No último sábado, o ator Victor Meyniel viveu um pesadelo ao ser espancado na portaria de um prédio em Copacabana. As agressões foram registradas pelas câmeras de segurança, que mostram o artista no chão enquanto um homem desfere socos. O agressor, Yuri de Moura Alexandre, foi preso em flagrante. Nesta segunda-feira, em audiência de custódia, sua prisão foi convertida em preventiva.
O artista teria conhecido o agressor horas antes da agressão na boate Substantion Clube, antiga Fosfobox, também em Copacabana. Dali, os dois foram para o apartamento de Yuri, que se identificou como médico da Aeronáutica, o que foi negado pela força militar. Por conta disso, Yuri foi autuado pelos crimes de lesão corporal, injúria por preconceito e falsidade ideológica. Um boletim de ocorrência também foi aberto por conta da conduta do porteiro, Gilmar José Agostini. Ele foi autuado por omissão de socorro. Em depoimento na 12ª DP (Copacabana), o porteiro disse que “após alguns minutos, resolveu prestar socorro a Victor e interfonou ao sindico para relatar o ocorrido”, e que este teria chamado a polícia — segundo Victor, foi ele mesmo quem pediu ajuda. E finalizou afirmando que “não gosta de se meter na vida dos outros nem dos vizinhos”.
“A arte realmente imita a vida. Aqueles que acompanham minha trajetória como ator acreditam que aprendi isso nos palcos. Mas, não é bem assim. Só pude compreender de fato o significado desta frase no último sábado, quando fui agredido covardemente por alguém que acreditei estar interessado em me conhecer melhor.
Para quem ainda não me conhece, meu nome é Victor Meyniel, tenho 26 anos, completados no último domingo. Sou ator, youtuber, influenciador, com mais de um milhão de seguidores nas redes sociais, e um corpo LGBTQIA+. No último sábado, por volta das 4h30, estava em uma balada em Copacabana acompanhado de meus amigos. Enquanto dançava na área externa da boate, vi um rapaz se aproximando da entrada de chinelo e com um copo de gim na mão. Ele tentava entrar na balada. Na hora, imaginei que morasse perto, já que estava vestido como alguém que acabou de sair de casa. Nos aproximamos e começamos a conversar.
O garoto demonstrou que estava interessado em mim. Disse que se chamava Yuri Alexandre e que o apartamento dele ficava bem próximo de onde estávamos. Além disso, se apresentou como médico e afirmou dividir o apartamento com uma amiga, que também era médica e estava de plantão naquele dia. Então fui. Atravessamos a rua, subimos o elevador e ficamos sentados no sofá conversando por horas. Tudo que rolou entre a gente foram alguns beijos. Bebemos vinho e conversamos sobre a vida um do outro. Quando estava amanhecendo, por volta de 6h, a amiga que ele tanto comentou chegou no apartamento. O clima na hora ficou um pouco estranho. Não sei o que rolava entre eles, mas dava para perceber que a situação era desconfortável.
Fiquei bastante incomodado com o que estava acontecendo, já que imaginei que a minha presença no apartamento pudesse criar um mal-entendido. Naquele momento não pensei duas vezes, fui em direção a ela para explicar o que ela estava vendo, que não era nada demais. Quando comentei que estava ali a convite de Yuri e que ficamos, ele se revoltou. Ficou agressivo e me xingava a todo instante. Não entendi a atitude dele comigo — há alguns segundos, ele estava um amor de pessoas. Será que era algum transtorno de personalidade? Ou ele não era seguro da própria sexualidade? Não importa. Nada justifica uma agressão. Ele me jogou para fora do apartamento com muita violência. Caí no chão, em frente à porta, descalço. Pedi que ele devolvesse meus sapatos para que pudesse ir embora. Ouvi a menina dizer: “calma, não é para tanto”. Nessa hora, ainda com raiva, Yuri jogou os sapatos em cima de mim. Desci o elevador até a portaria. Estava com muito medo, àquela altura já não entendia o que estava acontecendo.
Ele pegou o segundo elevador e me seguiu. Na portaria, também tomado pela raiva, perguntei por que ele estava me tratando daquele jeito. “O que fiz para você ficar com raiva de mim do nada?”, indaguei. Nessa hora, o porteiro, que estava sentado próximo ao portão de saída, escutou tudo. Isso o deixou ainda mais furioso. Foram cerca de dez minutos de agressão. Yuri me jogou no chão e me deu diversos socos no rosto e nos braços. Eu gritava por socorro, mas não tinha ninguém para me ajudar.
O porteiro ficou olhando Yuri me espancar e não ajudou. Ele até abriu o portão para ele passar e ir à academia. Sozinho, tentei me levantar e chamar a polícia. Até perguntei por que o porteiro não quis me ajudar. Enquanto estava caído, quase desacordado, o porteiro segurou a minha mão e me arrastou porque eu estava atrapalhando a passagem. Não queria que ele fosse um herói, apenas que tivesse sido humano. No lugar dele, se tivesse visto alguém sendo agredido, teria ajudado. Isso é uma questão de empatia. Meu rosto doí, minha mandíbula doí. A alma por si só está dolorida. Yuri passou cerca de 40 minutos na academia após me agredir e voltou para casa como se nada tivesse acontecido. A polícia estava no local e o parou. Tudo que quero é justiça.
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Minha sexualidade nunca foi um problema para mim, pelo contrário. Não existe a cara de homofóbico ou cara de preconceituoso. Existe o ser. A pessoa é aquilo. Assim como sou quem escolhi ser e com muito orgulho. Comemorei meu aniversário com alguns amigos próximos e meus pais, que me amam muito. É como se eu tivesse nascido de novo. Sairei dessa situação mais forte e fazer desses limões, uma limonada.
Comecei minha vida artística aos 14 anos com o espetáculo “Berro”, no Teatro Leblon, na Zona Sul do Rio. Muito antes disso, já caminhava pelo internet criando conteúdo. Foi assim que me tornei conhecido. O espetáculo, que ficou em cartaz por dois anos (2015 a 2017), fala das minhas confidências, aventuras e desventuras vividas ao longo de uma jornada de muita luta. Lembro como se fosse hoje que, em alguns lugares, os críticos descreviam a peça como “a vida de um jovem guerreiro que veio se tornar um dos maiores fenômenos da internet no Brasil”.
De fato, abri meu coração e minha sexualidade para milhares de pessoas que me seguem até hoje. Só no Tiktok são mais de um milhão e trezentos mil inscritos, sem contar nas outras redes sociais. Mais uma vez venho abrir uma parte de mim e falar de uma trauma que carregarei por toda vida. Mas espero que o que aconteceu comigo não venha acontecer com outras pessoas. O melhor presente que pude receber foi carinho, amor e compreensão como nunca tive antes. Depois dessa situação, pude perceber o quanto sou amado.