Por André Beltrão — Uma verdadeira bomba relógio. É como está sendo chamado o projeto de lei que prevê a criação do Bolsa-Família de Goiana, que começou a tramitar na Câmara de Vereadores da cidade, na Zona da Mata Norte. Nas rodas políticas locais, comenta-se que a proposta para dar dinheiro para complementar a renda de pessoas carentes é “cara”, porém “interessante”.
No entanto, ela não seria apenas um plano assistencial, mas parte de um jogo que antecipará a disputa eleitoral de 2024, que tem tudo para ser bastante complicada. Tem sido dito, nos quatro cantos, que a briga entre o prefeito Eduardo Honório (União Brasil) e o próprio vice dele, Fernando Veloso (Cidadania), está por trás disso tudo. E tem mais: parece que a chance de aprovação é quase zero.
Dizem nos bastidores que, em uma ação clara de “fogo amigo”, o vice-prefeito Fernando Veloso entrou de cabeça na história do Bolsa-Família de Goiana como uma forma de consolidar o seu capital político e se colocar na disputa pela cadeira de prefeito, ocupada, atualmente, por Honório, com quem se desentendeu logo no primeiro ano de gestão.
De iniciativa popular, o projeto é o primeiro na história da cidade a ser colocado no papel, a partir das propostas dos cidadãos, e a chegar a comissões e a ter chance de ir ao Plenário da Câmara.
Foi Veloso que recolheu as assinaturas da população e levou o projeto para dentro da Câmara. Nas redes sociais e em eventos dos quais participa em Goiana, o vice propaga a importância de repassar em média R$ 1.200 para cada família em dificuldade financeira. ‘É uma necessidade e não tem desculpa. Tem que aprovar e aprovar, de todo o jeito”, declarou o vice-prefeito, em um vídeo postados nas redes sociais.
É preciso explicar que o Bolsa-Família de Goiana prevê um gasto de R$ 8,6 milhões por mês. Desse total, mais da metade iria para o complemento do programa federal. Além disso, haveria recursos para assegurar renda para 550 feirantes cadastrados, 650 vítimas de enchentes de 2022, 700 mototaxistas, além de 150 pessoas ligadas aos movimentos culturais. A meta é beneficiar, ao todo, 50 mil pessoas.
Para quem não sabe, Goiana está no topo do ranking estadual de economia, ficando entre a quarta e a quinta colocações na arrecadação.
Na Câmara Municipal, o projeto está tramitando desde o início desta semana. O texto já foi lido e será entregue aos vereadores responsáveis pela relatoria. Como mexe com uma possível distribuição de dinheiro para pessoas carentes, a proposta esquenta os debates. Em um vídeo postado nas redes sociais, o vereador Mário do Peixe (PL) disse que não tinha tomado uma decisão antes, mas que, “agora”, seria favorável ao projeto.
Presidente da Comissão de Finanças, ele disse que dará o aval para o plano chegar ao Plenário. “Quando vejo necessidade de fazer crítica, eu falo. Mas quando for para elogiar, vou fazer na mesma proporção, disse.
A Câmara Municipal de Goiana tem 15 parlamentares, sendo 14 da base do prefeito e apenas um, na oposição. Aí, a pessoa pode perguntar: como um projeto defendido pelo vice-prefeito pode naufragar em uma câmara que tem só um opositor?
Esse é o retrato da política de Goiana. Em entrevista ao Blog Ricardo Antunes, o vereador Renato Sandré (Cidadania), o único representante da bancada de adversários de Eduardo Honório, acredita que a administração atual vai usar a força para impedir a aprovação do projeto. “Acho que não vai passar”, declarou.
O parlamentar, que é do mesmo partido do vice, aponta os motivos do possível fracasso. “O Bolsa-Família de Goiana fortalece o projeto de Fernando Veloso, que é candidato contra o grupo do prefeito, que ainda não lançou ninguém”, acrescentou.
Uma coisa é certa, o Bolsa-Família vai virar rastilho de pólvora para sucessão municipal em Goiana.