‘Se fosse até a noite, os ladrões fariam a festa’, diz moradora sobre apagão

Cidades do interior, como Feira de Santana e Vitória da Conquista, enfrentaram até 5h sem energia elétrica

Emilly Oliveira

Agente ajuda no trânsito sem semáforos. Crédito: Paulo José/ Acorda Cidade

Os 415 municípios baianos da área de concessão da Neoenergia Coelba foram afetados pelo apagão que atingiu o país nesta terça-feira (15). Em Feira de Santana e Vitória da Conquitsa – as duas maiores cidades do interior -, os moradores passaram pouco mais de 5h no escuro. O apagão que começou às 8h30 em todo o estado, seguiu até as 14h07 na ‘Suíça Baiana’ e até as 13h58 na ‘Princesa do Sertão’.

O problema também afetou o sinal de Internet. Além de acordar sem energia e sem comunicação, a aposentada e moradora do bairro do Tomba, em Feira de Santana, Raimunda Santos, de 46 anos, passou a manhã sem água, porque o abastecimento na residência dela depende do auxílio de uma bomba elétrica.

“Já acordei sem luz, dando falta do ventilador. Cheguei a pensar que a minha energia e água tivessem sido cortadas. Quando abri a porta para ver a situação no resto da rua, me deparei com um caos. Os semáforos parados, uma agonia de carro e gente atravessando as ruas sem ordem. Foi difícil. Se ficássemos na mesma situação até a noite, os ladrões fariam a festa”, contou a Raimunda.

A falta de luz também interrompeu o transporte público e por aplicativo de Feira de Santana. Com isso, os mototaxistas dobraram os preços da corrida. Segundo a estudante de Psicologia Maiara Kelly Conceição, 20, às 10h os coletivos não estavam circulando na cidade. Sem opções para voltar para casa, a feirense teve que pagar R$ 10 acima do valor que pagaria em um dia normal.

“Era isso ou mofar aqui, sem previsão de volta”, lamentou Maiara. De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito de Feira de Santana (SMTT), no entanto, o transporte funcionou normalmente e a integração e o BRT também não foram afetados.

Posto fechado em Feira de Santana. Crédito: Paulo José/ Acorda Cidade

O comércio não teve a mesma sorte. Os comerciantes que mantiveram as portas abertas não conseguiram aceitar pagamento em cartão e registrar as vendas de maneira eletrônica. Os bancos e casas lotéricas ficaram fechados, assim como os postos de gasolina. O motoboy Cesar Conceição, 31, deixou de trabalhar porque não conseguiu abastecer a moto. “A moto estava na reserva porque abasteço quando saio para trabalhar. Perder a manhã de trabalho é um prejuízo grande”, afirmou.

Feriado no escuro

Parte do transtorno esperado durante um apagão foi amenizado em Vitória da Conquista pelo feriado municipal em celebração à padroeira da cidade, Nossa Senhora das Vitórias, celebrado ontem (15). Ainda assim, a suspensão dos poucos serviços que a população esperava que funcionassem no dia de folga foi suficiente para complicar o dia.

Os postos de combustíveis e shoppings ficaram fechados. Os hipermercados abriram, mas a quantidade de clientes foi pequena. O estudante de Comunicação Pedro Antunes, 20, precisou fazer a sessão de terapia no escuro, depois de subir alguns lances de escada até o consultório de um centro médico da cidade, que não tinha gerador. Ainda segundo ele, o trânsito ficou caótico com os semáforos sem funcionar.

“Eu tive terapia às 10h, mas o centro médico estava completamente apagado. Consegui subir pelas escadas e a consulta aconteceu. Um ponto que percebemos foi os dois shoppings que a cidade possui estarem completamente fechados. Nos surpreendeu o fato de eles não terem geradores de energia ou coisa do tipo”, disse Pedro.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Vitória da Conquista, mas não houve retorno no feriado.

CadÚnico

Em Jequié, a falta de luz interrompeu os atendimentos públicos nos setores que dependiam do acesso à internet, como na sede do CadÚnico/ Bolsa Família, no Departamento de Tributos. Os semáforos, na maioria, seguiram funcionando normalmente, por conta da bateria, mas na Praça da Bandeira, os equipamentos pararam e agentes da Superintendência Municipal de Trânsito (SUMTRAN) tiveram que ir ao local.

“As obras públicas não pararam porque as equipes já estavam em seus postos quando faltou energia elétrica, e os veículos como caminhões, tratores e caçambas já estavam abastecidos, mas os serviços de postos de gasolina ficaram sem funcionar, na grande maioria dos estabelecimentos da cidade”, diz a nota da prefeitura.

Os serviços de Saúde da rede municipal seguiram o mesmo padrão de atendimento dos demais órgãos públicos, funcionando os setores que não necessitavam de energia elétrica. Não há, até o momento, registros de perdas de medicamentos ou de imunizantes da rede na Secretaria Municipal de Saúde.

Já em Amargosa, a falta de internet impactou nos serviços públicos. As pastas que cuidam de finanças, por exemplo, tiveram que interromper as atividades. Em Cachoeira, no Recôncavo, a dona de casa Maria Aparecida Nascimento, 55 anos, contou que o sistema foi restabelecido por volta das 12h. Ela ficou preocupada que queimassem os aparelhos e retirou todos da tomada, mas não houve prejuízo.

“Eu estava na cozinha, usando o liquidificador, quando a luz foi embora. A televisão também desligou. Pensei que seria algo rápido, porque há alguns dias a gente também teve uma queda de luz. Depois, o vizinho disse que tinha sido um problema no Brasil todo”, contou.

As cidades de Jandaíra e Rio Real são os únicos municípios baianos que não são atendidos pela Neoenergia Coelba. A responsável pela distribuição nas duas cidades é a Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (Sulgipe). O CORREIO procurou a empresa para saber se o abastecimento também foi interrompido, mas não obteve retorno.

Contenção

Segundo a Prefeitura de Feira de Santana, o município adotou uma série de medidas para reduzir o caos. O atendimento nas UPAs e policlínicas foi mantido e não houve nenhum impacto para os pacientes que já se encontravam nas respectivas unidades. Já nas Unidades de Saúde da Família que não possuem câmara fria, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) montou uma logística para recolher os imunizantes visando evitar a perda.

O Hospital Inácia Pinto dos Santos – o Hospital da Mulher -, manteve o atendimento normalmente tanto no ambulatório, como na emergência. O apagão só afetou a parte administrativa, que é o único setor que não possui gerador. Devido à pane no sistema de telefonia de um modo geral, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficou impossibilitado de receber chamadas durante a manhã.

No entanto, as equipes permaneceram de plantão e atuaram em ocorrências. O atendimento telefônico foi restabelecido à tarde através do número 192. Nas escolas municipais, as aulas foram mantidas normalmente, mesmo durante o apagão, conforme a Secretaria Municipal de Educação.

A União dos Municípios da Bahia (UPB) foi procurada para informar qual o posicionamento da entidade sobre o apagão, mas não retornou até a publicação desta matéria.

Primeiras cidades a terem o abastecimento restabelecido

9h03

Formosa do Rio Preto

Luís Eduardo Magalhães

Olindina

13h21

Salvador

Últimas cidades a terem o abastecimento restabelecido

13h58

Feira de Santana

14h07

Vitória da Conquista

Poções

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