Vamos encerrar essa brincadeira de médico e paciente, por favor”, disse.
Narrado com exclusividade em nosso site, o acontecimento foi testemunhado por duas pessoas. O provedor também questionou o período de internação do padre. “Não vai melhorar, não é? Vai ficar residindo no hospital, Padre Airton?”
Com um estilo de comunicação elegante em português, porém simultaneamente rígido e enfático, Ferreira da Costa construiu um império desde sua chegada ao Recife, vindo de Freguesia de São Simão da Junqueira, Conselho da Vila do Conde, em Portugal. Desde 1969, a empresa ergueu 50 edifícios no Grande Recife, incluindo residenciais de alto luxo, empresariais e hotéis.
Na capital pernambucana, Ferreira da Costa foi estivador e teve um armazém, até fundar a Rio Ave. No Hospital Português, ele foi eleito para o cargo de mordomo em 1976 e ascendeu a provedor em 1992, sendo reeleito de forma consecutiva até os dias atuais.
Silêncio
O escândalo dos crimes sexuais envolvendo o padre veio à tona quando a personal stylist Sílvia Tavares fez a primeira denúncia. Posteriormente, a Igreja Católica proibiu o religioso de qualquer atividade. Nesta semana, o padre, com 67 anos de idade, se tornou réu juntamente com outros dois funcionários.
Padre Airton chegou ao Hospital Português em 23 de julho. Uma semana antes, ele havia sido preso preventivamente em Arcoverde, no Sertão pernambucano, onde residia. Transferido para o presídio da cidade, alegou problemas de saúde. O religioso contratou uma equipe de advogados com grande influência no Judiciário e conseguiu o direito de ser internado devido a uma “crise de hipertensão arterial”. Também se mencionou um “princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC)”.
Os dias passaram e a situação judicial do padre Airton deteriorou-se consideravelmente. Primeiramente, a polícia afirmou ter provas contundentes e o indiciou por crimes sexuais. O Ministério Público formalizou a acusação e a Justiça aceitou o pedido, transformando-o em réu. Enquanto isso, o ambiente no Hospital Português tornava-se cada vez mais complicado.
Ele deixou de ser uma “autoridade religiosa” querida e apoiada pela alta sociedade, para se tornar um verdadeiro incômodo. Nos corredores do hospital, a internação do padre é tratada com um “sigilo” quase absoluto. Ninguém deseja comentar ou falar sobre a presença dele no Hospital do Coração.
Isso também porque a unidade sempre contribuiu com a Fundação Terra, assim como outros grandes empresários do Nordeste, que sempre doaram quantias generosas para o projeto criado pelo religioso há quase 40 anos.
Cirurgia
Antes mesmo de se envolver no escândalo dos crimes sexuais, Padre Airton já havia gerado polêmica devido a “problemas de saúde”. Em 2003, ele lançou uma campanha para arrecadar dinheiro, alegando que precisava passar por uma cirurgia cardíaca nos Estados Unidos. Com o dinheiro em mãos, viajou para fora do Brasil, mas jamais passou pelo procedimento cirúrgico. Pouco tempo depois, chegou a afirmar que estava “curado”. O dilema é que até o momento, ninguém viu onde foram parar os recursos doados.