‘Apoio ao PL da Globo é uma vergonha para um governo que defendia a democratização da comunicação’, diz Paulo Moreira Leite
“Lula sentiu na pele o peso da mentira nos meios de comunicação”, disse o jornalista ao criticar o texto que transfere recursos da publicidade digital para a mídia corporativa
Diante da informação de que a Câmara dos Deputados se prepara para votar nesta semana um projeto de lei desenhado para fortalecer economicamente a Rede Globo e outros grupos de comunicação, que perderam relevância e influência diante da ascensão da internet nos últimos anos, o jornalista Paulo Moreira Leite reagiu com indignação ao apoio de setores do governo Lula (PT) ao projeto que visa fortalecer a imprensa corporativa e penalizar a mídia independente. O texto – desenhado pela Associação Brasileira das Empresas de Radiodifusão, controlada pela Globo – tem por objetivo estabelecer o pagamento de direitos autorais e remuneração a veículos de imprensa e artistas pela reprodução de conteúdos em ambiente digital, incluindo nas redes sociais. Na prática, a lei, se aprovada, vai capturar recursos da publicidade digital para os grandes grupos de comunicação.
“Esse projeto é uma vergonha para um governo que se disse na campanha a favor da democratização dos meios de comunicação. E quem disso isso não fui eu, foi o presidente Lula”, disparou o jornalista, lembrando que Lula “sentiu na própria pele e na própria história como é que ele foi colocado na prisão e o que a mídia escrevia antes de ele ser preso, depois que ele foi preso e enquanto ele ficou preso”. “Todos nós que fomos a São Bernardo para que ele não fosse preso naquele dia triste e doloroso nos lembramos disso, do papel da mídia naquele momento. Era o papel da mentira, de tentar desmoralizar, de falsificar as conquistas, esconder as conquistas sociais; enfim, de promover o retorno ao fascismo. E vamos combinar, gente. Esse retorno ocorreu. O Lula foi retirado da campanha, foi levado para Curitiba e o Bolsonaro conseguiu derrotar o candidato do PT Fernando Haddad”.
Diante deste retrospecto é que se torna inadmissível, de acordo com Paulo Moreira Leite, o apoio à volta da “ditadura da opinião no Brasil”. “Não surpreende nem um pouco que de repente ‘caia do céu’ um novo projeto para transformar a mídia em um exercício de mercado, tirar das redes sociais aquelas forças independentes que suaram para conquistar um lugar, que conseguem honradamente não fazer um jornalismo de altos negócios, uma operação milionária; mas fazer jornalismo das notícias, de opinião livre. E pela primeira vez aquelas forças identificadas com o interesse do povo, dos trabalhadores, também estão representadas. É isso que as redes sociais representam. E é por isso que se tem projeto cuja única finalidade é calar a voz daqueles que nunca puderam ter voz e que agora estão conseguindo falar, ter alguma influência”, resumiu.