Apesar de, à primeira vista, ser um local comum no interior da comunidade Cavalo do Aço, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio, a casa foi cenário de brutalidade e tortura que duraram 10 horas e acabaram com a morte da professora Vitória Romana Graça, de 26 anos, na última sexta-feira.
Por dentro, o imóvel não remete à sensação tranquila expressa no exterior. Com paredes azuis manchadas e descascadas por possíveis infiltrações, os cômodos da casa são bagunçados.
No quarto onde o crime foi cometido, um estrado e um colchão apoiados na parede servem como suporte para dezenas de roupas empilhadas. Logo em frente, uma cadeira vermelha de plástico — na qual Vitória teria sido amarrada — acomoda uma mochila cinza e mais uma quantidade de roupas semidobradas.
Um armário preto e branco — que fica no mesmo cômodo — já está desgastado. Duas de suas gavetas inferiores estão quebradas, e objetos como secador, sacolas e caixas se apoiam na madeira que encosta no chão. Na lateral do móvel, uma foto de Paula está cortada e colada, assim como uma imagem da menina quando mais nova e de dois de seus irmãos. Na parte superior do móvel, caixas de papelão, pastas e sacolas foram deixadas desordenadamente.
Foi nesse cenário que Vitória foi mantida e torturada. Por volta das 21h do dia 10 de agosto, a professora chegou ao local para uma conversa sobre o término de seu relacionamento com a adolescente, de 14 anos, filha de Paula. Logo que chegou, foi imobilizada pelo trio, segundo depoimento de Edson Alves Viana Junior, tio da jovem e irmão de Paula, à polícia. Extorquida ao longo da madrugada, Vitória foi estrangulada com uma corda pouco depois das 5h do dia seguinte.
Para testar se a vítima estava mesmo inconsciente, Paula ainda teria jogado álcool nos olhos da professora para confirmar se haveria algum tipo de reflexo. Após a verificação, mãe, filha e irmão colocaram a mulher dentro de uma mala de viagem para “desovar” o corpo.
Depois, no carro da própria vítima, se dirigiram até um local ermo, e retiraram a mala do veículo, despejaram gasolina no corpo e atearam fogo, conforme aponta Edson em depoimento. No pescoço da professora, foi deixada a corda usada para o enforcamento. Dessa forma, o material usado no crime também foi queimado. Segundo o laudo do Instituto Médico-Legal (IML), Vitória ainda estava viva quando foi queimada, já que a causa da morte foi inspiração de fumaça e carbonização.
Os dois adultos foram presos e a jovem apreendida após o assassinato da vítima. Paula é mantida presa no Instituto Penal Santo Expedito, em Bangu. Ela está em cela coletiva por escolha própria, não teve visita e, segundo informações obtidas pelo Globo, “se comporta bem”.
O Departamento Geral de Ações Sócio Educativas (Degase) informou que a adolescente se encontra na unidade feminina de internação/internação provisória no Centro de Socioeducação Professor Antonio Carlos Gomes da Costa. Ela passou por atendimento com a equipe técnica, incluindo assistência psicológica.
A audiência de custódia de Edson, preso na quarta-feira, está prevista para este sábado, de acordo com o Tribunal de Justiça. O suspeito foi levado ontem para a Cadeia Pública José Frederico Marques.