De O GLOBO
Uma mensagem encontrada no telefone celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), mostra um assessor e advogado ofendendo outro advogado do ex-presidente. No texto, Fabio Wajngarten diz que Frederick Wassef é “burro demais, contaminado” durante uma conversa sobre a tentativa de reaver joias dadas ao mandatário em viagens oficias e revendidas a uma loja no exterior.
De acordo com as investigações da PF, em 15 de março de 2023, Cid e Wajngarten falavam sobre a possibilidade de cassação da decisão do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), que determinava a devolução das joias ao Estado brasileiro.
No despacho do TCU, Bolsonaro era colocado como fiel depositário dos presentes dados pelo governo árabe e entregue ao então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, se abstendo de usar, dispor ou alienar qualquer peça oriunda do acervo objeto do processo.
Na conversa, Mauro Cid diz: “Parece que vão cassar a decisão do Augusto Nardi (sic)” e Fabio Wajngarten responde: “Vão mesmo. Por isso era muito melhor a gente se antecipar”. Em seguida, demonstrando contrariedade, diz: “Mas o gênio do Câmara + Fred contaminam tudo”, se referindo, possivelmente, aos assessores Marcelo Câmara e o advogado Frederick Wassef.
Cid então diz: “tb acho… me disseram que vc iria…”. Já Wajngarten responde: “Era de longe o mais acertado”. O ex-ajudante de ordens então, apesar de saber que Wassef já estava nos Estados Unidos para trazer as joias, disse: “mas Crivelatti falou que vc iria. Liga para o Pr”, se referindo a Bolsonaro.
Wajngarten escreve: “Burro demais. Contaminado” e Cid insiste: Fala direto com o Pr”.
Em nota, Wajngarten aponta que quando afirmou que era necessário antecipar a entrega dos objetos, está se referindo a uma “remessa antecipada à Corte, antes de um pedido formal do TCU, que aliás acabou ocorrendo. Reitero: sugeri antecipar e entregar ao tribunal. Só isso”, escreveu. “Qualquer outra interpretação está eivada de má vontade ou de uma frustrada tentativa de envolver meu nome em ações que desconhecia”.
Na manhã desta sexta-feira (11), foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão – dois em Brasília, um em São Paulo e um em Niterói, deferidos pelo pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em decorrência desse inquérito.
Segundo a PF, além de Wassef, foram alvos das medidas o pai de Cid, o general do Exército Mauro César Lourena Cid, e o assessor de Bolsonaro e tenente do Exército Osmar Crivelatti. Todos são suspeitos dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
“Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior”, informou a corporação.
O inquérito apontou que os valores obtidos das vendas desses objetos teriam sido convertidos em dinheiro vivo e “ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”.