Delação de Mauro Cid pode anular acordo e levar mais militares à CPMI do 8 de janeiro

Governo, Exército e CPMI tinham concordado em somente convocar Braga Netto a depor, mas a revelação de Cid sobre uma reunião golpista de militares com Bolsonaro pode mudar o acordo

Mauro Cid, Arthur Maia e Eliziane Gama
Mauro Cid, Arthur Maia e Eliziane Gama (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
A divulgação de um trecho da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), que revelou sua participação em uma reunião entre o ex-mandatário e altos comandantes militares para discutir a possibilidade de um golpe de estado, pode resultar no fim de um acordo e na ampliação das testemunhas ouvidas pela CPMI do 8 de janeiro, informa Malu Gaspar, do jornal O Globo. Inicialmente, os parlamentares planejavam interrogar apenas o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022, como parte de um acordo que envolveu o governo Lula (PT) e o Comando do Exército após apelos do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e do comandante do Exército, Tomás Paiva. O acordo visava evitar mais desgastes na relação com as Forças Armadas.No entanto, após as revelações de Mauro Cid sobre a reunião de Bolsonaro com os comandantes militares e suas propostas de golpe, os membros da CPMI agora desejam ouvir pelo menos o almirante Garnier, ex-chefe da Marinha, que, segundo Cid, teria apoiado a iniciativa golpista de Bolsonaro.

Para cumprir com o combinado mas também evitar a impressão de condescendência com os militares, a CPMI tinha optado por focar apenas em um alvo militar, escolhendo Braga Netto para depor devido à sua estreita ligação com a administração bolsonarista. Os depoimentos de outros generais, como Paulo Sérgio Nogueira e Augusto Heleno, estavam sendo deixados de lado, mas a delação de Cid agora ameaça desfazer o acordo costurado pelo ministro da Defesa.

A CPMI do 8 de Janeiro planeja encerrar suas atividades em meados de outubro e pretende indiciar Bolsonaro por quatro crimes cometidos durante seu mandato: golpe de estado, escuta telefônica ilegal, incitação ao crime e autoacusação falsa. Tanto aliados quanto adversários de Bolsonaro acreditam que o relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) associará os ataques de Bolsonaro à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas aos atos de vandalismo que culminaram na invasão e depredação do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 de janeiro.

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