Postos básicos da rede municipal de saúde tiveram consultas e procedimentos remarcados . Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO
Em Salvador, o apagão que acometeu a cidade na manhã desta terça-feira (15) não apenas afetou o trânsito e o comércio, como também comprometeu os serviços essenciais para o cidadão. Por aproximadamente três horas, os soteropolitanos ficaram sem conseguir fazer ligações para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU). De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mesmo dispondo de gerador e sistema em pleno funcionamento, as operadoras de telefonia não completavam as chamadas para a emergência, motivo pelo qual tiveram de ser redirecionadas para o 190.
Nas primeiras horas da manhã, pontos focais da SMS deram início ao monitoramento presencial da rede composta por 17 unidades de urgência e emergência, bem como foram acionados todos os geradores desses equipamentos assistenciais. Durante a intercorrência, 1.043 pacientes foram acolhidos pela classificação de risco dessas unidades e 74 assistidos nas salas vermelhas, sendo 10 em ventilação mecânica.
O Hospital Municipal de Salvador funcionou normalmente. Na rede ambulatorial, composta por postos básicos e multicentros, os pacientes tiveram suas consultas e procedimentos remarcados. Na Unidade de Saúde da Família Lealdina Barros, situada no Vale do Muriçoca, na Federação, não houve energia para o funcionamento dos equipamentos do sistema, o que impediu a realização de consultas e exames.
“Sem internet, não funcionou nenhum setor. A vacina e o curativo foram suspensos, porque tudo é lançado no sistema, então ficou tudo parado. Alguns pacientes ficaram aguardando, mas a única parte que funcionou foi o laboratório, porque os nomes dos pacientes já haviam sido lançados na máquina. Cerca de 35 pessoas tiveram consultas marcadas ou canceladas”, conta Maria Santos, funcionária da unidade de saúde.
Moradora do bairro do Nordeste, a dona de casa Edelzuita Batista, 67, foi uma das pessoas que tiveram uma consulta marcada com o médico clínico da USF do bairro e precisou remarcar por conta da falta de energia. “Eu fiquei muito chateada por conta desse apagão, porque eu queria passar pela consulta. Eu vou ter que viajar essa semana e o médico só atende uma vez. Meu atendimento agora é para a próxima terça-feira”, lamentou.
Na rede estadual de saúde, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), os hospitais tiveram o funcionamento dos serviços essenciais – como equipamentos das UTIs e dos centros cirúrgicos – garantido em virtude do uso de geradores.
Escolas
Das 422 unidades de ensino municipais de Salvador, aproximadamente 18% (cerca 76 unidades de ensino) tiveram que suspender as aulas na manhã desta terça-feira. No turno da tarde, esse percentual foi de 33% (cerca de 140 unidades). No total, aproximadamente 19,5 mil alunos ficaram sem aula, o que representa 13% do total de alunos matriculados na Rede Municipal de Salvador, que conta com cerca de 150 mil estudantes. Os dados são da Secretaria Municipal da Educação (Smed).
Já na rede estadual de ensino, o funcionamento das escolas foi mantido pela manhã, com algumas restrições impostas pela falta de energia, como a impossibilidade de uso de equipamentos eletroeletrônicos – como ventiladores e ar-condicionados. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, as aulas estavam previstas para acontecer normalmente nos turnos vespertino e noturno.
Nas escolas particulares, o funcionamento dependeu exclusivamente do uso de geradores. O Colégio Antônio Vieira, no Garcia, o Colégio Integral, na Pituba, e o Villa Global Education, na Paralela, mantiveram as aulas. Já a unidade da Escola Sesi, em Piatã, suspendeu as atividades apenas pela manhã e manteve o funcionamento normal pela tarde.
“Pela manhã as aulas foram suspensas na metade da aula. Pela tarde, de 43 alunos, só 28 vieram na minha sala. Soube que foi a escola toda nessa faixa”, conta a estudante Cecília Almeida, de 15 anos.
Outros serviços
Durante o apagão, as unidades do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) localizadas em postos de shoppings, que abrem às 9h, ficaram fechadas até o restabelecimento da energia elétrica. As unidades dos bairros de Salvador, que abrem às 7h, não fecharam. O funcionamento foi restabelecido por volta das 11h30. A estimativa é de que cerca de 75% do público previsto para atendimento no turno da manhã tenha sido afetado. Sem remarcação, os cidadãos foram orientados a realizar novos agendamentos.
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também acabou não realizando atendimentos pela manhã em função da falta de energia elétrica. A autarquia orienta os segurados a não remarcarem o atendimento agendado e aguardar um novo agendamento do INSS.
No Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), o apagão afetou o funcionamento do Núcleo Virtual de Atendimento ao Eleitor (Nave) e da Central de Atendimento ao Público (CAP). Os serviços foram restabelecidos por volta das 11h.
Já os bancos Itaú e Banco do Brasil informaram à reportagem que não registraram interrupção de funcionamento em suas agências. Por sua vez, o Bradesco teve falta de energia e disse que todas as agências restabeleceram o atendimento em horários diferentes em Salvador. A CAIXA e o Santander também foram procurados, mas não responderam à solicitação feita pelo CORREIO.
Torneira seca e reserva de gás
A falta de energia elétrica ainda provocou a interrupção dos sistemas de abastecimento de água em Salvador, que só começaram a ser restabelecidos na tarde desta terça-feira. Conforme a Embasa, o período de interrupção dos sistemas afetou o nível dos reservatórios e o volume de água disponível para abastecer a população de Salvador e Região Metropolitana (Lauro de Freitas, Candeias, Simões Filho, São Francisco do Conde e Madre de Deus).
Em Mussurunga, a aposentada Maria das Graças Pereira, 67, ficou impedida de realizar suas tarefas domésticas. “Foi horrível. Não lavei roupa, não tratei carne e não lavei prato. Foi um transtorno e eu nem sabia o motivo da falta de água. Eu supus que tivesse sido pela falta de energia”, relata, chateada.
A expectativa é de que nas próximas 48 horas o fornecimento de água esteja regularizado em Salvador e demais municípios afetados. A Embasa recomenda que, neste momento de contingência, as pessoas utilizem água da forma mais econômica possível, evitando usos que possam ser adiados.
Com todo o caos instalado por conta do apagão, muitos soteropolitanos também não puderam comprar gás a tempo de fazer o almoço por falta de internet e sinal para fazer ligações. Pelo WhatsApp Ultragaz, o serviço de entrega de botijões estava indisponível no Cabula e na Federação, só havendo data disponível a partir desta quarta-feira (16). A distribuidora, por meio de nota, negou dificuldade na obtenção do serviço e ressaltou que sua operação não foi afetada e permaneceu normal nesta terça-feira.
No Calabar, no período da tarde, quando a energia já havia sido restabelecida, moradores da região compraram botijões reservas porque o preço estava em conta graças a grande demanda. “Comprei um [botijão] e eu nem precisava, mas estava por R$85. Eu já deixei preso ali na calçada. Não podia perder”, disse um morador.